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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|Com manteiga é melhor

O ensinamento da avó de Christine Lagarde, do FMI, mostra que as encrencas da economia serão facilitadas com crescimento; no caso do Brasil, o grande desafio é colocar em ordem as contas

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Atualização:

No último dia 10, em entrevista ao canal americano de notícias CNN, a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional, Christine Lagarde, fez referência a um ensinamento da avó: “Tudo é melhor com manteiga”. O âncora resumiu depois com uma frase: “With butter is better”.

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Por meio da metáfora, Lagarde quis dizer que as soluções para as atuais encrencas da economia mundial seriam facilitadas se houvesse mais crescimento econômico, observação que também vale para o Brasil, que enfrenta a paradeira asfixiante de que todos sabemos.

Nesta quinta-feira, o Banco Central apresentou a tomada de pulso da atividade econômica do Brasil (o Índice de Atividade Econômica do Banco Central, o IBC-Br). A nova queda de 0,9% em agosto em relação a julho (veja o gráfico) sepultou as esperanças de recuperação da atividade econômica neste terceiro trimestre do ano. Se alguma houver, será a partir do quarto trimestre e só então se poderá saber se o brasileiro terá voltado a passar manteiga no pão amanhecido que está obrigado a engolir a seco.

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Na recessão, tudo fica mais difícil. A renda cai, o desemprego aumenta, as dívidas estouram. A arrecadação baqueia, os rombos se multiplicam, os projetos são adiados – e nas casas onde não há pão, e são muitas, todos gritam, ninguém tem razão e as soluções se esgarçam.

No entanto, a enrascada da economia mundial a que se referiu Lagarde é de destravamento mais complicado do que a do Brasil. Os grandes bancos centrais fizeram de tudo para azeitar os negócios, as economias nacionais estão atoladas em enormes déficits fiscais, as despesas com seguro-desemprego e seguridade social aumentam exponencialmente num ambiente de quebra persistente de arrecadação.

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O desemprego aumenta, a gritaria também, a sensação é de alastramento do mal-estar, que o francês prefere chamar de malaise. Tudo isso vem acompanhado da percepção de aumento das ameaças, de que cada vez mais estranhos procuram meter a mão no prato da família. São os asiáticos – e não só os chineses – que empurram mundo afora mercadorias produzidas com salários baixos e, nesse jogo, matam a indústria e o emprego nos países mais avançados; e é a inundação do mercado de trabalho com novas ondas de imigrantes e de refugiados. Assim, a manteiga desaparece da mesa das pessoas comuns, o discurso populista ganha audiência, as políticas protecionistas prosperam e tudo fica mais difícil.

No Brasil, esse climão asfixiante também prevalece, como todos vivenciamos. Mas, ao contrário do que acontece na Europa, as soluções, embora dolorosas, estão disponíveis e o potencial de retomada do crescimento econômico, do emprego e da renda é incomparavelmente maior.

Somos uma economia desarrumada por alguns anos de políticas equivocadas e experimentos econômicos desastrosos, mas o País tem projeto. Basta que a casa seja colocada em ordem para que a economia volte a funcionar.

No momento, o grande desafio é colocar em marcha a arrumação, que consiste em reequilibrar as contas públicas e em providenciar as reformas, tão desgastantes e tão sofridas. Se for com manteiga, será melhor.

CONFIRA:

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Por onde começar?

Não há sinais de que o aumento do consumo comece a puxar pelo crescimento econômico. O desemprego, a queda da renda e o alto endividamento das famílias tendem a atrapalhar a retomada. Se o resto do mundo estivesse crescendo, as exportações poderiam ajudar. Mas não é este o caso.

Investimento

O setor que mais pode contribuir para a virada é o investimento, principalmente o acionado pelas obras públicas e pelo leilão de concessões de serviços públicos. Os obstáculos nesse campo são o rombo fiscal (falta de recursos) e a falta de regras atraentes e firmes de jogo nas concessões.

Capacidade Ociosa

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No entanto, como o Banco Central admitiu no comunicado do Copom, a forte capacidade ociosa (cerca de 21%) é fator hoje negativo que pode rapidamente se transformar em positivo. Permitiria o aumento da produção sem investimento adicional. Mas, por enquanto, prevalece a redução da capacidade de consumo da população.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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