PUBLICIDADE

Publicidade

Com qualquer resultado, Europa terá de renegociar

Metas definidas em fevereiro no plano de resgate de 130 bilhões à Grécia já não podem mais ser cumpridas e precisam de revisão

Por ANDREI NETO e ATENAS
Atualização:

Um capítulo crucial da história da União Europeia será escrito neste domingo pelo povo que forjou as bases da cultura do Ocidente. E a história será traçada numa eleição em que paira um incógnita: se Bruxelas expulsará ou não a Grécia da zona do euro.Fora a grande dúvida, há duas certezas: a primeira é que, seja com Antonis Samaras ou Alexis Tsipras, haverá um governo de coalizão com a maioria no Parlamento; a segunda, de que, qualquer que seja o governo, os europeus terão de renegociar o programa de resgate aprovado em fevereiro, que concedeu ao país € 130 bilhões em empréstimos, porque suas metas já se tornaram anacrônicas.A incerteza sobre a permanência do país na zona do euro é o que mais desestabiliza os mercados financeiros há dois anos e meio. Desde dezembro de 2009, com a descoberta de um déficit equivalente a 14% do Produto Interno Bruto (PIB) no orçamento grego, a Europa tenta socorrer o país injetando recursos e exigindo medidas de austeridade. Apesar dos acordos, a crise não parou de se aprofundar. Isso porque as sucessivas políticas de rigor impostas por Bruxelas e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) levarão o país a uma depressão de 20% do PIB em cinco anos ao fim de 2012. No intervalo dos 12 últimos meses, o desemprego aumentou 57%, chegando a 22,4% em maio passado. Entre jovens de 18 a 25 anos, 65% não têm trabalho.Enquanto Samaras fala em renegociar o acordo com a Europa, Tsipras promete romper com políticas de rigor como a que resultou no corte do salário mínimo de 700 para 480. Além disso, ignora as ameaças de expulsão da zona do euro. "O euro não é um fetiche", disse na quinta-feira, ao afirmar que não quer manter a divisa a qualquer custo.Entre membros de seu comitê de campanha em Atenas, o Estado apurou que essa postura é apenas retórica. O Syriza aposta que a UE não romperá o cordão umbilical que a prende à Grécia por uma razão pragmática: a expulsão custaria muito mais caro a Bruxelas. Convicto disso, Tsipras sinaliza nos bastidores que, em lugar de romper o acordo de fevereiro, pode apenas renegociar algumas cláusulas, obtendo o alongamento dos prazos de reembolso, reduzindo os juros, diminuindo o rigor e incluindo uma política de estímulo ao crescimento no pacote."A saída da Grécia do euro não acontecerá porque pelo menos oito países teriam o mesmo destino", diz o deputado Nikos Voutsis, um dos coordenadores do Syriza. "Por isso, o Syriza propõe uma solução europeia, com um novo acordo sobre o pagamento das dívidas e um programa de investimento no modelo do Plano Marshall. Haverá negociação, e sem o FMI. Esteja certo."Por mais temerária que pareça a aposta, economistas ouvidos pelo Estado concordam que a renegociação será inevitável. Shahin Vallée, pesquisador do Instituto Bruegel, de Bruxelas, acredita que a UE será obrigada a renegociar, mesmo que Tsipras seja eleito. Isso porque a saída da Grécia do euro seria recebida pelos mercados financeiros como o fracasso da moeda única. Panayotis Genimatas, presidente de honra do Banco Europeu de Investimentos (BEI), vai mais longe e entende que, mesmo em caso de vitória de Samaras, os acordos terão de ser revistos.O maior risco é de que a rediscussão demore demais e a Grécia mergulhe numa crise de liquidez. Essa hipótese é plausível porque a cada dia os bancos da Grécia estariam perdendo 800 milhões em depósitos.Em meio a tanta instabilidade, o único sinal positivo é a garantia de que, desta vez, haverá um governo de coalizão, ao contrário da eleição fracassada de 6 de maio. Ao Estado, líderes políticos confirmaram que, seja com Samaras ou Tsipras, um governo terá o apoio da maioria no Parlamento. "Haverá uma coalizão, é certo, porque nós participaremos com qualquer um dos vencedores", garante Dimitris Chatzisokratis, responsável pela política econômica do Partido da Esquerda Democrática (ED), que faz parte da coalizão Syriza.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.