Como a crise das contas públicas atrapalha a economia? Especialistas respondem

Nelson Barbosa, Manoel Pires e Samuel Pessôa falaram em debate organizado pela FGV e o 'Estadão'

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Por Adriana Fernandes
4 min de leitura

BRASÍLIA - Participantes do seminário online “Caminhos para um Crescimento Sustentável”, os economistas Nelson Barbosa, Manoel Pires e Samuel Pessôa traçaram a pedido do Estadão um diagnóstico do impacto da indefinição fiscal, marcada pelas negociações da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Precatórios para o crescimento da economia brasileira.

O seminário foi organizado pelo Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas, em parceria com o Estadão.

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Os economistas Samuel Pessôa, Manoel Pires e Nelson Barbosa Foto: HÉLVIO ROMERO/ESTADÃO (13/12/2018), DIDA SAMPAIO/ESTADÃO (27/11/2020), DIDA SAMPAIO/ESTADÃO (17/06/2016)

Veja o que pensam os três economistas:

Nelson Barbosa, ex-ministro da Fazenda e do Planejamento do governo Dilma

  • De que forma o embaraço fiscal de hoje atrapalha o crescimento?  O fiscal atrapalha o crescimento pela incerteza sobre o valor do gasto em 2022 e nova regra fiscal a partir de 2023.
  • É esperada uma recessão como o mercado já aponta? Sim, pode ocorrer recessão, devido ao aumento da Selic necessário para reduzir a inflação. Transferência de renda aos mais pobres ameniza o risco.
  • Qual o caminho que o próximo presidente terá que buscar para sair dessa realidadebaixo crescimento? O caminho é reforma fiscal: nova regra de gasto mais flexibilidade no curto prazo para recuperar investimento, saúde e educação. E reforma tributaria gradual, começando pela Contribuição sobre Bens eServiços (CBS), e depois do Imposto de Renda.Depois, nova estrutura de cargos e salários na União.

Manoel Pires, coordenador do Observatório Fiscal do IBRE-FGV

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  • De que forma o embaraço fiscal de hoje atrapalha o crescimento? Existe um período de anarquia fiscal. O governo junto com o Congresso decidiu elevar os gastos além do teto e isso fere a credibilidade do que se prometia até então. A forma é ruim porque no caso dos precatórios, pode haver uma bola de neve, parte do aumento do programa assistencial é temporária e não se sabe se vai parar nesses valores. Do ponto de vista macro, o gasto primário ainda apresenta uma queda significativa para o próximo ano e maior do que muitos países emergentes. A questão mais imediata é controlar esse furo e reduzir a incerteza. O ponto de partida para isso foi muito ruim até agora até porque com exceção da assistência social os demais gastos são muito questionáveis.
  • E esperada uma recessão como o mercado já aponta? Está muito cedo para dizer. A principal repercussão desse choque fiscal é sobre expectativas, câmbio e política monetária. Minha avaliação é que o BC deve se ater ao impacto desse choque sobre a inflação em termos de demanda agregada e câmbio. Há reação exagerada do mercado que precisa ser melhor coordenada. O BC deve buscar esse equilíbrio e dar maior previsibilidade ao processo.
  • Qual o caminho que o próximo presidente terá que buscar para sair dessa realidade baixo crescimento? O próximo governo deverá buscar um freio de arrumação. É necessário aperfeiçoar o sistema fiscal com mais governança e lhe dar mais resistência choques. Houve muito retrocesso em termos de gestão pública, então é necessário iniciar um processo de fortalecimento institucional. As reformas não aumentaram o investimento, é preciso fazer uma avaliação disso para o País voltar a crescer. Isso começa por uma autocrítica dos últimos anos.

 

Samuel Pessôa - Sócio da gestora de recursos Julius Baer Family Office.

  • De que forma o embaraço fiscal de hoje atrapalha o crescimento? A desancoragem fiscal aumenta a percepção de risco na economia brasileira. Consequentemente o câmbio desvaloriza; a bolsa cai; e a curva de juros sobe e inclina para cima. Os três fatores apertam as condições financeira, reduzindo o crescimento, e, adicionalmente, a desvalorização do câmbio piora a inflação, requerendo juros maiores do Banco Central.
  • E esperada uma recessão como o mercado já aponta? Acho cedo para apostar em crescimento negativo em 2022. Tinha 2% e agora, após o estresse pelo qual temos passado, revi para 1%.
  • Qual o caminho que o próximo presidente terá que buscar para sair dessa realidade baixo crescimento? Tem que encontrar uma forma de financiar a extensão do auxílio emergencial em 2022 sem quebrar o teto dos gastos. Estamos com uma inflação não é muito bom termos uma expansão fiscal no ano que vem, mas como teve um extrateto muito grande esse ano pode ter um pouco menor no ano que vem, ainda haverá uma politica fiscal meio neutra que não vai atrapalhar o equilíbrio inflacionário. Mas o problema mais dramático é a incerteza que temoshoje, que está conosco desde 2014, se vamos conseguir construir um Estado que consiga se financiar ao longo prazo sem a necessidade do uso do imposto inflacionário.