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Com indenização, morador consegue até pagar promessa

Dono de sítio constrói capela, troca telhado da casa e compra mais terras com dinheiro recebido. Outros ainda nem viram a cor do dinheiro

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Por Redação
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A capela recém inaugurada foi uma promessa feita para Nossa Senhora da Aparecida no fim da década de 70, quando os militares ainda dominavam o País. Era uma época de pouca tolerância e muitas suspeitas, conta Pedro Alves Gondin, de 73 anos, morador do sítio Formiga de Baixo, em Salgueiro. Numa tarde de semana, quando voltava do trabalho na roça, foi surpreendido por uma tropa do Exército, que invadiu sua casa em busca de armas e provas de que fosse um "chefe de bando". Foi preso sem entender bem o porquê. Recorreu à santa e saiu livre das acusações.Mas só neste ano, com o recebimento do dinheiro da desapropriação das terras para a construção da Transnordestina e da Transposição do Rio São Francisco, conseguiu pagar a promessa. Vestido com um gibão (que Gondin chama de blazer) e chapéu de cangaceiro, ele faz questão de mostrar todos os detalhes da capela, que consumiu R$ 30 mil. A igreja foi cuidadosamente construída com parede de tijolos de pedra e chão de mármore. Ainda precisa receber alguns retoques, como vidros no teto, mas a imagem de Nossa Senhora já está no altar, pronta para a oração.No total, o fazendeiro perdeu 68 hectares para as duas obras. Com o dinheiro da desapropriação, além da capela, trocou o telhado da casa, fez alguns arremates na propriedade e comprou outros 100 hectares próximos do sítio. "Agora tenho 619 hectares. Perdi 68, mas comprei 100", orgulha-se Gondin, que quer abrir uma área no sítio para fazer vaquejadas.Mesma sorte ainda não teve Alberto Augustino dos Santos, conhecido como Seu P, e a esposa Maria Isabel da Silva, com quem vive há 11 anos. A ferrovia passa ao lado de sua casa e ocupou uma área onde plantava palma, milho e feijão. "Estou esperando, mas ainda não saiu nada." Seu P, fã declarado do presidente Lula, já faz planos para quando receber a indenização. "Vou aplicar uma parte e investir em outra roça de feijão e milho", comenta ele, que havia acabado de comprar um jumento por R$ 20 para ajudar na "lida". Boa parte da produção é para consumo próprio. O que sobra, ele vende na cidade para conseguir algum dinheiro para as despesas mensais. Apesar do transtorno da obra da Transnordestina, que alterou sua vida pacata, e de ainda não ter recebido o dinheiro da desapropriação, Seu P comemora a chegada do projeto. "Se não fossem essas obras (ferrovia e transposição), o povo daqui morreria de fome. Graças a Deus e ao Lula as coisas estão melhorando", diz ele, que votou no presidente nas duas eleições e agora votou na Dilma. "Ela é ele."Produtores. Como Seu P, outros moradores e produtores da região comemoram a aceleração das obras da estrada de ferro. Só no agronegócio, a demanda por transportes está estimada entre 8 e 10 bilhões de toneladas de grãos por ano, diz o presidente da Transnordestina, Tufi Daher. A ferrovia vai beneficiar os produtores do Piauí, oeste da Bahia, sul do Maranhão e Tocantins. Hoje, essa carga sofre uma série de dificuldades para chegar, de caminhão, aos portos ou centros de consumo. Em alguns casos, percorre mais de 1.000 km para usar os portos do Sul e Sudeste.Outro setor que poderá se beneficiar da Transnordestina é o de mineração, cuja demanda está em torno de 12 milhões de toneladas por ano no Piauí e Pernambuco, diz Daher. O polo gesseiro, de Araripina, também tem boas expectativas a partir do início da operação da ferrovia. Muitos produtores não conseguem explorar o mercado internacional por causa dos custos logísticos, que encarecem o valor final do produto. Pelos cálculos do presidente do Sindicato da Indústria do Gesso do Estado de Pernambuco (Sindusgesso), Ariston Pereira da Silva, o custo do frete pode ficar 30% mais barato com a ferrovia. Hoje, diz ele, a tonelada da gipsita custa R$ 21 e o frete (para São Paulo) R$ 130. O polo conta hoje com 39 mineradoras e 139 indústrias de calcinação e 726 indústrias de pré-moldados.

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