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Com dívidas de R$ 700 milhões, Cotia Trading pede recuperação judicial

Companhia, uma das mais tradicionais do setor, já estava em negociações desde o ano passado com seus principais credores, mas não chegou a um acordo definitivo; situação financeira foi agravada com a inadimplência de R$ 250 milhões de grandes clientes

Por Monica Scaramuzzo
Atualização:

A Cotia Trading, uma das mais tradicionais do País e que se tornou referência nos anos 1980, entrou nesta sexta-feira, 21, com pedido de recuperação judicial na 1ª Vara Cível da Comarca de São Paulo. Com dívidas de cerca de R$ 700 milhões, a trading já estava em negociações desde o fim do ano passado com seus principais credores, mas não chegou a um acordo definitivo, apurou o Estado.

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A trading, que já vinha enfrentando dificuldades nos últimos anos, teve sua situação financeira agravada entre 2014 e 2015, com a inadimplência de clientes, de cerca de R$ 250 milhões – entre eles, a Camisaria Colombo, que fechou um acordo extrajudicial para alongar uma dívida de R$ 1,5 bilhão.

Em 2011, a comercializadora também foi afetada com a importação de caminhões feita um pouco antes da elevação do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) em 30 pontos porcentuais.

O faturamento da trading – que tem como principais clientes empresas do setor automobilístico e de varejo de vestuário – cairá dos R$ 3 bilhões obtidos no ano passado, para cerca de R$ 1 bilhão este ano, apurou o Estado.

Diante do cenário de crise, a trading contratou, em dezembro do ano passado, a consultoria financeira Íntegra Associados, de Renato C. Franco, para tentar renegociar extraoficialmente as dívidas da companhia com os bancos credores – Bradesco, HSBC, Bladex (Banco Interamericano de Desenvolvimento), Banco do Brasil, Votorantim, Banrisul e Santander –, além da Jaguar Land Rover UK.

Tentativa de acordo. As negociações com os bancos seguiram bem, mas as conversas não avançaram no mesmo ritmo com a Land Rover, segundo fontes a par do assunto. Diante disso, há duas semanas, a companhia decidiu entrar com pedido de recuperação judicial.

No pedido, foram incluídas a Cotia Vitória, empresa operacional, e a Cotia Vitória Trading Empreendimentos, holding do grupo. As empresas abaixo da holding, áreas portuárias e fora do País não entraram no pedido. A expectativa é apresentar um plano de recuperação nos próximos 60. O escritório Renato Mange Advogados é o assessor jurídico da companhia. Procurada, a Cotia Trading não se manifestou.

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No plano extrajudicial, chegou a ser discutido um prazo de carência para as dívidas, sem desconto dos juros dos débitos.

O Estado apurou que, do total do endividamento, cerca de R$ 600 milhões pertencem a credores quirografários (não possuem garantia) e outros R$ 100 milhões de credores com garantia real.

Fundada há 40 anos para ser uma trading exportadora de carnes para seus de seus antigos donos – a família de pecuaristas de Ovidio Miranda de Brito, que também tinha frigorífico –, a companhia era exportadora até o início dos anos 1990. Quando o governo de Fernando Collor de Mello abriu o mercado para importações, a Cotia Trading passou a importar automóveis e atuar no varejo de vestuário.

O grupo chegou a ser o maior importador de veículos com a abertura de mercado a partir dos anos 90. Com isso, a atividade de exportação, embora tenha uma margem maior, perdeu espaço e responde por 30% dos volumes movimentados pela trading.

Em 2002, a Cotia Trading mudou de mãos, passando para seis executivos – Eduardo Mangabeira Albernaz, Paulo Mangabeira Albernaz, Fernando Menge, Edson Paz, Felipe Figliolini e Ricardo Assis, que detêm 80%, e para outros três ex-executivos, com os 20% restantes.