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Com falta de carros, locadoras vão atrás de veículos usados e em concessionárias

Com a produção de carros sendo afetada pela falta de semicondutores em todo o mundo, as locadoras – que chegaram a responder por 20% das vendas das montadoras no País – reduzem a meta de compras de 800 mil para 380 mil unidades em 2021

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Principais clientes cativos da indústria automobilística, as locadoras que compram carros direto das fábricas, normalmente com altos descontos, começaram a buscar alternativas de fornecimento, recorrendo às concessionárias e até ao mercado de modelos usados para renovar suas frotas.

Mesmo com um movimento que começou recentemente, de devolução de carros alugados por parte de motoristas de aplicativos – desta vez por causa do alto preço da gasolina –, o presidente da Associação Brasileira de Locadoras de Automóveis (Abla), Paulo Miguel Júnior, diz que faltam produtos nas empresas por causa da redução de entregas pelas fabricantes, por dificuldades na produção devido à falta de semicondutores.

Com a produção de veículos menor, locadoras estão conseguindo descontos menores com as montadoras Foto: VALERIA GONÇALVEZ/ESTADÃO

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Segundo ele, foram devolvidos até agora cerca de 30 mil automóveis. Em 2020, quando as pessoas ficaram isoladas em casa em razão da pandemia, cerca de 160 mil carros de aplicativos voltaram para as locadoras. Essa “perda”, diz o executivo, foi recuperada ainda no ano passado.

Com a queda drástica nas entregas a partir do primeiro trimestre, as locadoras, que nos últimos cinco anos têm ficado com 20% em média do total de automóveis e comerciais leves vendidos no País, viram essa participação cair para 15%.

Do 1,33 milhão de automóveis e comerciais leves comercializados até agosto, quase 200 mil foram para o mercado de locação, cálculo feito com base em dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave).

O recuo na fatia das vendas ocorre num momento em que a mais nova modalidade de aluguel por assinatura, com prazos de até três anos, tem crescido, assim como a terceirização de frotas de empresas, que estão vendo mais vantagem na locação do que na posse de veículos.

“Quem compra carro para locação está garimpando veículos”, afirma Miguel Júnior. “Para não deixar o cliente na mão, principalmente aqueles que têm necessidade em substituir a frota, buscamos várias alternativas, como percorrer revendas e comprar o que elas ainda têm em estoque”, diz ele, acrescentando que até carros usados estão na mira do setor, mas nesse segmento também está difícil encontrar modelos com baixa quilometragem.

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Segundo Miguel Júnior, há filas de espera para locação por assinatura e frotas. Nas concessionárias também há filas e, se houvesse oferta, a Fenabrave calcula que as vendas no varejo seriam de 15% a 20% superiores em relação aos números atuais.

A Abla representa cerca de 11 mil locadoras de todo o País. No início do ano, a entidade informou que o setor tinha intenção de comprar 800 mil veículos neste ano. “Com a dificuldade de abastecimento, reduzimos para 450 mil no meio do ano e agora já falamos em cerca de 380 mil”, informa Miguel Júnior.

Descontos menores

Os descontos obtidos das montadoras na compra direta, que antes da pandemia ficavam na casa de 20% a 30%, foram reduzidos à metade ou até mais. Para o consumidor final, os bônus também caíram, mas a Fenabrave não tem dados sobre porcentuais. Em média, os preços dos automóveis subiram 30% neste ano.

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Miguel Júnior informa que alguns modelos que chegaram agora são de encomendas feitas no ano passado. Ainda assim, ele acredita ser possível que, até o fim do ano, as locadoras consigam comprar os 180 mil carros que ainda faltam para atingir a meta já reduzida.

Segundo ele, há modelos com quatro a oito meses de espera, mas as empresas estão aceitando o que tiver disponível. Também são consideradas vendas diretas aquelas feitas a grandes frotistas, produtores rurais, taxistas, pessoas com deficiência (PCD), pessoas jurídicas e governos, embora parte delas seja feita pelas concessionárias, mas o faturamento é feito pelas fábricas, também com descontos acima daqueles dados ao consumidor normal.

Juntando tudo, as vendas diretas de janeiro a agosto correspondem a 42,5% do total de automóveis e comerciais leves, o que significa cerca de 565 mil unidades. Apesar da falta de produtos nas lojas, onde os negócios dão maior retorno às fabricantes, a participação das vendas diretas vem se mantendo na casa dos 40% há cinco anos, tendo registrado seu pico em 2019, quando chegou a 45,7% (ver quadro). 

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Válvula de escape

Segundo o diretor executivo da Fenabrave, Marcelo Franciulli, não ocorreu alteração significativa nas fatias das vendas corporativas e daquelas feitas no varejo – que cresceram igualmente 14% em relação ao mesmo período do ano passado –, mas a oferta de produtos reduziu para ambos.

Cássio Pagliarini, da Bright Consulting, ressalta que as locadoras são a “válvula de escape” das montadoras e normalmente estão prontas para negociar os volumes que as fabricantes não conseguem colocar no mercado”. Neste ano, mesmo com as filas de espera no varejo, o segmento tem recebido sua cota de carros. “Apesar da menor rentabilidade, as fabricantes precisam manter a máquina funcionando”, até porque as vendas diretas ajudam o setor a ter escala maior de produção.

Vendas diretas ganham espaço no setor

As vendas diretas estão em alta no setor automotivo. Líder em vendas totais de automóveis e comerciais leves neste ano, com 23% de participação e ampla vantagem sobre a segunda colocada – a Volkswagen, com 15,5% –, a Fiat também está à frente em volume de vendas diretas.

Até agosto, 60% das vendas da marca italiana foram para locadoras, frotistas, produtores rurais, taxistas, pessoas com deficiência (PCD), pessoas jurídicas e governos, de acordo com dados compilados da Fenabrave e da Bright Consulting.

A campeã em vendas diretas, contudo, é a Jeep, que pertence à mesma holding da Fiat, a Stellantis. A marca que produz os SUVs Renegade, Compass e, desde a semana passada, o Commander, tem 73% de seus negócios voltados ao segmento corporativo e PCD.

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A Volkswagen, segunda no ranking total, vendeu este ano 47% de seus modelos de forma direta, enquanto para a General Motors, que ocupa a terceira posição em vendas totais, essa fatia foi de 37%. Em todos os casos citados, a fatia nas vendas diretas está mais ou menos nas mesmas proporções nos últimos três anos.

A picape Fiat Strada é a líder das vendas diretas, com 62,4 mil unidades. No varejo, está em 15.º lugar, com 17,2 mil unidades. O Jeep Renegade, o segundo na lista das vendas corporativas, com 38,9 mil unidades, é o 18.º na relação do varejo, com 15,3 mil unidades.

Na terceira posição está o Jeep Compass, com 34,7 mil unidades, enquanto no varejo foram vendidas 11,3 mil, deixando o modelo na 24.º posição. O Volkswagen Gol, quarto mais vendido de forma direta, com 28,9 mil unidades, é o 21.º no ranking do varejo, com 13,9 mil unidades.

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