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Como testamos os grandes bancos

Por Timothy Geithner
Atualização:

Na tarde de ontem, o Departamento do Tesouro, a Corporação Federal de Garantia de Depósitos (FDIC, em inglês), o Escritório do Controlador da Moeda e o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) anunciaram o resultado de uma revisão sem precedente da situação de capital dos maiores bancos da nação. Foi um passo importante no programa do presidente Barack Obama para ajudar a corrigir o sistema financeiro, restaurar o crédito e pôr o país no caminho da recuperação econômica. O presidente assumiu enfrentando uma recessão profunda e um sistema financeiro danificado. O crédito havia secado, obrigando empresas a dispensar trabalhadores e adiar investimentos. Famílias enfrentavam dificuldade para tomar empréstimos para financiar uma casa ou comprar um carro. Sem uma ação para recuperar os empréstimos, estávamos diante da perspectiva de uma recessão muito mais profunda e prolongada. O presidente Obama encarou esses problemas com uma ação dramática para fazer frente à crise imobiliária e restabelecer os mercados de crédito responsáveis por aproximadamente metade de todos os empréstimos para empresas e consumidores. A administração iniciou também um programa para limpar o balanço dos bancos. Esses programas estão ajudando a reparar os canais de empréstimos que não dependem de bancos e contribuirão para corrigir o próprio sistema bancário. Entretanto, o sistema bancário também precisava de uma resposta mais direta e vigorosa. As ações do Congresso e da administração de George W. Bush no fim do ano passado ajudaram a trazer um início de estabilidade. Mas, quando o presidente Obama tomou posse, em janeiro, a confiança no sistema bancário americano continuava baixa. Movidos por preocupações com prejuízos futuros, os bancos foram incapazes de levantar capital e encontraram dificuldade para captar recursos sem garantias do governo. E estavam evitando emprestar para se protegerem da possibilidade de um agravamento da recessão. Por conseguinte, a economia ficou privada de crédito e isso causou sérios danos na confiança e desacelerou a atividade econômica. Nós poderíamos ter deixado esse problema tal como o encontramos e esperar que, com o tempo, os bancos encontrassem a maneira de sair dos erros que cometeram. Em vez disso, escolhemos uma estratégia para dissipar a névoa de incerteza sobre os balanços dos bancos e ajudar a garantir que os principais bancos, individual e coletivamente, tivessem o capital para continuar emprestando, mesmo numa recessão pior que a esperada. Nós reunimos supervisores bancários para empreender uma avaliação excepcional da solidez dos 19 maiores bancos da nação. O objetivo era estimar potenciais prejuízos futuros e assegurar que os bancos tivessem capital suficiente para continuar emprestando, mesmo ante uma recessão mais profunda. Alguns podem argumentar que essa avaliação foi totalmente punitiva, enquanto outros podem alegar que poderia subestimar a necessidade potencial de capital extra. A avaliação planejada pelo Federal Reserve e pelos supervisores procurou alcançar um equilíbrio. O Fed capitaneou centenas de supervisores, que passaram 45 dias revisando, com rigor, os dados detalhados de empréstimos bancários. Eles aplicaram estimativas rigorosas de prejuízos potenciais para um período de dois anos, com estimativas conservadoras de lucros potenciais no mesmo período, e as compararam com reservas e capitais existentes. Os resultados foram, então, avaliados contra padrões rígidos de capital mínimo, em termos tanto de capital total como de patrimônio comum tangível. O efeito dessa avaliação de capital é ajudar a substituir incerteza pela transparência. Ela proporcionará maior clareza sobre os recursos que os principais bancos precisam para absorver prejuízos futuros. Também trará mais capital privado para o sistema financeiro, aumentando a capacidade para futuros empréstimos; permitirá que investidores diferenciem mais claramente os bancos; e, por fim, facilitará os bancos a levantar suficiente capital privado para pagar o dinheiro que já receberam do governo. Os resultados da avaliação indicam que alguns bancos precisam levantar capital adicional para fornecer uma base de recursos mais forte sobre e acima de suas relações de capital correntes. Esses bancos têm um leque de opções para levantar capital num período de seis meses, incluindo novas ofertas de ações ordinárias e a conversão de outras formas de capital em ações ordinárias. Como parte desse processo, os bancos continuarão se reestruturando, vendendo negócios não centrais para levantar capital. Aliás, já vimos bancos, estimulados pelo teste de estresse, tomarem medidas significativas no primeiro trimestre para levantar capital, vender ativos e fortalecer as suas posições de capital. Com o tempo, nossos sistema financeiro emergirá mais forte e menos propenso a excessos. Os bancos também terão a oportunidade de requerer capital adicional do governo por meio do Programa de Assistência de Capital do Tesouro. O Tesouro está oferecendo essa proteção para que os mercados possam ter a confiança de que manteremos capital suficiente no sistema financeiro. Para instituições em que o governo federal se tornar um acionista comum, buscaremos maximizar o valor para o contribuinte e permitir que essas instituições atraiam capital privado, reduzindo, com isso, a propriedade do governo o quanto antes. Alguns bancos poderão começar a devolver capital ao governo, desde que demonstrem que podem se financiar sem garantias da FDIC. De fato, esperamos que os bancos saldem mais que os US$ 25 bilhões inicialmente estimados. Isso liberará recursos para apoiar bancos comunitários, encorajar empréstimos para pequenas empresas e ajudar a reparar e reiniciar os mercados de títulos. Esta crise se formou ao longo dos anos e o sistema financeiro precisa de mais tempo para se ajustar. Mas o programa do presidente, aliado a ações do Fed e da FDIC, já está ajudando a reduzir os prêmios de risco do crédito. As taxas de juros hipotecárias estão em níveis historicamente baixos, colocando mais dinheiro nas mãos de donos de casas e ajudando a desacelerar a queda dos preços das casas. As companhias estão encontrando menos dificuldade para emitir dívida nova para financiar o investimento. O custo de captação para governos municipais caiu significativamente. A emissão de títulos lastreados em empréstimos ao consumidor e para a compra de carros está aumentando e as taxas de juros desses papéis estão caindo. Os Fed reporta que os termos de crédito estão começando a ficar um pouco mais leves. Isso é apenas o começo, porém. Nosso trabalho está longe de ter acabado. O custo do crédito continua excepcionalmente alto e empresas e famílias de todo o país estão encontrando dificuldade para captar empréstimos para pagar suas necessidades. Continuamos a executar nossos programas para aliviar o ônus de ativos legados, ajudar pequenas empresas e bancos comunitários e lidar com a crise das hipotecas e execuções hipotecárias. O propósito final desses programas é assegurar que o sistema financeiro sustente, em vez de impedir a recuperação econômica. Não chegamos ao fim da recessão ou da crise financeira, mas os testes de estresse para os bancos devem contribuir para o processo de correção do nosso sistema financeiro e fornecer uma base melhor para a recuperação. *Timothy Geithner é secretário do Tesouro dos Estados Unidos

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