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Como lidar com os ativos tóxicos

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Por Redação
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Será que o secretário do Tesouro americano, Timothy Geithner, que nesta semana anunciou um plano para lidar com ativos tóxicos dos bancos, conseguirá restaurar a confiança no sistema financeiro? A seguir, a posição de alguns especialistas. SHANNON ZIMMERMAN Analista sênior da Motley Fool e principal consultora do serviço "Motley Fool Duke Street" Conseguirá Tim Geithner restaurar a confiança? Talvez. Quando se gasta dois meses inteiros baixando sistematicamente as expectativas, tudo é possível. Mas não acho que o mais recente plano do Tesouro ajudará sua causa. Já vimos esse filme antes: ele se chama "Fim de semana com Bernanke, 2", a sequência da última tentativa do governo para privatizar lucros enquanto subsidia boa parte do risco. Essa é uma má notícia para Geithner e pior ainda para o resto de nós: quanto mais tempo o presidente Barack Obama esperar para colocar em questão os que não são onerados por relações confortáveis com os grandes bancos, provavelmente a crise se aprofundará; afinal, na falta da rede de segurança do plano sustentada pelo contribuinte, existe um abismo do tamanho do Canyon do Snake River entre o valor que os bancos reclamam para seus "ativos tóxicos" e a quantia que qualquer investidor informado e não temerário pagaria. Na segunda-feira, os bancos tiveram um grande incentivo para manter uma recusa estratégica sobre a saúde de seus balanços. Agora, os incentivos são ainda maiores. Procurando Paul Volcker? JOHN IRONS Diretor de política e pesquisa do Economic Policy Institute Achei que estávamos além do ponto em que este (ou qualquer) secretário do Tesouro poderia simplesmente, por virtude do anúncio de um novo programa econômico, reintroduzir confiança nos mercados financeiros. Mas aí observei o mercado acionário - que subiu cerca de 7% na segunda-feira. No longo prazo, porém, estamos além de um jogo de confiança; o plano de Tim Geithner viverá ou morrerá baseado na sua capacidade de trazer capital novo e remover ativos ruins dos balanços dos bancos. O novo plano pode funcionar. Houve no passado uma vasta quantidade de dinheiro nesses ativos, e restaurar esse mercado com a divisão dos riscos e com garantias poderá ajudar na estabilização do sistema financeiro. Mas isso também pode fracassar - os ativos podem realmente não valer nada (ou quase nada), e nenhum plano público-privado pode mudar essa situação. E isso não é exatamente um fortalecedor de confiança. Não há como saber de antemão. De todo modo, Geithner (e o Fed, o banco central americano) ainda tem bilhões para usar ou alavancar - e a promessa de usar esse poder pode mover mercados, confiança à parte. ADAM S. POSEN Vice-diretor do Peterson Institute for International Economics O plano do secretário Geithner ajudará a remover parte dos ativos ruins dos balanços dos bancos. Mas ele está tentando evitar pedir mais gastos adiantados para arrumar a situação dos bancos. Mesmo no melhor caso, para o contribuinte isso significará economizar em ninharias e esbanjar em coisas grandes. Investidores do setor privado recebem subsídios do governo tanto para a alavancagem como para seguro, e os acionistas correntes de bancos recebem preços mais altos por seus ativos via esses subsídios. Assim, o plano em última instância pode custar mais para o contribuinte do que se o governo tivesse entrado mais agressivamente para assumir a propriedade integral e pagar preços mais baixos por esses ativos. O mais preocupante é que esse arranjo pode ser apenas temporário. Os bancos ainda poderiam ficar com muito pouco capital, mas com dinheiro público fresco para operar e nenhuma mudança nos incentivos. Aí nós simplesmente teremos de colocar novamente capital neles mais adiante, mas após esse dinheiro ser esbanjado e o estímulo fiscal exaurido. LAURENCE FINK Presidente executivo da BlackRock Inc. O anúncio de Tim Geithner desta semana é um importante passo para revigorar a confiança e restaurar a liquidez de nossos mercados de capitais. O plano visa a um problema fundamental: o colapso do preço de ativos. Os investidores por diversas vezes se queimaram e agora estão compreensivelmente desconfiados. "Por que não esperar até os preços atingirem o fundo antes de comprarmos?", eles perguntam. O objetivo de Geithner é reverter esse sentimento. O programa animará investidores e melhorará preços nos mercados de capitais, removendo parte do excesso de oferta. E o programa captura a tendência à alta para os contribuintes, o que é um fator muito favorável. Não há solução rápida para nossa crise financeira, mas devemos continuar lidando com outros problemas graves: carteiras de empréstimos problemáticos em balanços bancários, queda no preço de imóveis, alta do desemprego. No trabalho que se apresenta, Geithner e o presidente Obama merecem - e precisam de - nosso apoio. DINO KOS Diretor administrativo da Portales Partners LLC e ex-vice-presidente executivo do New York Federal Reserve Bank Há três semanas apenas, Geithner estava descartando apelos para nacionalizar os bancos, o que teria custado muito mais caro para o contribuinte. Agora, ele ofereceu uma alternativa à nacionalização que se apoia em mecanismos de mercado. Combinado com planos anunciados previamente de injetar capital no sistema bancário, apoiar pequenas empresas, retomada do empréstimo ao consumidor e modificação das hipotecas para evitar execuções, o Tesouro agiu com presteza para aliviar o processo de desalavancagem da economia. DAVID C. JOHN Bolsista sênior pesquisador na Heritage Foundation O secretário do Tesouro Timothy Geithner pode restaurar a confiança encontrando uma estratégia clara e aferrando-se a ela. Ele deve evitar a propensão de seu antecessor a anunciar programas novos e aprimorados de poucos em poucos dias, um hábito que solapou a confiança. Programas em constante mudança sugerem que a administração e o Congresso estão simplesmente reagindo aos fatos e não têm um real controle da situação. Uma estratégia eficaz seria também limitar o envolvimento do governo a casos em que isso é absolutamente imprescindível. Pode ser tarde demais para evitar a nacionalização da AIG, mas Geithner deveria limitar o envolvimento do governo a situações que envolvam riscos de um colapso sistêmico. Ele também deveria se opor publicamente ao envolvimento do governo nas decisões econômicas do dia a dia.

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