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Como o Brasil deve reagir ao protecionismo

Por Alberto Tamer e E mail -at@attglobal.net
Atualização:

Não há como evitar. Há uma onda de protecionismo se formando no mundo. Todos querem proteger seus mercados, ninguém pensa mais em liberalização. É natural que isso ocorra e é inútil criticar. Qualquer governante de país ameaçado pela recessão ou que já está nela tende a proteger seus produtores, seu mercado, mesmo onerando os consumidores. Não adiante nada. A solução estaria em um entendimento mundial, mas as promessas feitas na reunião do G-20 (grupo dos países mais industrializados) em novembro não foram cumpridas. E também não deverão ser as que surgirem em novo encontro, em abril. Não há órgão que possa fiscalizá-las. A Organização Mundial do Comércio (OMC) perdeu força. Não manda mais nada. E as regras deixam espaços incríveis para serem burladas. FALTA REALISMO NO BRASIL Falta, sim. As crises chegaram aqui. O governo, que soube se antecipar e agir, parou nas últimas. Hesita. Não entendi o porquê. Prometeu novas medidas até 20 de janeiro e já estamos entrando em fevereiro, que poderá ser o mês da desesperança. A verdade assustadora é que estamos correndo o risco seriíssimo e cada vez mais próximo de entrar em recessão ou de crescer apenas 1% ou 2% neste ano. Na verdade, é a mesma coisa, com um nome mais ameno, "desaceleração". Em qualquer dos casos há queda de investimento, de produção, de exportação, de emprego. É um quadro terrível ainda podemos evitar. Na pior hipótese, atenuar. PROTECIONISMO NOS EUA Não estou preocupado com a decisão do Senado americano de destinar recursos do pacote de quase US$ 900 bilhões só para empresas instaladas no país. Isso ainda não é protecionismo. Eles não estão ainda bloqueando importações, mas é um alerta. O protecionismo virá em seguida porque o PIB despencou 3,8% no último trimestre do ano passado. Foi um choque até para os mais pessimistas. Significa que economia americana entrou nua em 2009. E não terá nem sequer um trapo para se cobrir neste trimestre. E o pacote salvador de Obama? Mesmo que ele comece a executá-lo imediatamente, logo após a aprovação do Congresso, levará meses até chegar à economia real. Aumentam, em consequência, as pressões para proteger o mercado e os trabalhadores, hoje assustados pela perda de 2,3 milhões em 2007. A média mensal no último trimestre foi de 550 mil empregos. PROTECIONISMO SÓ PIORA Seria uma lástima se ele se propagasse pelo mundo, pois iria aprofundar e prolongar a recessão que poderá durar dois ou três anos, com repercussões brutais. O fechamento de mercados protege por algum tempo o país que o aplica, mas provoca menor crescimento nos países mais afetados que passam a importar menos. Isso volta a quem pretendia se proteger. É o efeito bumerangue, em que o protecionismo se volta contra quem o aplica primeiro. Ampliado para o mercado mundial, é destruidor; é um dos caminhos mais curto para a depressão. Quem sofre mais? Os menos resistentes, que dependem mais das exportações. E NÓS, O QUE FAZEMOS? Resistir a ânsia de ser antecipar e de seguir os "conselhos" da Fiesp de restringir as importações. Devemos esperar para reagir do mesmo modo. Mas sempre, sempre, com medidas bilaterais, de país para país, de produto com importação onerada ou bloqueada. Vimos na última coluna que isso só provoca reações de parceiros que ainda não estão impondo novas dificuldades nas nossas exportações. Temos de reconhecer que, neste momento, não estamos em posição de provocar os grandes parceiros industriais, Estados Unidos, Europa. Eles representam quase 40% das nossas vendas externas. Por que? Vários motivos. Cito apenas dois: 1 - Somos ainda um país muito fechado. Antes dependíamos pouco do mercado externo, pois tínhamos um mercado interno em forte expansão. Isso não é mais verdade. 2 - Antes, também, não precisávamos tanto gerar superávits comerciais, fizemos reservas e os investimentos financeiros e diretos aumentavam. O financeiro para aproveitar a diferença substancial entre o juro interno e externo. Os investimentos diretos nos buscavam para aproveitar a expansão do mercado interno. Isso também deixou de ter força. Batemos o recorde no ano passado, US$ 40 bilhões, mas isso não deverá se repetir neste ano. Os fatores que os atraíam enfraqueceram e crise de liquidez externa se agravou. Mais ainda: a entrada desses investimentos diretos foi em parte anulada pela saída volumosa dos financeiros. Tudo mudou, lá fora e aqui. Para pior. Poderíamos dar mais um motivo: nossa agropecuária vive das exportações. E, sem dúvida alguma, é ela que sustenta as exportações o superávit que começa a virar déficit. ACORDOS BILATERAIS Foi o que o Itamaraty prometeu há dois anos, quando Doha fracassou. Palavras ao vento. Esses acordos são vitais agora. Eles devem ser globais entre os dois países ou contemplar apenas uma série de produtos. Ao governo, cabe continuar oferecendo recursos dos bancos estatais às empresas para produzir e financiar as exportações. Deve ampliar a redução de impostos nos setores mais sensíveis. Ver um a um o que mais precisa. O BNDES recebeu mais recursos e não pode continuar destinando a maior parte para a Petrobrás, multinacional de porte que tem condições de levantá-los no exterior, pagando juros mais altos. A prioridade são aquelas empresas privadas que precisam de mais de recursos. Há outras medidas paralelas que deixo de comentar aqui pois espero e acredito que a equipe econômica as conheça. Só falta agir pois vamos ter um ano tumultuado. Não podemos continuar esperando e andando com a lentidão dos atrasados que não têm pressa.

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