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Com investimentos em ritmo lento, BNDES empresta menos que em 2011

Relatório enviado pelo banco ao Congresso Nacional indica que desembolsos caíram 20,9% em relação a junho do ano passado

Por Vinicius Neder e RIO
Atualização:

A estagnação da economia no primeiro semestre atingiu o desempenho do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que liberou 3,8% menos recursos do que nos seis primeiros meses de 2011. A liberação dos recursos para financiamentos reflete o andamento dos projetos já aprovados pelo banco. De janeiro a junho, o BNDES liberou R$ 53,5 bilhões em empréstimos, em comparação a R$ 55,596 bilhões no primeiro semestre de 2011. Os dados constam do Relatório Gerencial Trimestral, enviado pelo BNDES ao Congresso Nacional. Até maio, os desembolsos se mantiveram no mesmo ritmo de 2011, mas o resultado de junho prejudicou o semestre. O relatório não informa valores exatos. Subtraindo-se do total do semestre o que foi liberado de janeiro a maio, conclui-se que o banco liberou R$ 9,69 bilhões em junho, 0,31% acima de maio, mas 20,9% abaixo de junho de 2011. O primeiro semestre de 2011 já havia registrado queda de 6,3% em relação a igual período de 2010. Havia preocupação com a inflação e o governo tentava esfriar uma economia que tinha crescido 7,5% em 2010, na esteira da reação à crise internacional. Em 2010, o BNDES acabara de ser turbinado com aportes do Tesouro e liberou o recorde de R$ 168,4 bilhões, 23,5% acima do de 2009. Com a piora da crise internacional a partir de meados do ano passado, a estagnação no início de 2012 foi mais forte do que o esperado. Para o economista José Luís Oreiro, professor da Universidade de Brasília (UnB), os dados apontam para uma dificuldade estrutural, mas numa situação diferente da observada na crise de 2008 para 2009, quando houve forte recuo na demanda em geral: "Agora, é diferente: esgotou-se a capacidade de a economia brasileira crescer." Para o economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central, a queda nos desembolsos do BNDES revela que o empresariado está sem disposição de investir, apesar de o banco de fomento oferecer o que chamou de "dinheiro de graça". O baixo apetite, diz, está relacionado ao cenário externo e principalmente à política econômica "errática, que atira para todos os lados": "Para um empresário racional, a melhor coisa agora não seria investir, mas sim fazer lobby junto ao governo".Recuo. O setor industrial recebeu do BNDES empréstimos em valor (R$ 15,2 bilhões) 18,9% menor do que no primeiro semestre de 2011. Mesmo o segmento que mais recebeu empréstimos, o de alimentos e bebidas, com R$ 2,3 bilhões no primeiro semestre, amargou recuo de 30,3% frente aos R$ 3,3 bilhões dos seis primeiros meses de 2011. O resultado geral do primeiro semestre só não foi pior porque o setor de comércio e serviços recebeu R$ 13,8 bilhões, 33,5% a mais do que nos seis primeiros meses de 2011. O setor de infraestrutura desembolsou 6,9% a menos, com R$ 20,1 bilhões. Em evidência com o lançamento do pacote de concessões de rodovias e ferrovias, a área de transportes (inclui também atividades auxiliares, de acordo com a classificação do BNDES) desembolsou R$ 11,8 bilhões no primeiro semestre, 23,4% menos do que no ano passado. Diante dos valores de janeiro a junho, o BNDES teria de expandir os desembolsos em 15,9% frente ao segundo semestre de 2011, para atingir a previsão de liberar R$ 150 bilhões este ano. O presidente do banco, Luciano Coutinho, tem destacado indícios de que a recuperação já começou. Ainda em julho, o BNDES previa liberar R$ 3,7 bilhões na Finame - linha para aquisição de máquinas e equipamentos - no mês, 15,6% acima dos R$ 3,2 bilhões de junho, mas, ainda assim, 21% abaixo de julho de 2011.

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