O impacto dos juros no estoque da dívida interna em títulos do governo federal somou R$ 74,8 bilhões no primeiro semestre do ano e vai aumentar ainda mais com o processo de alta da taxa Selic. Mas o grande volume de títulos resgatados das mãos dos investidores, evitou que a dívida crescesse na mesma magnitude. O estoque da dívida fechou o primeiro semestre em R$ 1,247 trilhão, com uma elevação de R$ 23 bilhões em relação a dezembro de 2007. Veja também: Copom surpreende e sobe juro em 0,75 ponto, maior em 5 anos A evolução da taxa Selic no governo Lula O Tesouro retirou do mercado R$ 52 bilhões de títulos a mais do que emitiu de novos papéis no período. Ou seja, em vez de refinanciar esses títulos no mercado, usou recursos de caixa para resgatá-los. Com a grande volatilidade existente do mercado financeiro, o Tesouro reduziu o ritmo de refinanciamento dos papéis prefixados (com taxa definida na hora da venda). Esses papéis, considerados de maior risco para o investidor, tiveram o custo elevado com o aumento da inflação. Os investidores pediram taxas maiores para comprar esses títulos e o Tesouro resolveu colocar um "pé no freio" nas emissões de prefixados. Mas sem aumentar a oferta de papéis atrelados à Taxa Selic - os preferidos do mercado em momentos de maior incerteza. Essa estratégia, que o Tesouro foi obrigado a seguir devido ao atual cenário de incerteza, prejudicou a meta do governo de aumentar a parcela de prefixados no estoque total da dívida. No primeiro semestre, a parcela de prefixados caiu de 37,31% para 34,77% do total. Por outro lado, a parcela de títulos corrigidos pela Selic subiu de 33,39% para 34,46%. Agora, para cumprir as metas estabelecidas no Plano Anual de Financiamento (PAF) de 2008, o Tesouro terá que até o final do ano acelerar a oferta de prefixados. O documento estabelece bandas mínimas e máximas para os principais indicadores da Dívida Pública Federal (interna e externa). Para a parcela prefixada, o PAF prevê uma banda entre 35% e 40%, mas o valor em junho fechou abaixo disso. O prazo médio da dívida também está fora das metas. Em junho o prazo ficou em 41,28 meses, enquanto o PAF prevê um intervalo entre 42 meses e 46 meses. Apesar das dificuldades maiores este ano, o coordenador adjunto de Operações da Dívida Pública, Fernando Garrido, afirmou ser possível atingir as metas até dezembro. Ele explicou que no cenário traçado para definir o PAF de 2008 já estava prevista "alguma volatilidade" do mercado este ano. Garrido disse que o aumento da taxa Selic não provocou "mudança significativa na demanda de títulos ", mas admitiu que o Tesouro já trabalha com o cenário mais pessimista traçado para elaborar o PAF. O coordenador ponderou, no entanto, que o aumento da Selic não provoca um salto da dívida de uma única vez de um dia para o outro. É diluído ao longo de 12 meses. Se por um lado, a dívida interna está sofrendo com os juros mais altos, a dívida externa tem sido favorecida pelo dólar mais barato frente ao real. No primeiro semestre, a dívida externa caiu R$ 12,77 bilhões. Ela também está caindo devido ao programa de recompra de títulos no mercado internacional conduzido pelo governo. Embora em velocidade menor do que em 2007, o programa já levou o Tesouro a resgatar neste ano US$ 680,6 milhões em títulos. Esses resgates vão possibilitar uma redução de US$ 1,5 bilhão no fluxo de pagamento de juros que o governo teria que fazer até o vencimento desses papéis. Desde 2007, a economia obtida com esse tipo de operação já soma R$ 10,9 bilhões. No total, foram recomprados, nesse período, títulos no valor de US$ 6 bilhões.