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Com expansão da frota flex, Brasil pode precisar importar etanol

Segundo presidente da Datagro, investimentos em novas usinas no País permanecem praticamente parados desde a crise

Por Eduardo Magossi e da Agência Estado
Atualização:

O Brasil poderá precisar importar etanol no médio prazo para abastecer o mercado interno brasileiro em função da forte expansão da frota flex brasileiro e do aumento da utilização do etanol hidratado como combustível automotor. A afirmação é do presidente da Datagro Consultoria, Plínio Nastari. Segundo ele, em função da crise de crédito de 2008, os investimentos em novas usinas no Brasil estão praticamente parados mas a frota de carros flex continua crescendo.

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"É provável que no médio prazo, a demanda pelo etanol pelos carros flex ultrapasse o volume produzido no país", disse. Com a redução da oferta de etanol, os preços irão subir e o consumidor migrar para a gasolina. Para Nastari, isto pode ser evitado se o Brasil importar etanol, principalmente o Nordeste, mais próximo dos Estados Unidos, origem provável do produto a ser importado, e que deve se beneficiar de fretes mais competitivos.

Nastari explica que existe uma problema de especificação do etanol americano que dificulta a importação. "Enquanto os americanos permitem que exista até 1% do volume de água, o Brasil permite apenas 0,5%", disse. Segundo o consultor, se a especificação fosse a mesma, as importações já estariam sendo feitas de forma mais regular.

Preços

O consultor acredita que os preços internos do etanol já registraram os valores mínimos desta safra 2010/11 e a partir de agora devem subir, de forma lenta e gradual. "Não veremos uma disparada nos preços como aconteceu na entressafra do ano passado. Este ano teremos mais etanol na entressafra e mais folga nos estoques de passagem para a próxima safra", disse ele. Nastari estima que os preços não atingirão os níveis elevados da safra anterior mas ele acredita que a competitividade do etanol em relação a gasolina não vai aumentar mais a partir de agora. O etanol atualmente está competitivo em 14 estados e no Distrito Federal.

Em relação ao açúcar, Nastari afirma que as cotações deverão atingir um corredor entre 18,5 cents e 19,5 cents por libra nos próximos 30 dias diante da forte demanda pelo produto no mercado internacional. "Estamos registrando um descompasso entre demanda e oferta do açúcar. Existe mais de 100 navios nos portos brasileiros esperando o embarque e pouco açúcar para ser entregue. Acredito que muitas tradings venderam mais açúcar do que havia disponível", explica.

O consultor prevê que esta oferta mais apertada de açúcar deve continuar até outubro quando a safra do Hemisfério Norte começa a entrar no mercado, principalmente a safra nova da Índia. "Aí teremos um arrefecimento nos preços mas eles deverão continuar acima do custo de produção do Brasil, atualmente em 15,7 cents por libra", disse.

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Investimentos e dívida

Os investimentos no setor devem voltar a partir do próximo ano mas de forma mais cautelosa e sem grandes projetos. "Nós deveremos ver novos investimentos em usinas mas de forma mais conservadora", acredita. Para Nastari, o setor deverá investir em usinas menores, que processem entre 2 a 2,5 milhões de toneladas de cana por ano, atualmente orçadas em R$ 540 milhões. "Haverá maior disciplina nos investimentos", disse. Nastari disse que o setor continua se esforçando para reduzir seu endividamento, agravado pela crise financeira", disse. O consultor estima que a dívida do setor hoje deve girar em torno de R$ 38 bilhões ante R$ 44 bilhões registrados há um ano.

Ele ressalta, contudo, que a distribuição desta dívida é heterogênea, com alguns grupos estando com pouca dívida e outros bastante endividados. Nastari disse que muitos grupos estão realizando investimentos para aumentar sua eficiência e reduzir custos, maximizando sua produção. "Mas não está havendo muitos investimentos em expansão. A indústria de base está praticamente parada", disse.

 

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