PUBLICIDADE

Publicidade

Como foi escolhido o padrão de TV digital

Livro de jornalista do Estado mostra a atuação do governo no processo

Por Ethevaldo Siqueira
Atualização:

O livro TV Digital no Brasil - Tecnologia versus Política, do jornalista Renato Cruz, dá uma contribuição única à história de um dos projetos mais conturbados do Ministério das Comunicações e do governo Lula. O grande mérito do livro é associar o rigor do pesquisador acadêmico - que elaborou sua tese de doutorado na Universidade de São Paulo (USP) - com a vivência direta dos fatos do repórter especializado que cobriu o assunto desde o primeiro momento até a inauguração da TV digital na Grande São Paulo, em 2 de dezembro de 2007. Nesse sentido, o livro registra e analisa com precisão e objetividade todos os passos do processo de escolha do chamado Sistema Brasileiro de Televisão Digital (SBTVD). A conclusão central do trabalho mostra claramente que a escolha padrão japonês (ISDB) de televisão digital já estava definida muito antes da análise e da comparação com seus competidores - os padrões norte-americano (ATSC) e europeu (DVB). Como no caso da mudança do Plano Geral de Outorgas para permitir a compra da Brasil Telecom pela Oi, o governo agiu sem nenhuma isenção na escolha dos padrões de TV digital. Caberia ao ministro das Comunicações, Hélio Costa, o papel de juiz do processo de escolha do padrão que serviria de base para a TV digital brasileira. E, como tal, não poderia manifestar nenhuma preferência, como o fez diversas vezes, antes do final da licitação, desde sua posse em julho de 2005, dizendo que o ISDB era o único padrão tecnológico aceitável para o Brasil, por atender tanto às exigências de alta definição, multiprogramação, mobilidade, portabilidade e interatividade. Nesse caso, por que, então, fazer a licitação? Renato Cruz mostra bem a condução do processo na direção dos interesses das emissoras de TV - que desde o ano 2000 vinham propondo a tecnologia japonesa. O livro mostra também o acerto de outras medidas, como o apoio aos pesquisadores brasileiros para que eles pudessem dar sua contribuição no desenvolvimento de ferramentas e softwares complementares, em especial o middleware Ginga, responsável pela interatividade do sistema brasileiro. Entretanto, quase um ano após a inauguração do sistema, o Ginga não está disponível. E, em função da baixa escala de produção, os preços dos sintonizadores digitais e dos televisores de melhor padrão são muito elevados. Por isso, a TV digital caminha a passos de tartaruga. Publicado pela Editora Senac, de São Paulo, o livro tem 252 páginas, e custa R$ 40.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.