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Com minério de ferro em alta, Vale deve garantir dividendo bilionário em 2021

Na semana passada, a mineradora anunciou o pagamento a acionistas pela primeira vez desde Brumadinho; valor de US$ 2,3 bilhões ficou US$ 1 bilhão acima do mínimo estabelecido

Por Mariana Durão
Atualização:

RIO - O anúncio do pagamento de US$ 2,3 bilhões (cerca de R$ 12,2 bilhões) pela Vale em remuneração aos acionistas - US$ 1 bilhão além do mínimo estabelecido na política de dividendos - não significa que a companhia abandonará a postura conservadora. A prioridade é reservar recursos para pagar potenciais desembolsos e compromissos com Brumadinho (MG), disse uma fonte ouvida pelo Estadão/Broadcast

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Os preços do minério em alta e o bom desempenho no segundo semestre, entretanto, devem garantir dividendo pelo menos no mesmo patamar do anunciado na última quinta-feira, 11, para março de 2021, próxima data de pagamento aos acionistas da empresa.

O cálculo leva em conta as diretrizes estabelecidas pela política de remuneração da mineradora, isto é, sem considerar eventual decisão do conselho de pagar além do mínimo. Pela política, o valor da remuneração é de 30% do Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) ajustado, menos investimento corrente apurado na demonstração do resultado do segundo semestre, para a parcela de março.

Exploração de minério de ferroda Vale, em Minas. Foto: Fabio Motta/Estadão - 7/7/2015

A Vale já bateu sua meta 'informal' de manter a dívida líquida abaixo de US$ 10 bilhões, com o indicador em US$ 4,697 bilhões no fim de junho. A estimativa interna é que o endividamento líquido caia abaixo dos US$ 2 bilhões no fim do ano, o menor patamar dos últimos 20 anos. A suspensão do pagamento de dividendos desde a tragédia de Brumadinho, em janeiro de 2019, é vista como a grande responsável por esse patamar baixo.

Mesmo levando em conta as provisões e prejuízos decorrentes do desastre, a Vale poderia ter distribuído cerca de R$ 15 bilhões em dividendos nos últimos dois anos, mas optou pela "solidez do balanço". O objetivo foi criar uma reserva para arcar com compromissos, caso algum imprevisto mudasse os rumos do preço de seu principal produto, o minério de ferro, hoje na casa dos US$ 125 por tonelada. A companhia tem US$ 3,4 bilhões provisionados para Brumadinho. São esperados apenas pequenos ajustes para esse montante, segundo apurou o Estadão/Broadcast.

Ainda que o pagamento bilionário anunciado na semana passada tenha surpreendido, o analista Thiago Lofiego, do Bradesco BBI, disse que, considerando a posição da dívida líquida ajustada da empresa no segundo trimestre, de US$ 8,1 bilhões (somados os compromissos de Brumadinho), e a expectativa de uma geração de caixa livre robusta à frente, o valor do dividendo extraordinário apresentado foi "um tanto conservador".

Com o preço médio de US$ 100 por tonelada para o minério de ferro no segundo semestre, Lofiego calcula que o dividendo mínimo a ser pago em março de 2021 deve atingir aproximadamente US$ 3 bilhões. Ele considera provável o anúncio de um valor superior a esse mínimo. "Dito isso, os investidores comprando ações agora desfrutariam de dividendo de pelo menos US$ 5 bilhões até março de 2021, ou um rendimento de cerca de 9%", afirma, em relatório distribuído a seus clientes.

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A última vez que a Vale pagou dividendos foi em 20 de setembro de 2018 - um total de R$ 893 milhões. A companhia tradicionalmente pagava dividendos robustos, mas reduziu valores desde o recorde de US$ 9 bilhões em 2011, quando os preços de seu principal produto ainda estavam no auge, até suspender totalmente a remuneração aos acionistas em resposta ao rompimento da barragem de Brumadinho.

Produção

Em conferência com o Credit Suisse em Nova York, na semana passada, a mineradora brasileira reafirmou que deverá cumprir a meta de produção de minério de ferro para 2020 (de 310 a 330 milhões de toneladas), provavelmente com entrega mais próxima ao piso. O relatório dos analistas Caio Ribeiro e Gabriel Galvão destaca que, apesar disso, as vendas da mineradora podem ficar abaixo de 300 milhões de toneladas no ano, dada a necessidade de recompor estoques.

A Vale afirmou no encontro que a demanda da China por minério está em um patamar saudável, mas que considera o nível atual de preços (na casa dos US$ 130 por tonelada) insustentável. Uma vez que uma maior oferta da própria companhia chegue ao mercado chinês, a tendência é que os preços sejam pressionados para baixo.

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“Apesar dessa possível pressão à frente, eles (Vale) acreditam que levará algum tempo até que os preços voltem a US$ 60-80/t (o que dependeria em grande parte do retorno da capacidade da Vale a 400 milhões de toneladas de minério até 2022-2023, na opinião da companhia)”, aponta o documento.

Em relatório baseado no encontro, o Credit Suisse relata ainda que a Vale acredita que a Samarco, joint venture com a BHP Billiton, deve alcançar um patamar de produção próximo de 7 milhões a 8 milhões de toneladas no ano que vem, após reiniciar no fim deste ano suas atividades - paradas desde o rompimento da barragem de Fundão, em 2015.

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