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Com disputa comercial entre EUA e China, FMI revê estimativa para o PIB mundial

Projeção recuou dos 3,3% anunciados em abril para 3,2%, segundo relatório divulgado na manhã desta terça-feira

Por Ricardo Leopoldo e correspondente
Atualização:

NOVA YORK - A prolongada disputa comercial entre os Estados Unidos e a China levou o Fundo Monetário Internacional (FMI) a reduzir levemente sua projeção para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) mundial em 2019, dos 3,3% anunciados em abril para 3,2%, segundo o relatório Perspectiva Econômica Mundial, publicado nesta terça-feira, 23. Para 2020, a entidade reduziu de 3,6% para 3,5% a previsão para a expansão do índice a nível global.

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O contexto desfavorável também levou o FMI a diminuir as previsões de expansão do volume de bens e mercadorias transacionadas por todos os países de uma alta de 3,4% para 2,5% neste ano e de 3,9% para 3,7% em 2020.

Embora os presidentes dos EUA, Donald Trump, e da China, Xi Jinping, tenham acertado uma trégua na disputa comercial, o fundo destacou que ainda não há solução permanente para a questão. O litígio entre as duas maiores economias do mundo teve impacto sobre os investimentos das empresas e o nível de consumo das famílias em diversos países. A guerra comercial também lançou dúvidas sobre o futuro das cadeias globais de produção.

Disputa comercial entre EUA e China coloca os presidentes Donald Trump (EUA) e Xi Jinping (China) em campos opostos Foto: Andy Wong/ AP Photo

Segundo o FMI, o crescimento global projetado para 2020 “é precário”, mesmo que a guerra comercial entre EUA e China encontre uma solução e apesar das perspectivas mais positivas para os mercados emergentes.

A diretora do departamento de pesquisas do fundo, Gita Gopinath, disse que a guerra comercial pode reduzir a expansão mundial em 0,5 ponto porcentual em 2020. Essa projeção considera a posição adotada em maio pelos EUA, de elevar de 10% para 25% a alíquota das cobranças adicionais sobre US$ 200 bilhões em produtos comprados da China, o que provocou retaliações de Pequim sobre mercadorias e serviços americanos.

“Tarifas não devem ser adotadas para resolver diferenças comerciais entre países”, destacou Gita. “A busca de entendimentos na área comercial é urgente. Esperamos que EUA e China resolvam logo as disputas comerciais”, disse, ressaltando que é importante que os dois países atuem para fortalecer o sistema internacional de transações de mercadorias e serviços.

A economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), Gita Gopinath. Foto: Reuters/Charles Platiau

De acordo com Gita, politicas comerciais robustas reduzem riscos de desaceleração da economia de países. O FMI enfatiza que tensões nessa área prejudicarão a evolução econômica de muitas nações. “As disputas comerciais podem afetar exportações e o nível de atividade do México, que é uma economia que exporta muitos manufaturados para os EUA”, apontou Gian Maria Milesi-Ferreti, diretor-adjunto do departamento de pesquisas do FMI.

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O FMI ressalta também que preponderam os perigos de desaceleração da economia global sobre os fatores que poderiam ajudar a elevá-la. “Eles incluem tensões comerciais e tecnológicas adicionais que afetam o sentimento e tornam lentos os investimentos”, destaca o relatório. Além disso, pode também ser negativo um aumento do movimento de proteção nos mercados financeiros com foco em ativos de países desenvolvidos e um ciclo desinflacionário pelo mundo, reflexo de dúvidas sobre a demanda agregada em escala global.

Para o fundo, por outro lado, é positiva a decisão de vários bancos centrais em diversos países, entre eles o Brasil, de sinalizarem políticas monetárias acomodatícias, com o objetivo de reanimar o nível de atividade em suas respectivas economias, sobretudo por causa de limitações para gastos fiscais, ao mesmo tempo em que a inflação é baixa e há muitas dúvidas sobre o crescimento interno e global.

Crescimento nos EUA

O FMI elevou de 2,3% para 2,6% a previsão de alta do PIB dos EUA em 2019, em boa medida devido à expansão mais forte do que o esperado do crescimento do país no primeiro trimestre (3,1%). O crescimento no período, segundo o relatório, foi influenciado por exportações e acumulação de estoques, mas a demanda doméstica apresentou um desempenho mais fraco do que o estimado, o que também ocorreu com as importações, devido a efeitos de tarifas comerciais. A instituição multilateral não alterou a projeção de elevação de 1,9% do PIB americano em 2020.

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Para a China, o Fundo reduziu a previsão de crescimento de 6,3% para 6,2% neste ano e de 6,1% para 6,0% em 2020, devido especialmente a “efeitos negativos” da escalada de imposição de tarifas sobre seus produtos exportados e ao enfraquecimento da demanda externa. Contudo, o FMI acredita que as medidas fiscais e monetárias adotadas pelo governo em Pequim conseguirão compensar tais impactos, em uma economia que enfrenta restrições com medidas oficiais para conter a rápida expansão de dívidas de governos regionais.

Em relação à zona do euro, o FMI manteve a previsão de crescimento de 1,3% para este ano e elevou de 1,5% para 1,6% a projeção para 2020, devido à expectativa positiva por certa retomada do nível de atividade no segundo semestre, com um cenário de melhora leve e gradual para as encomendas internacionais de seus produtos, especialmente duráveis.

No caso do Japão, o FMI reduziu a previsão do PIB em 2019 de 1,0% para 0,9% em função da perda de vigor da recuperação da economia, especialmente registrado no consumo, o que levou a agudo declínio de importações. Para 2020, o Fundo diminuiu a estimativa do produto interno bruto de 0,5% para 0,4%.

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