Com a taxa básica de juros mais baixa, hoje em 5% ao ano, investimentos de renda fixa com liquidez diária perdem a atratividade. Alguns deles, como a poupança e parte dos fundos de investimento de renda fixa, os chamados fundos DI, passam a não render o suficiente para repor a inflação. Por outro lado, para quem pensa em comprar um imóvel ou investir de alguma maneira no setor imobiliário, os recentes anúncios de redução dos juros no crédito imobiliário - motivados pela queda da Selic - são uma boa notícia. O planejador financeiro da Planejar, Rodrigo Assumpção, esteve no Estado para tirar dúvidas dos investidores sobre como alocar melhor os recursos no cenário de juros baixos.
Veja alguns pontos da entrevista:
A Selic mais baixa é uma oportunidade para investir em imóveis?
Sim, é uma oportunidade, mas não só porque o crédito está mais barato. A gente vem de alguns anos de recessão no País e o mercado imobiliário está parado há algum tempo. O preço dos imóveis ainda não voltou a patamares vistos anteriormentes, então a negociação fica melhor para o cliente. A casa própria não precisa ser vista como um investimento, como parte de uma carteira que se monta quando há uma reserva de recursos. Ela é um patrimônio que você adquire para seu uso. Mesmo assim, se o objetivo é diversificar a carteira de investimentos, estamos em um bom patamar para quem tem horizonte de longo prazo. Para o preço do imóvel voltar a subir, a economia precisa se recuperar e as taxas de desemprego melhorarem. Esse não é um movimento rápido. Para quem investe em imóveis não dá para pensar em um horizonte menor que três a quatro anos.
Qual outra forma de investir nesse setor que está aquecido?
Os fundos imobiliários são uma forma de investir nesse mercado. É um instrumento com características diferentes de ‘comprar o imóvel’, porque tem mais liquidez. Ou seja, o investidor pode colocar ou tirar os recursos quando quiser. A sensação de segurança também muda. Os fundos mostram diariamente a variação de preço dos ativos, enquanto um imóvel só demonstra essa variação anos depois, quando o investidor decide vendê-lo. A oscilação de preços, porém, acontece nos dois casos, a diferença é que no fundo você pode vê-la o tempo todo.
Quais investimentos correm risco de não repor mais a inflação com os próximos cortes da Selic? O Tesouro Selic é um deles?
Com os cortes na taxa de juros, todos os investimentos atrelados ao CDI vão perder atratividade: CDB, fundos DI, LCI, a própria poupança. No entanto, temos de olhar para os investimentos mais no longo prazo. Se enxergarmos apenas 12 meses para frente, em um cenário de Selic muito baixa, é possível que esses investimentos não reponham nem a inflação. No médio prazo, porém, a economia deve voltar a tracionar, puxar a inflação e, assim, a Selic também deve ser reajustada, o que melhora a rentabilidade desses ativos.
Alongar prazos na renda fixa já é tomar mais riscos?
Sim. Para tomar riscos e aumentar a rentabilidade, ir para a Bolsa não é a única opção. Buscar títulos mais longos, que não podem ser resgatados antes do prazo, também vai oferecer rentabilidade maior. O importante é saber que não há como adivinhar o momento certo de comprar cada título de determinado prazo. Por isso diversificar a carteira é tão relevante. Além disso, buscar um profissional capacitado também é positivo para acertar nessa diversificação.
Para guardar dinheiro com liquidez e vencer a inflação, ainda tem solução?
Ainda tem. O Tesouro Selic ainda rende um pouco acima da inflação, assim como fundos de renda fixa com taxa de administração menor. Investimentos de mais risco, mesmo com liquidez diária - como fundos multimercado - exigem mais tempo para que o investidor alcance rentabilidade. Do contrário, ele pode deixar o dinheiro ali em alguns meses ruins e não ter tempo de esperar os rendimentos de meses melhores.
E para quem quer começar a investir na Bolsa de Valores?
O primeiro conselho é ir com calma. Com juros mais baixos, aumenta-se a perspectiva de lucro das empresas listadas na Bolsa. No entanto, sem experiência o investidor corre o risco de comprar ações na alta e vender na baixa, que é o contrário do que se espera. Meu conselho é que o investidor não tente prever esses momentos de sobe e desce. O ideal é montar uma carteira de ações aos poucos, olhando o longo prazo, e assim começar a entender melhor o mercado.