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Com pressão dos alimentos, prévia da inflação sobe 0,81% em novembro

Resultado é o maior para o mês desde 2015, segundo o IBGE; o grupo alimentação e bebidas respondeu pela maior parte do aumento

Foto do author Thaís Barcellos
Foto do author Cicero Cotrim
Por Daniela Amorim (Broadcast), Thaís Barcellos (Broadcast) e Cicero Cotrim (Broadcast)
Atualização:

RIO e SÃO PAULO - A prévia da inflação oficial no País mostrou nova pressão dos preços de produtos alimentícios sobre o orçamento das famílias em novembro. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo - 15 (IPCA-15) registrou alta de 0,81%, maior resultado para o mês desde 2015. O indicador já tinha avançado 0,94% em outubro, informou nesta terça-feira, 24, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A taxa acumulada pelo IPCA-15 em 12 meses passou de 3,52% em outubro para 4,22% em novembro, acima da meta de 4,0% perseguida pelo Banco Central em 2020, embora dentro do intervalo de tolerância. Pela regra vigente, a inflação pode oscilar de 2,5% a 5,5% sem que a meta seja formalmente descumprida. 

Com aumento de 8,29% em novembro, o preço do arroz continua pesando na prévia da inflação. Foto: Alex Silva/Estadão

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Mesmo com nova leitura pressionada de inflação, o economista-chefe do Haitong Banco de Investimento, Flávio Serrano, mantém a avaliação de que é um choque muito forte, mas concentrado e que o mais perigoso é o cenário fiscal frágil.

"Se não houvesse preocupação com o fiscal, as revisões não seriam tão fortes. Acho que tem muito do ambiente. As coisas estão acontecendo em conjunto, a persistência de choque de alimentos e piora fiscal, então é difícil separar os efeitos. Está sendo mais duradouro, mas ainda continua sendo choque de alimentos, para outros itens têm menor repasse. Temos que observar", disse Serrano.

As famílias voltaram a gastar mais com alimentação e bebidas em novembro. O grupo alimentação e bebidas passou de um aumento de 2,24% em outubro para um avanço de 2,16%, maior elevação e contribuição de grupo sobre o IPCA-15 deste mês, 0,44 ponto porcentual.

Os alimentos para consumo no domicílio subiram 2,69%. Houve aumentos nos preços das carnes (4,89%), arroz (8,29%), batata-inglesa (33,37%), tomate (19,89%) e óleo de soja (14,85%). Por outro lado, o leite longa vida ficou 3,81% mais barato.

A alimentação fora do domicílio teve elevação de 0,87% em novembro, puxada pela alta do lanche (1,92%). A refeição fora subiu 0,49%.

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Além do choque de alimentos, o economista Flávio Serrano lembra que o IPCA-15 está mostrando recomposição de preços após a deflação em meados do ano em vários itens por causa do isolamento social. A inflação também está mais pressionada no momento devido às transferências de renda do governo e o repasse de custos devido ao câmbio mais depreciado, além da entressafra do etanol.

O etanol aumentou 4,02%. A gasolina avançou 1,17%, um impacto individual de 0,06 ponto porcentual sobre a inflação. O óleo diesel ficou 0,53% mais caro, enquanto o gás veicular subiu 0,55%. O gasto com transportes teve elevação de 1,00% este mês, a segunda maior contribuição para a taxa do IPCA-15 de novembro, o equivalente a 0,20 ponto porcentual.

Todos os nove grupos de produtos e serviços pesquisados registraram aumentos de preços em novembro. A alta de 1,40% nos artigos de residência foi puxada por mobiliário (2,40%) e eletrodomésticos e equipamentos (2,23%), com destaque para o aumento de 11,23% nos preços de aparelhos de ar-condicionado. Os artigos de TV, som e informática desaceleraram o ritmo de alta de 1,68% em outubro para 0,10% em novembro.

No grupo vestuário, as roupas femininas tiveram elevação de 0,97% em novembro. Também aumentaram este mês as roupas masculinas (1,49%), infantis (0,74%) e os calçados e acessórios (0,33%). As joias e bijuterias subiram 2,27%, acumulando avanço de 13,19% no ano.

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A economista-chefe do Banco BOCOM BBM, Fernanda Guardado, pretende revisar a projeção de inflação de 2020 de 3,60% para perto de 3,70%.

"Esse número de hoje reforça as pressões que temos observado na inflação mais recentemente", afirmou a economista. "São surpresas que vêm da alimentação, vêm da gasolina, mas começam a aparecer nos serviços e não se limitam apenas a pressões tão temporárias", completou.

Por ora, ela mantém a expectativa de inflação de 3,50% para o ano que vem, e não vê risco de antecipação do ciclo de aperto monetário por parte do Banco Central (BC). A autoridade monetária deve "exercer a paciência" e manter a taxa básica de juros, a Selic, em 2,0% no primeiro semestre do ano que vem, subindo a partir de agosto até o patamar de 3,50% ao fim de 2021.

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"A inflação em 12 meses vai bater um pico de quase 6,0% no fim do segundo trimestre de 2021, carregando esse choque de alimentos, mas à medida que isso saia ela começa a convergir em direção à meta", argumentou Fernanda Guardado. "O BC vai começar a subir os juros em agosto já olhando para esse movimento no horizonte relevante, que será 2022."

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