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Como atacar a covid-19

Será que o governo fará a parte que lhe toca nisso tudo? Queira Deus que sim. Se não, estaremos perdidos

Por Raul Velloso
Atualização:

Como o vírus existe e tende a se espalhar rapidamente, o segredo anticaos é um só: evitar o contato das pessoas contaminadas com as que não estão. Mesmo sabendo que o organismo de uma pessoa precisa de apenas 14 dias para eliminar o vírus e adquirir imunidade natural, e seus efeitos se confundam com os de uma gripe branda, quanto mais vulnerável for a pessoa atingida (por doenças, idade, etc.) e sem as providências corretas, a demanda por atendimento hospitalar especializado para os casos de alta gravidade pode superar largamente a oferta desses serviços. Neste caso, as autoridades acabarão tendo de escolher quem vai receber um melhor atendimento ou, no limite, deixar de ser atendida e falecer (vejam a experiência chocante da Itália).

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O primeiro item da lista de tarefas é ter material específico de teste em grande quantidade e de fácil acesso à população (idealmente gratuitos), para poder aferir a situação de qualquer membro, a qualquer momento. Refiro-me a pôr à disposição os kits diagnósticos pesquisa por rt-pcr para coronavírus covid-19. Tudo isso deveria ser pago pela área federal, não importando quanto custe, pois certamente os benefícios superam os custos.

Assim, em teoria, numa família que tenha avós, pais e crianças (imagino-me numa praia deserta do Piauí com a minha), se o teste der ausência de vírus para todos, pode-se pensar numa segregação extrema por um período limitado (já que, em média, o organismo anula o vírus em 14 dias), em que a comunicação seja só a interna à família e, pois, o risco de contaminação seja muito baixo. A partir desse ponto extremo, pode-se imaginar algum relaxamento para algum risco de contaminação, como quando a família recebe a visita de um parente em situação desconhecida ou há uma empregada que vem e volta para sua própria casa todos os dias, algo que pode deslanchar um processo de rápida contaminação. No limite, se todos se comunicarem com as demais pessoas dessa mesma coletividade o tempo todo, o risco de contaminação e de escolhas tipo “de Sofia” tende, infelizmente, a se tornar muito alto.

Uma forma de atenuar esse risco é a garantia governamental, por vários meios, do uso de equipamentos de segurança individual (máscaras de todos os modelos do mercado, óculos, produtos químicos para desinfecção, capotes descartáveis) para os contatos extrafamília.

Finalmente, vindo pelo outro lado, na direção da solução extrema acima indicada de milhares de famílias à Robinson Crusoé, poderíamos pensar em algo próximo de um isolamento social drástico e compulsório, com uma operação torniquete em que a cada dia vai parando uma atividade. Escolas primeiro. Depois, todo o funcionalismo público. A seguir, bancos (ficando abertos só os caixas eletrônicos), depois o comércio. Até que fiquem só farmácias e supermercados. Em todos os casos, o processo de recentralização em milhares de células familiares começaria pelos home offices que fossem viáveis, trazendo pais, mães e/ou filhos mais velhos de volta à casa.

Nessas condições, teríamos pessoas que, antes contaminadas e que estivessem fora do grupo vulnerável, se livrariam dessa condição em 14 dias ou algo próximo, a contar preferencialmente da data de positividade do teste. À medida que o isolamento progressivo produzisse os efeitos de redução da velocidade de contágio do vírus, a quantidade de pessoas infectadas tenderia a se manter baixa e constante. Mas não é possível estimar o período que isso levaria. O mesmo vale para se fazerem hipóteses sobre a taxa mensal de contaminação durante o curso da pandemia.

Uma questão, contudo, ainda gera dúvidas na comunidade científica: depois que uma pessoa se cura, há risco de ser novamente contaminada? Como é um novo coronavírus, só o tempo e a ciência poderão responder.

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Para encerrar, será que o governo fará a parte que lhe toca nisso tudo? Queira Deus que sim. Se não, estaremos perdidos.

* CONSULTOR ECONÔMICO

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