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Com impasse político, crise social se aprofunda

Por ATENAS
Atualização:

A morte de um farmacêutico, assassinado em Atenas, causou comoção no país na semana que passou em razão da profundidade da crise social que abala a Grécia. A polícia suspeita de que o caso está associado à falta de dinheiro para a compra de um medicamento, um problema que afeta cada vez mais a população. Além da saúde precária, com a depressão econômica e o desemprego, o país descobre um mal que os brasileiros conhecem bem: a violência.Os problemas na saúde são o indício mais claro da crise social na Grécia. A reforma do sistema de seguro social, com a criação do Eopyy - espécie de SUS só para quem tem emprego - não foi acompanhada de recursos suficientes. Desde então, o órgão, que recolhe cerca de € 250 por trabalhador no país, só reembolsa as farmácias pelos remédios prescritos com meses de atraso. Como as farmácias precisam adquirir produtos dos laboratórios, a solução encontrada pelos farmacêuticos tem sido cobrar em dinheiro por medicamentos que deveriam ser distribuídos de graça. O resultado é que os hospitais de Atenas e do interior estão superlotados de pacientes que buscam auxílio para obter os remédios, mesmo para doenças graves, como o câncer. ONGs como Médicos Sem Fronteiras também estão sobrecarregadas.Os postos de distribuição de refeições em Atenas também estão saturados. Na sexta-feira, o aposentado Alekos Argyros, 74 anos, era um dos que estavam na fila para se alimentar. Ex-comerciante com duas lojas de vestuário em Atenas, ele se viu falido com a crise. Quase sem renda para morar e cuidar da saúde, apela para as refeições gratuitas. Yolanda Zogoioulde, psicóloga do centro, testemunha a humilhação diária de idosos ou jovens que perderam o emprego e não têm mais dinheiro nem para comer. "Recebemos famílias inteiras que não têm mais recurso algum para sobreviver." Apesar de desesperados, esses gregos serão obrigados por lei a votar no domingo. E entre eles cresce a adesão ao partido neonazista Aurora Dourada. Muitos justificam que a falta de recursos do Estado também atingiu a polícia. A imprensa traz relatos diários de chamados não atendidos por problemas como falta de efetivo e até de combustível nas viaturas. Com isso, proliferam os grupos criminosos nas maiores cidade, assim como a tensão social entre gregos e imigrantes. "Os estrangeiros não são culpados da crise, mas são responsáveis pela violência. Eles devem partir, ou devemos cortar suas línguas ou suas cabeças", diz Costas, 65 anos, aposentado e morador do bairro Atiki. / A.N.

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