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Com inflação alta, parte dos economistas já prevê taxa de juros em dois dígitos até 2024

O aumento dos preços, puxados por alimentos e combustíveis, tem feito economistas revisarem para cima a projeção para a taxa Selic para o ano que vem

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Por Cicero Cotrim (Broadcast)
Atualização:

A disparada da inflação neste início de ano colocou no radar de economistas do mercado financeiro o risco de os juros continuarem acima de dois dígitos até o fim do ano que vem. Com a possibilidade de uma política monetária mais restritiva, economistas ouvidos pelo Estadão/Broadcast também veem crescer a chance de uma queda do Produto Interno Bruto (PIB) de 2023.

Embora não seja a opinião da maioria dos analistas, a perspectiva de a taxa básica de juros, a Selic, ficar acima de 10% no fim do ano que vem já se tornou premissa em revisões publicadas na semana passada por instituições como Bank of America (9,5% para 10,5%) e BNP Paribas (9,5% para 10,5%). De 47 instituições consultadas pelo Projeções Broadcast, sete já estimam juros de dois dígitos no ano que vem. 

Mulher faz comprasem Brasília;disparada da inflação colocou no radar de economistas o risco de os juros continuarem acima de dois dígitos até o fim do ano que vem. Foto: Dida Sampaio/ Estadão

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O Boletim Focus do Banco Central (BC) divulgado nesta segunda-feira, 14, mostra uma tendência de alta. Economistas consultados pelo BC preveem a Selic a 8,75% no fim de 2023. Há quatro semanas, a projeção era de 8%.

O economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Rosa, espera que o BC eleve a taxa Selic a 12,5% este ano e a mantenha em dois dígitos até o fim de 2023, em 10,5%. Para o analista, o mais provável é que a autoridade monetária opte por suavizar sua estratégia, com juros mais altos por mais tempo, diante das incertezas no cenário internacional de política monetária e inflação.

"Na média, esperamos que a Selic fique em 11,5% em 2023, um pouco abaixo dos 12,2% previstos para este ano", diz Rosa. "Pela dúvida em torno da duração desse choque de oferta, que depende da intensidade e da duração da guerra, não adianta o BC dar uma alta mais forte de juros agora. Por isso, acho que ele vai ser cauteloso, vai preferir manter a Selic mais alta por mais tempo."

A suavização implica em uma inflação mais alta em 2022, em torno de 6,50%, mas deve permitir queda do IPCA (o índice oficial de inflação) para perto do centro da meta, de 3,25%, em 2023, segundo o economista. Mas a melhora do quadro de preços é acompanhada de um custo para o PIB, que deve crescer 0,7% neste ano e no próximo. Rosa não descarta as chances de uma recessão.

"Uma taxa Selic como essa implica em um juro real mantido por vários meses entre 6% e 7% ao ano, que é extremamente restritivo (para a atividade econômica) e pode levar a uma queda do PIB em 2023", diz. "Não vejo um cenário diferente desse, a não ser que o BC comece a derrubar a Selic mais rápido se vir que o quadro lá fora estabilizou, que as commodities voltaram a níveis bem mais baixos", resume.

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Para o economista-chefe do Banco Alfa, Luis Otávio de Souza Leal, o aumento da taxa Selic a um nível superior a 13,0% em 2022 já poderia levar quase automaticamente juros acima de dois dígitos no ano que vem, devido ao tempo necessário para que o BC faça uma redução dos juros. Por ora, Leal estima juros de 12,25% no fim deste ano e de 9,5% no próximo, mas com potencial de alta.

"A visão é que talvez esse conflito (na Ucrânia) leve a impactos mais duradouros na inflação por causa do aumento de preços de commodities e fertilizantes, com custo para as lavouras e preços de alimentos elevados, quem está com juros mais altos esse ano dificilmente vai ver uma queda muito forte em 2023, porque o BC não vai cortar a Selic em 1,5 ponto por reunião", avalia.

Embora o aumento de preços de commodities (matérias-primas) possa ter efeitos positivos para a atividade, especialmente no primeiro semestre de 2022, a tendência é de um saldo negativo entre a segunda metade deste ano e ao menos o início do próximo, diz Leal.

O economista lembra que, este ano, o aumento dos preços pode compensar uma eventual redução da demanda por exportações de commodities, caso haja uma desaceleração do crescimento global. 

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No entanto, Leal avalia que a tendência é de redução desse efeito na segunda metade de 2022, com possíveis quedas do PIB. "Acho que a chance de uma recessão ano que vem é relevante, até porque toda a expectativa de política monetária mais apertada bate em atividade em 2023", afirma.

Na outra ponta, o economista-chefe da Necton Investimentos, André Perfeito, avalia que uma eventual definição sobre o cenário no Leste Europeu e sobre o próximo governo pode abrir espaço para uma queda de juros mais forte em 2023. O analista espera taxa Selic de 13,25% este ano, mas com redução a 9,0% até o fim do ano que vem. 

"Se a inflação desacelerar para em torno de 6,0% este ano e ficar em torno de 4,0% e 4,5% no ano que vem, teríamos um juro real entre 4,0% e 5,0%, razoável para um país como o Brasil", diz Perfeito. "É uma questão de avaliação do BC, porque essa atual diretoria, quando tem um juízo, persegue esse juízo, como foi quando cortou a Selic para patamares muito baixos em 2020 e subiu fortemente em 2021. Então acho que o BC não teria nenhum pudor em cortar o juro mais fortemente, se fosse o caso."

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