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Com preço de minério em queda, Vale corta investimentos e produção

Mineradora reduziu projeção de aporte para o próximo ano de US$ 7,6 bilhões para US$ 6,2 bilhões; agência de classificação de risco Fitch colocou nota da companhia em observação diante da probabilidade de a Vale ter de dar suporte à Samarco

Foto do author Fernanda Guimarães
Foto do author Altamiro Silva Junior
Por Fernanda Guimarães e Altamiro Silva Junior (Broadcast)
Atualização:
Vale vê cenário 'desafiador' com demanda fraca Foto: Marcos Arcoverde

Em um cenário de quedas recordes no preço do minério de ferro e de excesso de oferta do insumo, a Vale anunciou ontem a redução de suas projeções de investimento e de produção para o próximo ano. No mesmo dia, a empresa teve suas notas colocadas em observação pela agência de classificação de risco Fitch para possível rebaixamento, diante do aumento da probabilidade de a Vale ter de dar suporte à Samarco nas consequências do rompimento da barragem em Mariana, em Minas Gerais.

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Os dados da mineradora foram publicados ontem em apresentação ao mercado antes do Vale Day, evento que acontece todos os anos na Bolsa de Nova York (Nyse), em que a cúpula da companhia fala a investidores e analistas. Os investimentos da companhia em 2016 deverão ficar em US$ 6,2 bilhões, ante US$ 7,6 bilhões definidos anteriormente. Do total, US$ 3,2 bilhões vão para a execução de projetos e US$ 3 bilhões serão destinados à manutenção das operações existentes e projetos de reposição. Esse é o quinto ano consecutivo de queda do orçamento de investimentos pela mineradora, após o pico de US$ 18 bilhões em 2011.

Em sua apresentação, o presidente da Vale, Murilo Ferreira, ressaltou que a companhia espera um 2016 "desafiador", por conta de incertezas sobre a demanda por minério e a expectativa de volatilidade adicional nos preços das commodities. Segundo o executivo, a Vale intensificou ajustes em 2015 para superar os desafios, marcados pela desaceleração do crescimento da China, maior consumidora de minério do mundo. "Vamos manter nossa disciplina operacional em 2016", disse o executivo.

A companhia afirmou que dará continuidade à simplificação de sua estrutura organizacional e que aumentará sua produtividade e o corte de custos. Por fim, espera completar seu programa de desinvestimentos em 2016.

A projeção para a produção de minério de ferro para o próximo ano passou a ser de 340 milhões de toneladas a 350 milhões de toneladas, ante o intervalo de 340 milhões de toneladas e 376 milhões de toneladas previstos anteriormente.

Ferreira afirmou ainda que a companhia precisa manter prudência em relação à sua política de dividendos. "Estamos construindo uma ponte, olhando para o longo prazo. Vamos decidir (sobre dividendos) no conselho executivo, de acordo com o fluxo de caixa", destacou. Muitos analistas não descartam que a Vale deixe de pagar dividendos em 2016.

Samarco. O presidente da Vale começou sua apresentação falando do desastre em Minas Gerais. "O ano de 2015 foi marcado por muitas realizações, ofuscadas pelo trágico acidente em Mariana", disse Ferreira, afirmando que a empresa reconhece a seriedade da situação, que está comprometida em ajudar e já tomou providências, como a criação de um fundo sem fins lucrativos para a região, ainda sem valor definido.

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Em função do acidente, a Vale estima uma perda de receita de US$ 543 milhões em 2016. Já as perdas de dividendos recebidos da Samarco no ano que vem são calculadas em US$ 55 milhões.

Uma das perguntas de analistas foi sobre a ação que o governo abriu na última sexta-feira contra Samarco, Vale e BHP, pedindo a reparação dos danos causados pela tragédia e a criação de um fundo de R$ 20 bilhões para a revitalização da bacia do Rio Doce. O presidente da Vale disse que a empresa ainda não foi "formalmente notificada".

A Vale destacou que não tem responsabilidade legal pelo acidente e que a Samarco tem condições de arcar com os prejuízos. "Não há o que se falar nesse momento em responsabilidade de acionistas e muito menos de provisão por parte dos acionistas", disse o diretor jurídico da Vale, Clovis Torres. A empresa detém 50% da Samarco, com a BHP, que detém os outros 50%.

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"Você pode até discutir que a Vale tem responsabilidade enquanto acionista, mas em responsabilidade legal a resposta é não", afirmou. A Samarco, ressaltou Torres, não é uma "empresinha qualquer, um botequim", mas uma companhia de US$ 10 bilhões e que fatura US$ 2 bilhões por ano.

Fitch. Para justificar o fato de colocar o rating da mineradora em observação, a agência Fitch afirmou que "há um alto grau de incerteza em torno das várias implicações para o perfil de crédito da Vale relacionadas à possibilidade de dar apoio à sua joint venture com a BHP Billiton caso isso seja necessário". A observação negativa significa que uma eventual redução de classificação pode ocorrer em um prazo de três a seis meses.

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