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Com liderança do Brasil, protecionismo registra menor nível em uma década

Brasil foi governo que mais adotou medidas de aberta; Trump foi quem mais adotou barreiras

Por Jamil Chade e correspondente
Atualização:

GENEBRA – A Organização Mundial do Comércio (OMC) revela que a taxa de novas medidas protecionistas adotadas pelos governos é a menor em dez anos, com o Brasil liderando entre as economias que mais adotaram medidas de abertura. Mas a entidade também destaca que o governo dos EUA foi um dos poucos a ir na direção contrária desde a chegada do novo presidente à Casa Branca, Donald Trump. 

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Na semana passada, a OMC destacou numa avaliação sobre o Brasil o fato de que a política comercial do País nos últimos anos foi marcada por protecionismo e distorções. Mas, para 2017, os dados pelo menos sobre as barreiras demonstram uma outra realidade.

De acordo com os dados da OMC, o Brasil passou da condição de maior usuário de barreiras ao comércio em 2014 para o governo tem adotado mais medidas de abertura que de proteção ao mercado.

Apenas em cinco meses de 2017, sob a gestão de Trump, foram treze barreiras implementadas Foto: AP Photo/Alex Brandon

Entre outubro de 2016 e maio deste ano, o Brasil adotou um total de nove medidas de reduções de tarifas de importação e maior facilidade para o fluxo comercial. Além disso, implementou outras três ações de redução de entraves para a importação. 

No que se refere às medidas de defesa comercial, a OMC destaca que houve uma “notória redução” dos casos iniciados pelo Brasil. Em 2015, o País era o terceiro mais protecionista do G-20, com 23 medidas antidumping. Em 2016, foram apenas onze casos, o que deixou o Brasil na oitava posição. 

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Se considerado apenas o ano de 2017, apenas uma medida antidumping foi iniciada pelo Brasil, contra produtos siderúrgicos da Malásia, Tailândia e Indonésia.Os dados apontam para uma realidade bastante diferente de 2014, quando 35 barreias foram criadas pelo Brasil, contra apenas 19 nos EUA. 

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A tendência registrada no Brasil acabou ajudando a reduzir a média mundial de medidas protecionistas. Na primeira avaliação sobre o protecionismo no mundo desde a chegada de Donald Trump na Casa Branca, a OMC constatou que entre outubro de 2016 e maio de 2017, um total de 74 barreiras foram aplicadas pelo mundo contra o comércio. A média de onze barreiras por mês é a mais baixa desde a eclosão da crise mundial, em 2008 e foi comemorada pela OMC. 

“Isso constitui uma queda significativa em relação aos períodos anteriores, onde em média 15 novas medidas eram registradas, e marca a média mensal mais baixa da última década”, apontou a entidade. 

Enquanto 74 barreiras ao comércio foram impostas entre outubro de 2016 e maio de 2017, os governos adotaram 80 medidas liberalizantes e beneficiando um total de US$ 183 bilhões. O volume é três vezes o impacto das medidas protecionistas, de US$ 49 bilhões.

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“O informe mostra uma queda encorajadora na taxa de novas medidas de restrição ao comércio, atingindo a média mais baixa desde a crise financeira”, disse o diretor-geral da OMC, Roberto Azevêdo. Para ele, há um “claro sinal de que membros estão trabalhando para melhorar o ambiente comercial”. “Peço a todos que continuem a mostrar moderação no uso de medidas comerciais, apesar das incertezas persistentes na economia global”, disse. 

Nem todos, porém, adotaram uma postura de redução de barreiras. Apenas em cinco meses de 2017, sob a gestão de Trump, foram treze barreiras implementadas ao elevar impostos contra produtos estrangeiros, inclusive do Brasil. Outras duas medidas foram adotadas também para dificultar importações. 

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Previsão. A preocupação da OMC com o protecionismo não ocorre por acaso. 2016 viu o pior resultado de expansão das exportações mundiais desde 2009, com uma alta de apenas 1,3%. A taxa foi apenas metade da expansão de 2015 e bem abaixo da média de 4,7% registrada desde os anos 80.

No caso do Brasil, as exportações caíram em 8,6% no final de 2016. Mas a OMC destaca que a redução ocorreu a partir de taxas elevadas. Mas as importações continuaram “em profunda depressão”, caindo 0,9% entre o segundo trimestre de 2016 e o final do ano. 

Em 2017, a previsão é de que o crescimento seja de apenas 2,4%. Mas, caso as incertezas se confirmem, a expansão pode ser de 1,8%. Os primeiros dados do período entre janeiro e março indicam um “forte aumento” do fluxo comercial. 

“Isso poderia apontar para um crescimento do comércio global mais forte, pelo menos no curto prazo”, indicou a OMC. Mas a entidade alerta para os riscos como inflação e incertezas sobre o Brexit. 

Para o ano de 2018, a OMC trabalha com a perspectiva de que a expansão esteja entre 2,1% e 4,1%. 

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