Desigualdade diminui à custa da perda de renda na pandemia, indica o IBGE

Auxílio evitou piora; ainda assim, quem é da metade mais pobre sobreviveu só com R$ 453 mensais, em média, em 2020

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Por Daniela Amorim e Vinicius Neder
3 min de leitura

RIO - A pandemia exterminou empregos – 8,1 milhões de brasileiros perderem a renda proveniente do mercado de trabalho, no saldo final de 2020 –, mas o auxílio emergencial evitou uma piora da desigualdade no País, ao elevar o rendimento médio dos brasileiros mais vulneráveis, mostram dados divulgados nesta sexta-feira, 19, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Mesmo com a ligeira melhora na distribuição de renda, a metade mais pobre da população sobrevivia com apenas R$ 453 mensais por pessoa no ano passado. Equivale a uma família formada por um casal e dois filhos que sobrevive com R$ 1.800 por mês. São cerca de 105 milhões de brasileiros vivendo com apenas R$ 15,10 por pessoa por dia, segundo os dados da Pnad Contínua – Rendimento de todas as fontes.

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O quadro permaneceu mais grave no Norte e no Nordeste, mesmo com o alcance do auxílio emergencial pago pelo governo como forma de mitigar a crise causada pela covid-19. Os 50% mais pobres do Nordeste sobreviviam com R$ 10,03 diários por pessoa. No Norte, o valor ficou em R$ 10,83.

Extermínio de empregos

O rendimento médio mensal real domiciliar por pessoa, com o desemprego, foi de R$ 1.349 em 2020, uma queda de 4,3% em relação aos R$ 1.410 estimados em 2019. O auxílio emergencial permitiu, pelo menos temporariamente, que a renda média per capita recebida pela metade mais pobre da população brasileira crescesse 3,9% em relação a 2019. No topo da pirâmide, no 1% mais rico, houve perda de 9,4% em 2020 ante 2019.

“Todo mundo teve perda (na renda do trabalho), alguns mais, outros menos, mas você teve uma política social que segurou (os mais vulneráveis)”, disse Alessandra Scalioni Brito, analista do IBGE.

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Auxílio emergencial;programa permitiu, pelo menos temporariamente, que a renda média per capita recebida pela metade mais pobre da população brasileira crescesse 3,9% em relação a 2019 Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

O pagamento do auxílio emergencial elevou a participação de programas de transferência de renda no orçamento das famílias, mas o extermínio de empregos reduziu a participação da renda do mercado de trabalho, enquanto as mortes causadas pela covid-19 entre os mais idosos e as dificuldades operacionais do INSS em conceder benefícios enxugaram a contribuição de aposentadorias e pensões para o sustento dos lares brasileiros.

Sob o choque da pandemia, a proporção de pessoas com rendimento do trabalho caiu de 44,3% do total de habitantes em 2019 para 40,1% em 2020. Os que recebiam outros tipos de rendimentos saltaram de 7,8% para 14,3% da população, impulsionados pelo Auxílio Emergencial. O grupo de pessoas que recebiam aposentadoria e pensão encolheu de 13% da população em 2019 para 12,4% em 2020. 

R$ 10,6 bilhões a menos

A pandemia retirou das famílias brasileiras R$ 10,6 bilhões em 2020, a despeito do reforço proveniente de medidas emergenciais de socorro financeiro à população, mostra o IBGE. A massa de rendimento médio mensal real domiciliar totalizou R$ 284,6 bilhões em 2020, ante um montante de R$ 295,2 bilhões em 2019.

Mais da metade (50,7%) desse bolo ficou concentrado no Sudeste, R$ 144,416 bilhões, embora tenha recuado 5,2% em relação ao ano anterior. Os aumentos na massa de renda no Norte foram de 3,6% (para R$ 16,437 bilhões) e no Nordeste foram de 1,4% (para R$ 50,989 bilhões), enquanto o Sul teve maior redução (-5,7%, para R$ 48,144 bilhões). No Centro-Oeste, a massa de rendimentos foi de R$ 24,612 bilhões, queda de 3,98%.

O índice de Gini do rendimento médio per capita –que mede a desigualdade, numa escala de 0 a 1, em que, quanto mais perto de 1 o resultado, maior é a concentração de renda – passou de 0,544 em 2019 para 0,524 em 2020. 

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Em 2020, os 10% dos brasileiros mais ricos concentravam 41,6% da renda: R$ 118,4 bilhões nas mãos de pouco mais de 21 milhões de pessoas. Já os 21 milhões mais pobres detinham 0,9% de toda a soma de rendimentos, ou seja, dividiam R$ 2,56 bilhões. Os 41,6% nas mãos dos 10% mais ricos são comparáveis à soma de rendimentos dos 80% dos mais pobres (43,0% do total).

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