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Com provisões elevadas, analistas seguem atentos à inadimplência nos bancos

Especialistas apontam que desemprego causado pela pandemia preocupa e que crise ainda deve se agravar no terceiro trimestre, colocando mais pressão nas instituições financeiras do País

Por Wagner Gomes
Atualização:

Santander e Bradesco, os dois grandes bancos que já divulgaram os resultados financeiros do segundo trimestre até agora, dispararam um alerta sobre inadimplência. Juntas, as duas instituições reservaram R$ 7 bilhões para provisões, dinheiro separado para cobrir prováveis calotes entre os devedores. O banco espanhol, que abriu no Brasil a temporada de balanços na última quarta-feira, separou R$ 3,2 bilhões para cobrir empréstimos duvidosos, um movimento que não tinha feito no trimestre anterior. No Bradesco, o valor para provisões foi de R$ 3,8 bilhões.

Os analistas dizem que mesmo com níveis aparentemente controlados de inadimplência, os bancos adotam uma posição conservadora e de defesa contra possíveis impactos de um cenário econômico adverso, principalmente para pequenas e médias empresas. Carolina Casseb, analista da Guide Investimentos, diz que ainda é cedo para dizer se o reforço com as provisões foi realmente adequado. Para ela, será preciso esperar os resultados do terceiro trimestre para uma visão mais clara sobre o cenário. "Caso a taxa de inadimplência se mantenha em patamares similares, as perspectivas para os grandes bancos passam a ser mais positivas, sinalizando a possibilidade de uma revisão das provisões feitas nesses últimos trimestres", comenta.

Provisões de grandes bancos, como o Bradesco, estão no radar dos analistas. Foto: Werther Santana/Estadão

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Nesta sexta-feira, 31, a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) informou que a inadimplência atingiu 67,4% das famílias brasileiras em junho, número recorde. E em relatório, a Moody's considerou que os cinco maiores bancos brasileiros estão expostos ao risco, dado o porcentual de suas carteiras que é de créditos sem garantias, suportados apenas pelo perfil de crédito dos tomadores. Para a agência de classificação de riscos, novas provisões contra devedores serão necessárias nos balanços do terceiro e quarto trimestres.

"Com a pandemia e o isolamento das pessoas, muitas empresas sucumbiram e o desemprego continua aumentando. A crise ainda vai se agravar e este é o motivo dos bancos estarem lançando provisões bilionárias e esperando uma piora de inadimplência em suas carteiras de crédito com a ampliação do PDD, como o Bradesco fez, diz Pedro Galdi, analista da Mirae Asset.

Ao comentar os resultados do banco durante uma live, o presidente do Bradesco, Octavio de Lazari, disse que neste momento em que não se sabe a dimensão e a extensão da pandemia, foram feitas mais provisões para que o banco estivesse muito bem ajustado para eventual inadimplência que possa crescer ao longo do ano. Ele disse que as provisões podem voltar a acontecer em razão dos efeitos da pandemia, mas será de montante menor do que o destacado nos dois últimos trimestres.

O analista do Daycoval Enrico D Angelo Cozzolino, diz que a questão chave se relaciona justamente aos níveis de provisões nos resultados do segundo e terceiro trimestres principalmente, umas vez que, as baixas taxas de juros, o encerramento de agências e novos entrantes são temas já precificados no preços dos ativos. "Essa possibilidade de aumento nas provisões existe e principalmente para alguns players essa chance é maior do que para outros. Ainda assim é difícil determinar se o nível de provisões já efetuado foi suficiente ou se foi exagerado em virtude do conservadorismo do setor de forma geral, que é muito assertivo em determinar o real nível de inadimplência", comenta Cozzolino.

Para Alvaro Bandeira, economista-chefe do banco digital Modalmais, as maiores instituições foram precavidas em formar grandes provisões para a crise instalada, mas isso, segundo ele, não significa exatamente resultados piores nos próximos trimestres, até por conta de eventuais reversões de provisões. Bandeira diz que certamente a situação global e local induz a perspectiva de aumento potencial da inadimplência.

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Carteiras

Nas trocas de carteiras desta semana das corretoras, a Terra Investimentos tirou Suzano ON para colocar Iguatemi ON. Já o Ágora ficou apenas com Tenda ON da semana passada. Entraram no portfólio CSN ON, Via Varejo ON, Itaú PN e Vale ON. A Mirae Asset trocou GPA PN por Magazine Luiza ON e o Daycoval excluiu Taesa Unit e acrescentou Ambev ON. Entraram na carteira da MyCap B3 ON e Lojas Americanas PN no lugar de Rumo ON e Vale ON. Já a Ativa Investimentos ficou com Alpargatas ON no lugar de Magazine Luiza ON, enquanto a Guide Investimentos tirou B2W ON e Equatorial ON para colocar Duratex ON e Minerva ON.