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''Com o Smiles, estamos atraindo os passageiros de negócios''

Companhia aérea lucra com sinergias geradas pela compra da Varig e encosta na líder TAM no mercado doméstico

Por Mariana Barbosa
Atualização:

Um clima de euforia tomou conta dos funcionários da Gol. Fazia uns dois anos que não se via, como ocorreu na última terça-feira, um departamento inteiro se reunir para um happy hour depois do expediente para comemorar resultados da própria companhia. Acostumada ao crescimento contínuo desde sua origem, em 2001, a Gol passou por períodos difíceis desde que incorporou a Varig, em abril de 2007. Depois de sucessivos prejuízos líquidos e operacionais - só em 2008 o prejuízo líquido somou R$ 1,38 bilhão - a Gol divulgou na terça-feira o balanço do segundo trimestre e exibiu seu quarto lucro operacional consecutivo (R$ 89,9 milhões). Na interpretação do mercado, os resultados indicam que o processo de incorporação da Varig chegou ao fim e que agora a companhia pode colher frutos da sinergia. Bem-humorado, mas apressado, o presidente da Gol, Constantino de Oliveira Junior, recebeu a reportagem para uma breve entrevista ontem na hora do almoço. Em tempos de vacas gordas, a pressa numa sexta-feira nada tinha a ver com os negócios da companhia, embora seu compromisso seguinte fosse de "relacionamento" com um vice-presidente da fabricante Boeing. Corredor da copa Porsche GT3 Cup Challenge Brasil, Junior iria levar o executivo para uma voltinha a 250 km/hora no autódromo de Jacarepaguá, no Rio. Esta semana a Gol divulgou seu quarto lucro trimestral positivo e ainda registrou um empate técnico com a TAM na liderança do mercado doméstico. O senhor agora está comemorando? Comemorar resultado é uma coisa complicada. Comemoro muito mais a pontualidade. Em julho, atingimos 97%. Parece que estou brincando, mas é sério. Houve esforço enorme para ajustar a operação, reduzir custos e melhorar a qualidade do serviço. Melhoramos o nosso site de vendas, estamos revitalizando o Smiles. Hoje, 20% dos passageiros no Galeão embarcam no autoatendimento. Isso é mais conveniente para o passageiro e representa redução de custos para nós. Esse resultado operacional é reflexo desse esforço de redução de custos. Não veio por acaso. A Varig gerou mais de R$ 1 bilhão de prejuízo. Em algum momento o sr. se arrependeu de ter adquirido a empresa? Eu sempre disse que era muito cedo para falar se foi acertada ou errada a compra da Varig. A decisão de iniciar os voos internacionais de longo curso foi um erro. Se eu pudesse voltar atrás, eu não tinha feito. Agora a compra da Varig é outra história e ela nos abriu uma série de possibilidades. Mas além dos problemas no internacional, fomos influenciados pelas circunstâncias, pelo prolongamento do caos aéreo e as restrições no aeroporto de Congonhas. Ou seja, tinha todo um ambiente negativo logo após a compra da Varig, além do próprio desafio de absorver a Varig. Mas isso é página virada. A incorporação da Varig já está completa e agora estamos começando a abstrair sinergias. Quais são essas sinergias? O principal benefício é mercadológico. Nós crescemos nos principais mercados por ter mais slots (horários nos aeroportos concorridos), por ter mais infraestrutura nesses aeroportos e por ter um programa de milhagem que já nasceu grande dentro da Gol. O que o Smiles agregou para a Gol? O Smiles nos abre a possibilidade de crescer nos principais mercados, onde o público que viaja a negócios é o mais importante. Com a Varig passamos a ter frequências mas, para atrair esse perfil de cliente de negócios, que paga tarifas mais altas, é fundamental ter um programa de milhagem que possa ser usado para voos internacionais. O perfil do passageiro da Gol muda com o Smiles? Está mudando. A nossa expectativa é de sair de um nível de 60% de passageiros de negócios para 65%. Acredito que o Smiles vai ajudar a gente a fazer valer o nosso slogan "Aqui todo mundo pode voar", atraindo o passageiro de negócios. Por outro lado, investimos também no programa de parcelamento Voe Fácil, para transformá-lo em meio de pagamento para aquele público extremamente sensível a preço. O Voe Fácil tem hoje 1,2 milhão de clientes cadastrados - 70% é classe C e 20% é classe D. A Gol praticamente empatou com a líder TAM em julho, uma diferença de 0,27 ponto porcentual. Vocês vão passar a TAM? Seria natural pensar que em agosto a TAM vai recuperar essa diferença. Sempre foi assim. Em julho a gente melhora e em agosto tem pequena queda. Talvez a queda dessa vez não seja tão grande por conta desse novo posicionamento, com o Smiles nos ajudando a reter um pouco do passageiro de negócios.

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