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Com S&P, País revive pesadelo do FMI

Missão de agência de risco é tratada com a mesma reverência que já foi dada ao FMI

Por Mauro Zanatta , Ricardo Della Coletta e RICARDO BRITO/BRASÍLIA
Atualização:

A passagem da economista Lisa Schineller e outros dois analistas da agência classificadora de risco Standard & Poor's por Brasília na semana passada para analisar as contas do governo teve forte ênfase na política interna e expôs o grau de preocupação no mercado internacional com os desdobramentos das manifestações de rua no País e da crise nas relações da presidente Dilma Rousseff com o Congresso.

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Para além das minúcias nas contas públicas e das questões econômicas que podem levar a um corte na nota de crédito brasileira, hoje em "perspectiva negativa", a diretora de Classificação de Risco Soberano da S&P entrou fundo em questões políticas, apurou o

Estado

. Quis saber desde o funcionamento da coalizão governista até as chances de aprovação no Congresso de projetos com impactos econômicos, como a troca de indexadores das dívidas de Estados e municípios.

A recepção à analista, recheada de mesuras e apreensão, lembrou as visitas de duas outras economistas temidas no Brasil. No fim dos anos 80, ficou famosa a chilena Ana Maria Jul, que negociava os empréstimos do Fundo Monetário Internacional (FMI). De tailleur e pastinha 007, ela encarnava a intromissão internacional no País. No fim dos anos 90, quem negociava com o Brasil era Teresa Ter-Minassian, diretora da área fiscal do Fundo.

Deferência.

O "furacão Lisa", comparado a Teresa nos bastidores, foi recebido com deferência pela diretoria do Banco Central e pelos ministros da Fazenda, da Casa Civil e das Comunicações. A equipe foi conduzida por motorista do governo em veículo oficial da Fazenda em seu périplo pela capital federal.

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Em sua lista de questões, Lisa colocou os interlocutores na parede. "Cordial, mas objetiva", segundo relatos, inquiriu os ministros sobre o alcance das manifestações, expressou surpresa com a volta dos protestos e com a falta de uma "cara" ou liderança única do movimento.

Quis saber como esses protestos influenciariam os planos legislativos do governo e quais as chances dessa insatisfação voltar a abalar a confiança da população no governo, interferindo nos índices de intenção de voto em Dilma, como ocorreu no rastro de junho de 2013.

Nos dois dias da visita, a equipe da S&P também tratou das prioridades da presidente para seu eventual segundo mandato e as implicações para um ambiente favorável aos investimentos. "A indústria está reagindo, o dólar está numa rota de equilíbrio. O PIB vai responder e a inflação está sob controle", resumiu uma fonte da equipe econômica.

Políticos.

Em sua visita a Brasília, Lisa quis aprofundar seu entendimento sobre o cenário político com líderes da oposição. Na véspera da viagem, na quarta-feira, pediu até a ajuda do diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central, Luís Awazu Pereira, para agendar um almoço com o senador tucano Aloysio Nunes Ferreira (SP) no dia seguinte. Também tentou um encontro com o senador Agripino Maia (DEM-RN).

No caso de Aloysio, o almoço foi cancelado por um atraso nas conversas da S&P no Ministério da Fazenda. No segundo, pela recusa de Agripino, que preferiu comemorar os 100 anos do tio, João Agripino, ex-governador da Paraíba, em João Pessoa.

"Eles tinham marcado das 13h às 14h. Mas o negócio com o Mantega enrolou", disse Ferreira. E Agripino emendou: "Queriam marcar quinta ou sexta comigo, mas não seria possível".

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Em nota ao

Estado

, a S&P explicou que, embora não comente reuniões específicas, "em geral" ouve "uma variedade de indivíduos ou grupos" para completar a análise. "O que pode incluir os mais diversos representantes do governo e setores relacionados." A S&P não procurou integrantes do PSB do candidato Eduardo Campos nem da Rede de Marina Silva. Em São Paulo, a equipe esteve com analistas, investidores, acadêmicos e banqueiros.

Embora recebida com tratamento "vip", Lisa e sua equipe sofreram sanções do governo. Nos bastidores, alguns interlocutores lembravam do papel decisivo da S&P na avaliação positiva de papéis na crise das hipotecas podres ("subprime") nos Estados Unidos, em 2008, que resultou na quebra do banco Lehman Brothers. O governo americano processou a S&P em razão das falhas de avaliação dos papéis financeiros de alto risco de calote.

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