19 de maio de 2021 | 15h20
RIO - Um levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) apontou que, proporcionalmente, o Brasil registrou no ano passado mais mortes por covid-19 do que 89,3% dos países do mundo. Segundo o estudo, o País também registrou a 11ª pior queda no índice de ocupação de pessoas em idade para trabalhar.
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O comparativo sobre mortes considera as 179 nações com dados compilados pela Organização Mundial de Saúde (OMS). E o dado sobre emprego leva em conta 64 países que têm estatísticas na Organização Internacional do Trabalho (OIT).
A nota técnica "Mortalidade por covid-19 e queda do emprego no Brasil e no mundo" é assinada por Marcos Hecksher, assessor especializado da Diretoria de Estudos e Políticas Sociais do Ipea. Ele ressalva no documento que comparações internacionais sempre precisam considerar uma série de fatores. Entre eles, está o fato de que o impacto da pandemia variou muito dentro de cada país. Mas, ainda assim, os números merecem ser comparados, diz.
"Entre 179 países com algum registro de morte por covid-19 em 2020 na compilação da OMS, o Brasil aparece com a 20.ª maior proporção de sua população vitimada. Dos demais 178 países com algum registro, 159 (ou 89,3%) tiveram menos mortes por 100 mil habitantes que o Brasil", cita a nota técnica.
O texto acrescenta que países desenvolvidos que tiveram desempenho pior que o brasileiro - grupo que inclui Bélgica, Itália e Reino Unido, entre outros - têm uma proporção de idosos maior que a brasileira. E, como idosos eram mais vulneráveis aos efeitos da covid-19, foi preciso fazer um ajuste.
"Dentro do mesmo conjunto de 179 países em que o Brasil apresentou a 20.ª maior taxa bruta de mortalidade por 100 mil habitantes, o País passa a ter a 10.ª pior posição no ranking ajustado à composição demográfica (considerando a idade). Em 169 dos demais 178 países (94,9% do total), o total de mortes registradas por covid-19 foi menor do que se esperaria com o padrão de mortalidade brasileiro", aponta o estudo. "Após o ajuste à distribuição populacional por faixa etária e sexo, sete dos nove países com indicador pior que o brasileiro passam a ser latino-americanos."
Segundo o levantamento, em 2019, antes da pandemia, o Brasil registrava o 25.º menor nível de ocupação entre 64 países com dados na OIT. À época, pouco mais da metade da população brasileira em idade para trabalhar (55,8%) estava ocupada. No ano passado, porém, esse índice caiu para 48,8%, a 16.ª menor taxa entre as nações do grupo.
A nota técnica ressalta ainda que o Brasil registrou em meio à pandemia a 11.ª pior queda entre os 64 países analisados. Em termos porcentuais, isso representa variação negativa pior que de 84,1% das nações analisadas.
Hecksher ressalva que o impacto no mercado de trabalho também não foi homogêneo. Para ele, é importante considerar aspectos como faixa etária e nível de escolaridade, por exemplo. Mas a nota aponta que os trabalhadores informais - grupo que responde pelas maiores proporções de trabalhadores nos países menos desenvolvidos - foram os mais afetados.
"Os indicadores analisados nesta nota apontam que os impactos conhecidos da pandemia de covid-19 em 2020 no Brasil foram fortes, não apenas em comparação às séries históricas do próprio País, mas também no contexto internacional. Nos períodos analisados, o Brasil e outros países latino-americanos estão entre os mais atingidos do mundo em perdas de vidas e de empregos. Países da Oceania, da Ásia e da Escandinávia figuram entre os menos atingidos nas duas dimensões em 2020", diz trecho da nota técnica.
Outro estudo publicado nos últimos dias, do economista Marcelo Neri, da FGV Social, mostra aumento da vulnerabilidade entre os mais jovens em meio à pandemia. Segundo o documento, ainda que de forma surpreendente, a evasão escolar tenha caído, chamou especial atenção a situação do grupo dos considerados "nem-nem". Essa faixa é formada por aqueles que estão ao mesmo tempo fora do mercado de trabalho e de instituições de ensino.
"Com a chegada da pandemia depois do último trimestre de 2019, a taxa de jovens nem-nem, que se encontrava em 23,66% (da população brasileira), acelera, chegando ao recorde histórico de 29,33% no segundo trimestre do ano", diz trecho do estudo "Juventudes, Educação e Trabalho: Impactos da Pandemia nos Nem-Nem". O porcentual ficou em 25,52% no último trimestre de 2020.
Neri ressalta que, desde o fim de 2014, o Brasil já registrava piora em seus índices de desigualdade. Jovens entre 20 e 24 anos e adolescentes foram os mais prejudicados em termos de renda. A pandemia de covid-19 acentuou o problema.
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