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Com dólar alto, gasto do brasileiro no exterior recua 20%

Despesas de brasileiros no exterior somaram US$ 1,382 bilhão em agosto; no ano passado, gastos no mês foram de US$ 1,745 bilhão, aponta dado do Banco Central

Por Fabrício de Castro e Fernando Nakagawa
Atualização:

BRASÍLIA - A alta recente do dólar ante o real já começou a alterar os planos de férias dos brasileiros. Dados do Banco Central mostram que os gastos dos turistas em outros países caíram 20,8% em agosto, na comparação com o mesmo mês do ano passado. Números preliminares de setembro indicam a continuidade da tendência.

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Em agosto, os gastos de brasileiros no exterior somaram US$ 1,38 bilhão, ante os US$ 1,75 bilhão registrados em igual mês do ano passado. A queda anual de 20,8% foi a maior desde maio de 2016. O movimento está em grande parte ligado ao câmbio, já que, no período, o real sofreu uma desvalorização próxima de 25% em relação ao dólar.

"O principal impacto da desvalorização do real em um ano aparece na conta de viagens. A desvalorização tende a torná-la mais cara, o que geralmente faz com que o turista adie a viagem, reduza os gastos pretendidos ou até mesmo cancele", disse o chefe do Departamento de Estatísticas do Banco Central, Fernando Rocha, durante a apresentação dos números. Em agosto de 2017, o preço médio do dólar foi de R$ 3,15. Um ano depois, em agosto de 2018, o valor da moeda saltou para R$ 3,93.

Desempenho da conta de viagens internacionais foi determinado por despesas de brasileiros no exterior Foto: RENATO S. CERQUEIRA/FUTURA PRESS

Como o dólar seguiu em patamares mais elevados neste mês, a tendência se manteve. Os números preliminares do BC indicam que em setembro, até o dia 20, as despesas dos brasileiros no exterior somaram US$ 796 milhões. "Mantido esse ritmo, o déficit da conta de viagens será menor que o visto em agosto e também inferior ao de setembro de 2017", disse Rocha.

Nos primeiros 20 dias de setembro, a conta de viagens tem valor líquido negativo de US$ 557 milhões. Este montante considera os gastos dos brasileiros em outros países, menos as despesas de estrangeiros em viagem ao Brasil. Em setembro do ano passado, considerando todo o mês, o déficit líquido foi de US$ 1,31 bilhão.

Transferências. Se por um lado o dólar mais caro desestimula as viagens, por outro ele favorece as transferências de recursos de trabalhadores em outros países para suas famílias no Brasil.

Os números do BC mostram que, no mês passado, US$ 72,1 milhões líquidos entraram no País por meio de transferências pessoais (entre pessoas físicas). O montante equivalente a 13 vezes o que havia sido registrado em agosto de 2017 (US$ 5,4 milhões). Em julho deste ano, as entradas haviam sido de US$ 36,3 milhões.

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Estes dados refletem os envios de dinheiro ao Brasil já descontadas as remessas feitas por estrangeiros para suas famílias no exterior. "Este impacto muito pontual tem mais a ver com o câmbio do que com o aumento do número de brasileiros que moram no exterior", afirmou Rocha. Na prática, com a moeda americana mais cara, quem remete recursos para o Brasil consegue trocar uma mesma quantidade de dólares por um montante maior de reais. Isso acaba estimulando as remessas de quem trabalha fora para as famílias no Brasil.

Déficit. O Brasil registrou déficit em conta corrente de US$ 717 milhões em agosto, segundo o BC. O número reflete o resultado das transações comerciais (exportações menos importações), de serviços e de rendas do País com o exterior. Em 2018 até agora, esse déficit está em US$ 8,9 bilhões.

Por outro lado, o rombo é coberto com folga pelos Investimentos Diretos no País (IDP), que somaram US$ 10,61 bilhões em agosto e US$ 44,38 bilhões no acumulado do ano.

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