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Com dívida de R$ 2 bi, Grupo Inepar deve pedir recuperação judicial

Empresa já figurou entre mais valiosas da Bolsa, mas hoje tem valor de mercado de R$ 50 milhões e deve ser assumida pelo Brasil Plural

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Por Fernando Scheller e Monica Scaramuzzo
Atualização:

O executivo do banco Brasil Plural, Warley Pimentel, foi ontem a Araraquara para anunciar pessoalmente a mais de mil funcionários da maior fábrica do grupo paranaense Inepar que a companhia entrará com o pedido de recuperação judicial. A antes poderosa holding de produção de máquinas e equipamentos, que foi presença constante nos leilões das privatização dos anos 90, tem hoje uma dívida acumulada de R$ 2 bilhões - valor impagável nas condições atuais do negócio. Caso a recuperação seja aprovada, a empresa ganhará tempo para organizar suas contas. Outra consequência do pedido de recuperação deverá ser a saída definitiva do empresário Atilano de Oms Sobrinho da gestão. Há quatro meses, o banco Brasil Plural foi contratado para fazer um diagnóstico sobre as contas da empresa. Agora, Pimentel, executivo da instituição, deverá assumir a presidência da Inepar. Apesar de a notícia já ter sido informada a funcionários, o comunicado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) não havia sido publicado até o fechamento desta edição. Fundada há mais de 60 anos, a Inepar viveu seus tempos áureos entre 1997 e 2002, quando as ações preferenciais da companhia figuraram entre os destaques do Ibovespa - hoje, a ação do negócio vale R$ 0,38, o que se refletiria um valor de mercado de menos de R$ 50 milhões. A companhia enfrenta dificuldades para pagar até contas do dia a dia, embora os salários de 6 mil funcionários estejam em dia, segundo o Brasil Plural. Com faturamento anual de R$ 1,2 bilhão, a companhia tem geração de caixa de cerca de R$ 100 milhões por ano. Do total do endividamento, o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) responde por cerca de R$ 1 bilhão da dívida financeira, que soma cerca de R$ 1,5 bilhão. O restante é basicamente de débitos tributários. Na opinião do provável novo presidente da Inepar, a empresa foi abatida pelo cenário de desaceleração da economia, com redução dos investimentos em infraestrutura. "Nos últimos dez anos, o grupo vivenciou um longo processo de reestruturação agravado por uma série de condições adversas que impactaram a estrutura de capital da companhia, deteriorando o balanço patrimonial e afetando capacidade operacional do grupo", disse Pimentel. Fontes ouvidas pelo Estado afirmaram que algumas das decisões estratégicas do grupo nos últimos anos foram consideradas arriscadas, prejudicando os negócios da companhia. No processo de privatizações do fim dos anos 1990, por exemplo, a empresa fez tantas propostas por concessões de telefonia e energia que acabou com o dobro de participações que realmente desejava ter nas mãos. Sob o comando de Atilano, um aficionado por radioamador, a empresa investiu em projetos ousados de telefonia, entre eles o telefone via satélite Iridium. Em 1998, a Inepar era uma das três sócias do negócio na América do Sul, ao lado da Telecom Itália (dona da TIM) e da Motorola. Pouco depois de um anúncio feito com pompa, o projeto faliu. Segundo fonte do empresariado paranaense, os controladores da Inepar também investiram em um telefone desenvolvido por um militar. "Esse militar já tinha me apresentado o projeto, mas fiquei desconfiado", lembra. "Eles foram lá e compraram. Não deu em nada."Momento crítico. Para fontes de mercado, no entanto, os atuais negócios da Inepar poderiam ter melhor desempenho caso o governo e as indústrias não tivessem parado de investir. Para José Velloso Dias Cardoso, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), o momento é crítico. "Somos a indústria que constrói indústria. Se as indústrias não investem, todo o setor é prejudicado." A expectativa é de que o faturamento do setor, que foi de R$ 80 bilhões em 2013, recue 15% este ano. "Geramos 260 mil empregos diretos. Até julho, fechamos 8 mil vagas."

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