PUBLICIDADE

Com piora da pandemia, serviços têm queda de 4% em março

Setor fechou o primeiro trimestre no vermelho e voltou a ficar abaixo do patamar pré-covid, segundo o IBGE; a perda acumulada em 12 meses é de 8%

Por Daniela Amorim (Broadcast) e Guilherme Bianchini
Atualização:

RIO e SÃO PAULO - O recrudescimento da pandemia de covid-19 derrubou o volume de serviços prestados no País em março. O setor encolheu 4,0% em relação a fevereiro, após ter avançado 4,6% no mês anterior, segundo os dados da Pesquisa Mensal de Serviços, divulgados nesta quarta-feira, 12, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

PUBLICIDADE

O setor depende do avanço da imunização da população contra a covid-19 para engatar uma recuperação mais consistente, apontou Rodrigo Lobo, gerente da pesquisa do IBGE.

“Dadas as medidas restritivas, dado o aumento de casos de covid e número de óbitos, ainda há algum tipo de impedimento de funcionamento das empresas de caráter presencial. Isso dificulta uma recuperação mais acelerada do setor de serviços nesse momento”, justificou Lobo.

O pesquisador do IBGE lembra que o mês de março teve uma série de decretos com medidas restritivas para conter a disseminação do novo coronavírus, o que abalou o desempenho de segmentos de serviços de caráter presencial, como restaurantes, hotéis, transporte aéreo e transporte rodoviário coletivo.

“Todos esses serviços de caráter presencial trazem as perdas mais intensas desde abril de 2020”, pontuou.

O destaque de março ante fevereiro foi o tombo de 27,0% nos serviços prestados às famílias, mas também houve perdas nos transportes (-1,9%) e nos serviços profissionais, administrativos e complementares (-1,4%). Os avanços ocorreram nos setores de informação e comunicação (1,9%) e de outros serviços (3,7%).

“Um bom termômetro de como anda a parte de serviços presencial é olhar um pouco as atividades turísticas, que em março mostraram queda bastante acentuada”, observou Lobo.

Publicidade

O agregado especial de atividades turísticas recuou 22,0% em março ante fevereiro, precisando crescer 78,7% para retornar ao patamar de fevereiro do ano passado, no pré-pandemia.

“Serviços como um todo vão avançar com vacinação, mas já se observa um dinamismo positivo. As empresas começaram a lidar melhor com a pandemia, com digitalização, adaptando-se às circunstâncias. Serviços de informação estão acima do patamar pré-pandemia, assim como transportes e outros serviços”, avaliou o economista Lucas Maynard, do banco Santander Brasil.

Segundo o IBGE, os serviços prestados às famílias, que incluem bares e restaurantes, tiveram queda de 27% em março. Foto: Alex Silva/Estadão - 24/4/2021

 

Na média global, o setor de serviços chegou a março 2,8% aquém do pré-pandemia, depois da melhora registrada em fevereiro. Rodrigo Lobo ponderou que a adaptação de empresas à crise sanitária limitou a magnitude das perdas recentes e que as restrições de março de 2021 foram mais suaves que as de março de 2020. No entanto, a retomada mais consistente dos serviços “só vai acontecer quando tiver ao menos um porcentual maior de pessoas vacinadas”, defendeu o pesquisador do IBGE, lembrando que o avanço da imunização da população brasileira reduzirá a necessidade de medidas restritivas.

“(A vacinação servirá) Para que os próprios consumidores desses serviços possam se sentir mais confiantes e usufruir novamente desse tipo de serviço”, completou.

O volume de serviços prestados no País cresceu 2,8% no primeiro trimestre de 2021 ante o quarto trimestre de 2020.

"Tem crescimento nos últimos três trimestres, crescimentos cada vez menos intensos", observou Rodrigo Lobo.

Embora a atividade econômica tenha apresentado resultados melhores que o esperado no primeiro trimestre, a falta de um fechamento total no período mais impactante da pandemia do novo coronavírus impõe riscos para a sequência do ano, como o de uma terceira onda, alertou o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale.

Publicidade

“Não foi uma paralisia total, grave e aguda da atividade como no início da pandemia. É meio caminho andado para a retomada. Mas não é tudo, porque a sociedade está esgarçada, e não ter fechado tudo, como precisava, traz risco lá na frente. Aparecer uma terceira onda antes de vacinar todos e ter que pensar em parar, fechar fábricas. É um risco difícil de dosar”, analisou Vale.

Dado o cenário atual da atividade, a MB deve revisar para cima a projeção para o PIB de 2021, de 2,6% para cerca de 3,0%. “Conseguimos ter resultados melhores do que a expectativa de um primeiro trimestre mais afetado”, justificou Vale. 

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.