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Como alavancar os investimentos

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Por Redação
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Há um raro consenso no debate econômico brasileiro atual quanto à necessidade de alavancar os investimentos. Trata-se de algo imprescindível não apenas para romper os gargalos que impedem uma maior decolagem da economia, mas também para tornar sustentável o crescimento econômico. Na permanência das condições atuais do padrão de desenvolvimento brasileiro, que combina um forte potencial de consumo com fatores de competitividade sistêmica adversos, o crescimento futuro sempre será interrompido. Os limites da expansão das atividades serão dados pelos gargalos em infraestrutura e alguns setores industriais ou pela pressão exercida pelo crescimento das importações e o seu impacto no balanço de transações correntes.No entanto, apesar do relativo consenso no diagnóstico, há divergências quanto às estratégias para o enfrentamento do problema. Os economistas da corrente principal do pensamento econômico entendem que a formação prévia de poupança é um pré-requisito imprescindível para financiar os investimentos. Os economistas heterodoxos, inspirados nas ideias keynesianas, entendem que o principal é propiciar um ambiente favorável, leia-se fatores de competitividade, e uma expectativa positiva de crescimento da demanda para despertar o interesse nos investimentos produtivos. Para o primeiro grupo, o modelo vigente de fomento ao consumo se esgotou e é preciso sacrificar o crescimento em prol da formação de poupança. Para o segundo, é desejável manter o apetite pelo consumo para que isso motive os projetos de expansão dos empresários. Outra divergência está no papel do Estado. Os ortodoxos veem a participação estatal como distorção, colocando todas as fichas na racionalidade dos mercados. O outro grupo entende que a coordenação é tarefa precípua e insubstituível do Estado, que tem também no seu papel proativo um importante instrumento, especialmente nas crises, quando assume função anticíclica.O Brasil conseguiu um expressivo salto na relação Formação Bruta de Capital Fixo/Produto Interno Bruto, que cresceu da média de 15%, na primeira metade da década passada, para cerca de 19%, nos últimos anos. Trata-se, no entanto, de um nível insuficiente para garantir o crescimento econômico de forma sustentável. Teremos de ampliar esse indicador para algo entre 23% e 25% do PIB, a depender da sua composição. Para isso, será fundamental não apenas ampliar e acelerar os investimentos do Estado nas três esferas da Federação e das empresas estatais, mas também cooptar o setor privado para fazê-lo. A questão básica é melhorar as condições de competitividade, como tributos, custo de capital, burocracia, câmbio, etc., para que seja mais vantajoso produzir do que importar. Senão a preferência será a de trazer os produtos prontos do exterior, em vez de investir e correr o risco de fabricar aqui.A ampliação de oferta de financiamento via bancos públicos, embora uma condição necessária, por si só é insuficiente para induzir os investimentos, uma vez que estes são precedidos da análise de viabilidade econômica. A elevação do coeficiente de importações em todos os segmentos tem denotado uma clara preferência por trazer de fora não apenas insumos e máquinas, mas produtos de consumo. As recentes mudanças na política econômica de redução dos juros, desvalorização do câmbio e desoneração localizada são positivas para ampliar a competitividade dos produtos brasileiros, não apenas na exportação, mas para concorrer com os importados. É preciso garantir a perenidade e aprofundamento das mudanças iniciadas, assim como avançar na melhora dos demais fatores, para fomentar a geração de valor agregado local. A iniciativa do governo federal de envolver os governos estaduais na questão é bem-vinda, não apenas pelo seu papel nas decisões dos próprios investimentos, mas também porque, na questão tributária, por exemplo, pode fazer a diferença.

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