O novo desafio aos interesses comerciais do País tem nome e direção definidos: o Tratado Transpacífico (TTP). Liderado pelos Estados Unidos e com a participação de outros onze países, o maior bloco de livre comércio do mundo movimenta 40% do PIB global e 33% do comércio mundial. Oficializado em outubro, vem fomentando o diálogo entre as maiores potências do planeta e, no que tange aos interesses das empresas locais, tem um porém: não congrega o Brasil.
Conforme analisa o professor de relações internacionais da ESPM, José Luiz Pimenta Junior, o novo bloco deve deslocar o centro comercial mundial, até então concentrado entre Estados Unidos e Europa, para os mercados banhados pelo Pacífico. “Os Estados Unidos calculam que o próximo boom de consumo vai vir da Ásia e isso já está acontecendo. Por isso, mudaram o pivô da economia, saíram do Oceano Atlântico.”
O especialista avalia que esse movimento pode causar uma concentração maior de trocas comerciais entre os países do TTP, excluindo o Brasil. Estados Unidos, Japão, Austrália e, entre outros, vizinhos como Chile e Peru tendem, de acordo com Pimenta, a estreitar cada vez mais o laço para transferência de matérias-primas, fontes energéticas e manufaturas.
“Diante desse cenário, como o Brasil se posiciona? A desculpa de não participar do Tratado porque não tem saída para o Pacífico não cola. Há uma mudança em curso”, explica. “Vejo um provável deslocamento do volume de exportações hoje, que é de U$S 54 bilhões para os países do Transpacífico, para outros países da aliança”, calcula José Luiz Pimenta.
Essa tendência já é vista em números do Banco Central. Desde o ano passado, o bloco do Pacífico vem diminuindo as importações do Brasil. Em 2011, esses quatro países importaram US$ 14,2 bilhões de produtos nacionais. No ano passado, o total foi de US$ 12,8 bilhões.
Abertura. A saída para quem ficou de fora do TTP, em um primeiro momento, pode parecer firmar acordos bilaterais com os países envolvidos. Porém, o especialista em relações internacionais do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (IREI-Unb), Carlos Pio, aponta para a abertura unilateral do Brasil como uma medida necessária e eficiente para ampliar as possibilidades do mercado de exportação e importação. A saída envolveria, de acordo com Pio, a reavaliação do sistema tarifário brasileiro, considerado por ele como protecionista.
“Desde que foi criada a Tarifa Externa Comum (TEC), nos anos 1990, o mundo continuou se abrindo, mas a tarifa do Brasil continuou parada. Temos a TEC mais liberal da nossa história, mas ainda sim é protecionista”, pontua o especialista.
Pio se refere à tarifa de exportação estabelecida como padrão para os países integrantes do Mercosul, que é também usada como parâmetro para as trocas comerciais com outros países pelo mundo.
“Um acordo bilateral demora, para o Brasil, até dez anos para sair do papel. O País precisa de uma abertura mais rápida do comércio. A saída unilateral traria o choque estrutural que viabiliza uma real abertura comercial”, analisa Pio