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Com lucro em linha, Bradesco eleva previsão de crédito

Por ALUÍSIO ALVES
Atualização:

A manutenção dos planos de investimentos de grandes empresas e os bons níveis de emprego e renda, sem piora dos níveis de inadimplência, estão mantendo um cenário benigno para expansão das atividades de crédito no Brasil, a despeito do ciclo de aperto monetário em marcha no país. "O aumento da Selic ainda não surtiu efeito", disse o presidente do Bradesco, Márcio Cypriano, em teleconferência com jornalistas para comentar os resultados do banco no segundo trimestre de 2008, período em que a forte demanda por crédito foi o principal responsável por mais um lucro recorrente recorde no período. No final de junho, as operações de financiamento do banco totalizavam 181,6 bilhões de reais, um aumento de 7,2 por cento em relação a março e de 38,8 por cento na comparação com o final do primeiro semestre de 2007. De acordo com Cypriano, a principal explicação para esse movimento foi a elevada demanda por financiamentos pelas empresas de grande porte. "Elas estão desengavetando projetos e continuam com os planos de investimentos", disse o executivo. Ele explicou que, com a turbulência nas bolsas de valores, a busca de recursos destas empresas, que era feita sobretudo com a emissão de papéis no mercado de capitais, passou a ser feita no sistema bancário. "As operações de varejo também estão sendo beneficiadas pelo crescimento do emprego e da renda", complementou Milton Vargas, vice-presidente executivo do banco, na mesma teleconferência. Com isso, o Bradesco elevou a previsão de expansão da carteira de crédito este ano do intervalo de 21 a 25 por cento para 24 a 29 por cento. Cypriano diz não acreditar que o Banco Central vá tomar medidas para conter a atividade creditícia, além do ciclo de aperto monetário iniciado em abril. Desde então, a autoridade monetária já elevou a Selic de 11,25 para 13 por cento ao ano. A previsão do Bradesco é de que a taxa chegue aos 14,75 até dezembro. Os executivos consideraram possível uma desaceleração no ritmo de expansão do crédito na segunda metade do ano, mas descartaram uma possível piora nos índices de inadimplência. O nível médio de empréstimos com atraso dos pagamentos superior a 90 dias manteve-se em 3,5 por cento, o mesmo dos dois trimestres imediamente anteriores. No entanto, a inadimplência do varejo subiu para 6,7 por cento, a maior em pelo menos três anos, liderada pelos segmentos de cartões de crédito e automóveis. CSLL De acordo com Vargas, o banco já começou a recolher desde maio recursos para pagamento do aumento da alíquota da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), de 9 para 15 por cento. Foi uma das medidas anunciadas pelo governo federal no início do ano para fazer frente à queda de receita provocada pelo fim da CPMF. "Mas durante algum tempo, isso não vai afetar os resultados contábeis, porque estamos compensando com créditos, estoque que pode chegar até o final do ano que vem", afirmou. RESULTADO O Bradesco, maior banco privado do país, reportou lucro líquido de 2,002 bilhões de reais entre abril e junho, uma queda 13 por cento em relação a igual período do ano passado, que havia sido impulsionado por ítens extraordinários --354 milhões de reais referentes à venda de investimento na Arcelor Brasil e 599 milhões de reais de fatia na Serasa. Desconsiderados efeitos não recorrentes, no entanto, o lucro cresceu 11 por cento em relação ao mesmo período de 2007 e 5 por cento na comparação com o primeiro trimestre deste ano. Em números totais, o ganho líquido de janeiro a março deste ano chegou a 2,103 bilhões, mas foi inflado por 196 milhões de reais referentes à venda de participação na Visa Internacional. Também desconsiderados itens não recorrentes, no semestre, o lucro líquido do banco aumentou 11,5 por cento, para 3,909 bilhões de reais. Em números totais, a alta foi de 2,4 por cento, para 4,105 bilhões de reais. O número veio em linha com as projeções de analistas. Uma coluna em que o banco apresentou piora de desempenho foi a de receitas com serviços, que somou 2,775 bilhões de reais no trimestre, 1 por cento a menos do que o apurado entre janeiro e março. De acordo com Cypriano, o principal motivo dessa queda foi a mudança nas regras de tarifação bancária exigida pelo Banco Central e que entraram em vigor em 30 de abril. "Pretendemos recuperar as perdas aumentando a base de clientes", disse Cypriano, contando que o banco abriu 900 mil contas entre janeiro e junho, dentro da meta de ampliar a base de correntistas em 1,75 milhão em 2008. As ações preferencias do banco recuavam 3,74 por cento na Bolsa de Valores de São Paulo, para 31,14 reais. No ano, os papéis acumulam queda de 15,97 por cento. (Edição de Renato Andrade)

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