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Com nível baixo dos reservatórios das usinas, ONS vai aumentar uso de termoelétricas

Consumo de energia no País aumentou com a flexibilização do isolamento social e a recuperação da economia; chuvas nos reservatórios das hidrelétricas estão previstas para meados deste mês

Por Denise Luna (Broadcast)
Atualização:

RIO - A situação preocupante dos reservatórios das hidrelétricas dos subsistemas Sul e Sudeste/Centro-Oeste vai obrigar o Operador Nacional do Sistema (ONS) a elevar este ano o uso de usinas termoelétricas acima do registrado em outubro do ano passado, podendo chegar aos 16 mil megawatts/dia, acima do patamar de 14 mil MW/dia de 2019, para fazer frente ao aumento do consumo trazido pela recuperação econômica e pelo aumento da temperatura, informou em entrevista ao Estadão/Broadcast o diretor-geral do Operador, Luiz Ciocchi.

Com nível baixo dos reservatórios das usinas, ONS vai aumentar uso de termelétricas; na foto, a usina termoelétrica Nova Piratininga Foto: Valeria Gonçalvez/ Agência Estado - 3/4/2006

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Às vésperas de completar seis meses no cargo, Ciocchi assumiu o complexo posto de operador do sistema em plena pandemia, o que o impediu de conhecer pessoalmente seus funcionários, que desde março trabalham em home office, com apenas 5% do efetivo no campo de batalha das mesas de operação. 

“Muito provavelmente este outubro foi um dos outubros mais secos de toda a história, desde 1931, quando começou a série histórica. É o mais seco da Região Sul e o terceiro mais seco na Região Sudeste”, afirmou o executivo, contando, porém, com as previsões de chuvas intensas nos reservatórios das hidrelétricas em meados de novembro.

Para poupar os reservatórios nessas regiões, o ONS tem acionado usinas termoelétricas, mais caras para o consumidor. “A gente vinha despachando bem menos as térmicas do que no ano passado, em setembro era algo como 7, 8, 9 mil MW. A partir do fim de outubro a gente voltou ao patamar de 14 mil MW, como no ano passado , e a expectativa é que a gente consiga poupar um pouco essa água dos reservatórios subindo esse despacho”, explicou.

A maior preocupação é com o Sul, mas no Sudeste a bacia do Rio Grande, que abastece Furnas, também inspira cuidados. 

Também as intensas queimadas deste ano têm sido um grande desafio, apesarde não ter sido registrado nenhum grande acidente na rede. “Calor acima de 30 graus e umidade abaixo de 30% é a combinação ideal para você ter queimadas que atingem as linhas de transmissão. Problemas tivemos vários, mas nenhuma ocorrência grave”, disse.

Por outro lado, foi também após a sua chegada que o subsistema Nordeste saiu de importador para exportador de energia, em meados do ano, impulsionado pela boa safra de ventos para a geração eólica. Agora, porém, os ventos começam a perder força. “Vamos ter que usar um pouco mais Sobradinho (hidrelétrica da Bahia)”, informou , descartando qualquer problema no abastecimento de energia no País.

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Segundo Ciocchi, em meados de novembro esse cenário deve mudar e a previsão é de um fim de ano mais favorável sob o ponto de vista hídrico, mesmo se houver uma aceleração da recuperação econômica, como sinalizam alguns indicadores. Com a economia crescendo, ele prevê que no início do próximo ano os leilões do mercado regulado devem voltar, para entrega de energia em 2021, 2022 ou 2023, depois de terem sido suspensos este ano por falta de demanda das distribuidoras. 

“Do ponto de vista de abastecimento de energia, podem ficar tranquilos, a gente tem os recursos, mesmo com a retomada econômica. São recursos mais caros, das termoelétricas, mas dá para aguentar bastante tempo, não tem nenhuma sinalização preocupante no horizonte. A preocupação é com a água”, avalia.

No início deste ano o ONS implantou um novo sistema para determinação das usinas que vão gerar energia para o atendimento das necessidades do País. Denominado "Dessem", o modelo de otimização de curtíssimo prazo trará informações a cada meia hora do Custo Marginal de Operação (CMO) do sistema elétrico, possibilitando ao ONS determinar a operação das usinas com o menor custo total para os consumidores. Antes da adoção do Dessem, o cálculo do CMO era realizado semanalmente.

Agora, em 1º de janeiro do que vem, o País vai adotar o modelo do Dessem para determinação do preço-horário a ser utilizado na contabilização e liquidação do mercado de curto prazo.

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O Dessem, também conhecido como Modelo de Despacho Hidrotérmico de Curtíssimo Prazo, foi desenvolvido pelo Centro de Pesquisa de Energia Elétrica (Cepel), da Eletrobrás. Seu objetivo é otimizar a operação diária dos sistemas de energia no Brasil, considerando tanto aspectos relacionados à rede elétrica quanto à operação das hidrelétricas, termoelétricas e demais componentes do setor.

“O preço-horário é uma grande conquista, uma grande evolução, mas também não é a bala de prata. Ele entra em vigor dia 1.º e no dia 2 começa o aprendizado. Tem muito o que aprender na utilização do preço-horário, desde os grandes consumidores, as grandes comercializadoras, até que daqui a algum tempo vai afetar a vida doméstica”, completa.

Segundo Ciocchi, o sistema traz inúmeras possibilidades de economia, pois haverá um sinal econômico bem definido, por região, por subsistema, possibilitando o uso da energia no momento em que mais convier ao consumidor. O modelo poderá também impulsionar o uso de baterias para armazenagem, o que já está no radar de algumas empresas, segundo o executivo.

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“Eu vejo alguns movimentos da Vale, que está fazendo um parque de baterias; a AES Tietê também divulgou um experimento com baterias, e isso pode trazer velocidade maior para o operador. Se você conseguir fazer o armazenamento ou com baterias ou com outra tecnologia que vem crescendo, que é armazenamento em hidrogênio, isso só ajuda o operador”, avalia.

Para as energias renováveis solar e eólica, em crescimento no País, a armazenagem também é bastante eficiente, explica, já que atenua a curva de variabilidade da geração, facilitando o trabalho do ONS, mas também as hidrelétricas poderão se beneficiar. “Pode gerar energia e armazenar para depois entrar no pico (do consumo)”, exemplifica. “A operação do sistema vai ser uma coisa cada vez mais sofisticada, seja na gestão do sistema elétrico, seja no próprio sistema elétrico”, conclui.

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