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Com piora do cenário externo, Bovespa interrompe altas

Piora das bolsas nos EUA serviu como argumento para um movimento de realização de lucros sobre as ações

Por Paula Laier
Atualização:

Após quatro altas seguidas, a Bovespa encerrou no vermelho o pregão desta quinta-feira, perdendo o patamar dos 40 mil pontos recuperado na quarta-feira, após 12 dias abaixo desse nível. A piora das bolsas nos EUA serviu como argumento para um movimento de realização de lucros sobre as ações brasileiras. Até ontem, o Ibovespa acumulava um ganho de 7,13% no mês de janeiro, sendo que somente nas últimas quatro sessões a valorização era de 6,15%. Hoje, o principal índice do mercado acionário doméstico encerrou o dia em baixa de 1,46%, aos 39.638,42 pontos - de 40.229 pontos na máxima (estável) e 39.369 pontos na mínima (-2,14%). O volume financeiro somou R$ 2,831 bilhões (preliminar) - e foi considerado baixo por operadores. Apesar da queda de hoje, o Ibovespa ainda contabiliza alta de 5,56% no mês. Veja também: Câmara aprova pacote de Obama de US$ 819 bi Bolsas da Ásia sobem com otimismo sobre pacote dos EUA De olho nos sintomas da crise econômica  Dicionário da crise  Lições de 29 Como o mundo reage à crise  "Acho que ressaca é um ótimo termo para definir o estado do mercado nesta sessão. O movimento de ontem foi exagerado e os investidores 'caíram na real' hoje logo cedo com os resultados corporativos ruins nos EUA, Europa e Japão, e os indicadores econômicos divulgados na sequência afundaram ainda mais os índices acionários ao redor do mundo, contaminando a Bovespa", comentou Paulo Rebuzzi, operador na corretora Ativa. No noticiário corporativo, repercutiu mal o anúncio de ontem da Starbucks de que seu lucro líquido caiu 69% no primeiro trimestre fiscal de 2009 e que vai fechar mais 300 lojas e demitir quase 7 mil funcionários. Hoje, a Ford Motor reportou prejuízo líquido de US$ 5,9 bilhões (US$ 2,46 por ação) no quarto trimestre de 2008 e confirmou a demissão de 1,2 mil funcionários na unidade Ford Motor Credit. A farmacêutica AstraZeneca anunciou queda no lucro do quarto trimestre, para US$ 1,25 bilhão, e corte de 15 mil empregos nos próximos cinco anos. A Eli Lilly, por sua vez, divulgou prejuízo líquido de US$ 3,63 bilhões no quarto trimestre. Na Europa, a Royal Dutch Shell divulgou prejuízo líquido de US$ 2,81 bilhões no quarto trimestre do ano passado, saindo do lucro líquido de US$ 8,47 bilhões registrado em igual período de 2007. No Japão, a Sony anunciou que seu lucro no quarto trimestre de 2008 (terceiro trimestre fiscal da empresa) caiu 95% em relação ao mesmo período do ano anterior. Para piorar, a pauta de indicadores trouxe dados "péssimos", na palavra de um operador. Nos EUA, as vendas de imóveis novos caíram 14,7% em dezembro, as encomendas de bens duráveis recuaram 2,6% em dezembro e os pedidos de auxílio-desemprego subiram em 3 mil na semana encerrada em 24 de janeiro - contra expectativa de queda. Na Europa, o índice de confiança dos empresários e consumidores nos 16 países que usam o euro como moeda caiu ainda mais e atingiu mínima recorde em janeiro. No Reino Unido, o preço médio das moradias caiu 16,6% em janeiro na comparação com igual mês do ano passado. Além disso, também houve um pouco de "compra no boato e realiza no fato", acrescentou Renato Bandeira de Mello, gerente operacional na corretora Futura. "As bolsas estavam subindo ontem, reflexo da expectativa de aprovação do pacote de estímulo à economia norte-americana e do anúncio do plano para montar um 'banco ruim' (bad bank), com o objetivo de comprar os chamados ativos tóxicos. Com a aprovação ontem do plano de estímulo na Câmara, muitos players aproveitaram para realizar lucros e esperar a aprovação do Senado." O responsável pelo departamento de derivativos de outra corretora em São Paulo também considerou que o fato de 100% dos republicanos terem votado contra o programa de US$ 819 bilhões pode ter servido como argumento para alguma realização de lucros em Nova York, tendo em vista que tal atitude da oposição poderia complicar a aprovação do plano no Senado. E a piora lá fora arrastou a Bovespa junto, acrescentou. Na Câmara, os democratas têm ampla maioria na Câmara: 255 deputados, ante 178 republicanos (há duas cadeiras vagas). No Senado, contudo, são 49 parlamentares de cada lado, e dois independentes. Em Wall Street, às 18h, o Dow Jones cedia 2,28%, o S&P-500 recuava 2,73% e o Nasdaq perdia 2,77%. No ambiente doméstico, a ata do Copom era a divulgação mais aguardada, mas as informações no documento referente à reunião da semana passada, quando o BC reduziu a Selic de 13,75% para 12,75% ao ano, pouco influenciou as ações. Para muitos analistas, o Copom adotou um discurso 'dovish' (agressivo em relação a cortes na Selic), com destaque à desaceleração da atividade econômica e melhora nas expectativas de inflação. Na visão de muitos especialistas, o documento corrobora a aposta de uma queda de 1 ponto porcentual da Selic em março. No noticiário corporativo, a siderúrgica japonesa Nippon Steel anunciou que comprará da Vale uma participação de 5,9% na Usiminas. Com a transação, a participação da siderúrgica japonesa no capital votante da Usiminas subirá de 23,3% para 29,2%, disse a Nippon Steel. Tal anúncio beneficiou as ações da Usiminas. As ON ganharam 5,40% (a maior alta do índice) e as PNA valorizaram-se 0,41%. No caso da Vale, as PNA caíram 2,96% e as ON -2,68%. "A Vale já vinha de uma semana de alta, já tinha puxado muito, tinha que realizar em um dia como esse", explicou um operador, citando que a notícia é positiva para a mineradora brasileira. A outra blue chip, Petrobras, também sentiu o impacto da realização de lucros, ampliada ainda pela queda nos preços do petróleo. Petro PN caiu 0,67% e ON recuou 1,41%. Na Nymex, o contrato de petróleo para março encerrou negociado a US$ 41,44, em queda de 1,71%. As quedas no Ibovespa foram lideradas por Klabin PN (-6,45%), Aracruz PNB (-4,72%) e TIM Participações S.A. ON (-4,23%). No outro extremo, atrás de Usiminas ON, Redecard ON subiu 2,35% e Transmissão Paulista PN avançou 1,82%. No setor bancário, não ajudou a revisão do JPMorgan na recomendação para as ações preferenciais do Bradesco de "compra" para "neutra", em relatório sobre os bancos brasileiros em que aponta um ambiente desafiador à frente, com expectativa de aumento das provisões por crédito duvidoso em meio ao atual ambiente econômico. A corretora indica compra para os papéis do Itaú e do Unibanco, e continua a manter posição neutra para Banco do Brasil ON. Mas reduziu as estimativas de lucros de bancos brasileiros para 2009 e 2010 em até 16%. Bradesco PN cedeu 3%, Itaú PN caiu 3,19%, Unibanco Unit recuou 3,05% e Banco do Brasil ON declinou 3,81%.

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