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Comércio mundial registra a maior contração desde 2009

Primeiro trimestre registrou uma contração de 1,5% no fluxo de bens pelo mundo, contra uma queda de 0,5% no segundo trimestre

Por Jamil Chade
Atualização:
Em 2014, o Brasil sofreu a maior queda nas exportações entre as 30 principais economias do mundo Foto: José Patrício/Estadão

GENEBRA - O comércio internacional tem sua maior contração desde a eclosão da crise financeira e caminha para um ano com os resultados mais negativos desde o tombo nas exportações mundiais registradas em 2009. Segundo o Escritório Holandês de Análise de Política Econômica - e que serve de parâmetro para as instituições internacionais - o primeiro trimestre do ano registrou uma contração de 1,5% no fluxo de bens pelo mundo, contra uma queda de 0,5% no segundo trimestre. O mês de junho chegou a registrar um salto positivo de 2%. Mas os especialistas do centro alertam que a análise precisa ocorrer em médio prazo e o resultado só não é pior que em 2009, quando a economia mundial sofreu seu pior tombo em 70 anos. Maior importador do mundo, a China viu seu crescimento sofrer uma forte queda. O resultado foi uma contração nas exportações de dezenas de países. Hoje, mais de 50 economias tem a China como o principal mercado exportador. Uma das regiões mais atingidas no mundo foi a América Latina. No segundo trimestre do ano, a queda foi de 0,2% nas vendas. Mas, em termos de preços, a contração foi a mais acentuada, com queda de 2,3%. O período coincide com uma queda recorde nos preços das commodities. Pessimismo. Os números para o início de 2015 devem forçar a Organização Mundial do Comércio (OMC) a refazer de forma profunda seus cálculos para o ano, pela terceira vez. Em abril, a OMC já havia revisado para baixo do crescimento do comércio mundial em 2015. Segundo a entidade, a falta de crescimento nos emergentes e as dificuldades na Europa obrigaram a entidade a prever uma expansão menor dos fluxos comerciais neste ano. Originalmente, a previsão era de uma expansão de 5% em volume em 2015. Mas foi reduzida para 4,3% e, depois, caiu para 3,3%. Em 2016, ele será de 4%. "O crescimento do comércio tem sido frustrante em anos recentes diante do crescimento baixo das economias depois da crise financeira", declarou o diretor da OMC, o brasileiro Roberto Azevêdo na época. "Olhando para o futuro, prevemos que o comércio continue uma recuperação lenta. Mas com o crescimento econômico ainda frágil e tensões geopolíticas, essa tendência pode ser minada", alertou. O FMI trazia dados mais otimistas em abril, apontando para uma expansão das exportações de 3,5%. Mas a OMC alerta que não é apenas a economia chinesa que vai afetar sua avaliação. O crescimento europeu continua abaixo das previsões, o que também afeta o comércio em todas as regiões do mundo. Se considerada como um bloco, a UE supera a China como o maior importador do sistema internacional, principalmente no que se refere a bens agrícolas. Desde 2010, o colapso do comércio mundial apenas foi evitado graças ao fato que os emergentes continuaram a registrar uma expansão de suas economias. Para a Europa, por exemplo, isso possibilitou que economias como a da Espanha lentamente fossem estabilizadas. A Alemanha também evitou uma recessão graças às suas vendas para a China, Rússia e Brasil. Mas com a recessão na economia brasileira, a queda do mercado russo e a atual crise chinesa, o impacto promete ser duradouro. Em Bruxelas, diplomatas admitiram ao Estado que a política chinesa de rever seu modelo de crescimento e reduzir importações também pode afetar " milhares de empregos " pelo Velho Continente. A crise europeia pode afetar ainda mais as exportações brasileiras. Em 2014, o Brasil sofreu a maior queda nas exportações entre as 30 principais economias do mundo, caiu no ranking dos maiores vendedores do mundo e perdeu participação no comércio internacional. O Brasil registrou uma retração nas exportações de 7%. Ao final de 2014, o País era apenas o 25º maior exportador, superado por Tailândia, Suíça e Malásia. Em 2013, o Brasil era o 22º maior exportador do mundo, com 1,3% da fatia do comércio internacional e vendas de US$ 242 bilhões. Hoje, representa 1,2%.

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