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Com dólar alto e pandemia, gasto no exterior é o menor para abril em 21 anos

Despesas de brasileiros em outros países somaram US$ 203 milhões no mês passado, uma queda de 86,4% em relação ao mesmo mês de 2019

Por Fabrício de Castro e Idiana Tomazelli
Atualização:

BRASÍLIA - Com a redução drástica no número de viagens devido à pandemia do novo coronavírus, as despesas de brasileiros no exterior em abril ficaram em US$ 203 milhões, o menor valor para o mês desde 1999, segundo dados do Banco Central divulgados nesta terça-feira, 26. A queda foi de 86,4% em relação a abril do ano passado.

Os gastos de estrangeiros no País também caíram de forma dramática e somaram US$ 113 milhões em abril, o pior resultado para o mês de 1997. O recuo foi de 76,1% ante abril de 2019.

O chefe do Departamento de Estatísticas do Banco Central, Fernando Rocha, ressaltou que o setor de turismo e viagens é um dos mais afetados pela crise provocada pela covid-19.

Balcões de atendimento da Azul vazios no aeroporto de Guarulhos após a adoção de medidas de isolamento social. Foto: Werther Santana/Estadão - 31/3/2020

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A imposição de medidas de isolamento social, na tentativa de conter o avanço da doença, que ainda não tem cura nem vacina atestadas por pesquisadores, levou a uma redução na oferta de voos e menores gastos com viagens. O Brasil também fechou fronteiras com países vizinhos.

Além disso, o dólar registra no ano uma grande valorização ante o real. Em abril, a moeda norte-americana fechou o mês cotada em R$ 5,4387, alta de 4,66% ante março. O salto acumulado no ano estava em 35,57%.

Segundo Rocha, o desempenho tímido da conta de viagens deve se manter em maio, com baixo movimento de turistas tanto para o exterior quanto vindo para o Brasil. Os resultados parciais do BC, com dados até o dia 21 deste mês, mostram que as despesas dos brasileiros no exterior estavam em US$ 177 milhões, enquanto os gastos dos estrangeiros aqui no País somavam US$ 98 milhões.

Puxada por exportações, contas externas têm superávit de US$ 3,8 bilhões

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No geral, as contas externas do Brasil registraram superávit de US$ 3,840 bilhões em abril deste ano. Foi o melhor resultado para todos os meses desde o início da série histórica da instituição, em janeiro de 1995. Até então, o maior valor havia sido registrado em julho de 2006 (US$ 3 bilhões).

O resultado de transações correntes, um dos principais sobre o setor externo do país, é formado pela balança comercial (comércio de produtos entre o Brasil e outros países), pelos serviços (adquiridos por brasileiros no exterior) e pelas rendas (remessas de juros, lucros e dividendos do Brasil para o exterior).

O saldo positivo das contas externas de abril é fruto da melhora do resultado da balança comercial brasileira, que registrou superávit (exportações menos importações) de US$ 6,7 bilhões – impulsionada pelas vendas externas de produtos básicos, como alimentos e petróleo, tendo os países asiáticos como principais destinos.

Além disso, houve um déficit menor nas contas de serviços e renda por conta do desaquecimento da economia mundial e do fechamento de fronteiras – este último fator contribuiu para o menor gasto de brasileiros no exterior em 21 anos.

Nos quatro primeiros meses deste ano, ainda segundo dados do BC, a conta de transações correntes apresentou um déficit de US$ 11,877 bilhões – com queda de 30% frente ao mesmo período do ano passado, quando o rombo nas contas externas somou US$ 16,953 bilhões.

Em todo ano passado, o déficit das contas externas do Brasil subiu 22%, para US$ 50,762 bilhões.

Para todo ano de 2020, a expectativa do Banco Central é de um déficit menor por conta da pandemia do novo coronavírus, que chegaria a US$ 41 bilhões.

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Investimento estrangeiro

O Banco Central também informou que os investimentos estrangeiros diretos na economia brasileira somaram US$ 234 milhões em abril, no que foi o pior resultado, para um mês fechado, desde setembro de 2005 (US$ 95 milhões). Com isso, foi o menor ingresso em quase 15 anos.

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O chefe do Departamento de Estatísticas do BC, Fernando Rocha, lembrou que os investimentos diretos costumam ser mais constantes do que as aplicações financeiras, ou seja, apresentar variação menor mês a mês.

"Os investimentos estrangeiros reúnem operações com características mais constantes, de longo prazo. Olhando para as operações [de abril, que registraram forte queda], são um movimento que parece ser, a percepção que temos, é que se trata de um adiamento das operações em um mês que concentraram muitas incertezas", declarou ele.

Nos quatro primeiros meses deste ano, ainda de acordo com o Banco Central, os investimento diretos somaram US$ 18,043 bilhões – com queda de 22,9% frente ao mesmo período de 2019 (US$ 23,395 bilhões).

Com isso, os investimentos estrangeiros ainda foram suficientes para cobrir o rombo das contas externas no acumulado deste ano (US$ 11,877 bilhões).

Quando o déficit não é "coberto" pelos investimentos estrangeiros, o país tem de se apoiar em outros fluxos, como ingresso de recursos para aplicações financeiras, ou empréstimos buscados no exterior, para fechar as contas.

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Em todo ano passado, os investimentos estrangeiros diretos na economia brasileira somaram US$ 78,559 bilhões em 2019, com pequena alta frente ao ano anterior.

Para 2020, o Banco Central estima um ingresso de US$ 60 bilhões em investimentos estrangeiros diretos na economia brasileira.

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