Comerciantes fazem malabarismo e negociam com fornecedores para manter clientes

Importadora em São Paulo conseguiu desconto em preços de produtos para aliviar o repasse da alta do câmbio para o consumidor

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Por Márcia De Chiara e Douglas Gavras
2 min de leitura

A disparada do câmbio ao longo deste ano tem levado varejistas que trabalham com itens importados a fazer uma verdadeira ginástica para não perder vendas por conta da alta de preços. A conta tem sido sempre a mesma: é melhor abrir mão da margem de lucro do que ver o cliente, cada vez menos disposto a gastar, deixar de comprar.

Bernardo Ouro, CEO doEmporio Santa Maria Foto: Taba Benedicto/Estadão

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No braço de importações do grupo St Marche, que abastece o mercado gourmet Empório Santa Maria e as lojas da rede de supermercados St Marche, por exemplo, a estratégia foi renegociar preços com fornecedores estrangeiros de vinhos e alimentos para conseguir atenuar o impacto da alta do dólar no bolso do consumidor.

“Conseguimos renegociar descontos entre 15% e 20% e, em alguns casos, baixamos a nossa margem”, conta Bernardo Ouro, responsável pelo Empório Santa Maria. A importação própria do grupo responde por cerca de 5% dos volumes vendidos nas lojas. Com esses descontos, Ouro diz que conseguiu manter os preços da maioria dos itens importados pela própria empresa no patamar de antes da pandemia, quando o dólar estava cotado a R$ 4,20.

Já nos itens estrangeiros que o grupo compra de importadoras – que representa 15% dos produtos da loja – a manutenção de preços não foi possível.

As importadoras renegociaram com fornecedores estrangeiros, mas aumentaram os preços em reais desses itens entre 15% e 25%, em média. “Na grande maioria dos produtos, não houve aumentos de 40%”, pondera o empresário. Esse porcentual equivale ao repasse integral da alta do câmbio.

Otimismo

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Apesar das pressões de custos provocada pela alta do câmbio, Ouro está confiante no bom desempenho de vendas do Natal. Ampliou em 50% os volumes que importa por conta própria de vinhos, massas e azeites, na comparação com o ano passado. “As pessoas vão viajar menos este ano e celebrar o Natal em casa. Acreditamos que a venda de comida e bebida será muito forte”, conta ele.

Cliente de uma importadora de vinhos e azeites em Porto Alegre há mais de três décadas, o dono de restaurante Aguinaldo Barcelos, de 45 anos, diz que o dólar alto assusta na hora de planejar as compras do mês, sobretudo em um momento em que o horário de atendimento de seu estabelecimento ainda não foi normalizado após o relaxamento do isolamento social. 

“Manter um negócio não é um processo barato. Nunca sobrou muito dinheiro, mas os últimos meses foram ainda mais difíceis para quem depende de movimento. Os clientes ainda não voltaram totalmente e precisamos pensar duas vezes antes de cada despesa.”

Ele conta que conseguiu negociar um aumento menor nas compras de vinhos e de azeite. Sabe que o fornecedor também teve de reduzir sua margem de lucro, mas que todos acabam fazendo sacrifícios em momentos de crise, como o de agora. “O raciocínio dele é o mesmo que eu tenho: se repasso tudo, fico sem vender. É melhor perder um pouco.”

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