27 de setembro de 2021 | 05h00
O pilar que sustenta a chamada finanças modernas é a admissão de que o ser humano sempre é racional nas suas decisões, particularmente nos investimentos. Essa base vem do conceito do “homo economicus” da ciência econômica, que trata do homem econômico racional. Em outras palavras, o indivíduo toma suas decisões de consumo, produção e investimento com base na racionalidade.
Assim, nos investimentos a decisão sempre ocorre buscando o equilíbrio entre risco e retorno. Agindo dessa maneira, o investidor maximiza sua riqueza. Mas nem sempre somos plenamente racionais. Na verdade, muitas e muitas vezes nossas emoções sabotam nossas decisões. A perspectiva de como enxergamos um determinado fato é para nós uma verdade e com base nisso tomamos nossas decisões.
Esse raciocínio está na origem da pesquisa de Amos Tversky e Daniel Kahneman conhecida como “teoria das perspectivas”, que diz em linhas gerais que, conforme determinada situação nos é apresentada, nossa decisão será tomada. Esse modo de agir das pessoas fez nascer o campo de estudos chamado de finanças comportamentais, ou economia comportamental, que se dedica a pesquisar sobre as variáveis psicológicas e comportamentais que afetem as decisões de investimentos.
São vários vieses cognitivos estudados. Exemplo: o efeito enquadramento, que é o viés tratado quando a decisão é tomada conforme as opções são apresentadas (enquadradas). Esse viés afirma que a dor da perda é muito maior do que o prazer do ganho. Em outras palavras, as pessoas, frente à opção entre alternativas de ganho, preferem um ganho certo a um ganho provável – portanto, são avessas a risco –, mas preferem uma perda provável do que uma perda definitiva – dessa maneira, são propensas a correr riscos para evitar ou compensar perdas.
Embora esses pensamentos possam parecer alarmantes, isso não é uma sina e não somos apenas vítimas involuntárias desses comportamentos. Mas podemos usá-los como ferramenta para melhores decisões e evitarmos armadilhas, como comprar por impulso e investir emocionalmente.
Esses vieses são atalhos que o cérebro usa para simplificar avaliações e decidir mais rapidamente, estamos funcionando no modo automático. Dentre vários, dois comportamentos emocionais devem ser observados, particularmente, nos investimentos de aposentados: excesso de confiança e comportamento de rebanho.
A maioria das pessoas consideram-se acima da média a respeito de suas habilidades. A confiança exagerada nas habilidades e informações faz com que os investidores tenham uma tendência a arriscar-se mais do que o devido. Pessoas tendem a creditar suas falhas a erros dos outros, à má sorte ou a fatores não controláveis, enquanto os sucessos são devidos a habilidade individual.
O comportamento de rebanho ocorre quando se ignora o próprio diálogo interior de cautela, para “seguir a multidão”. Seja honesto consigo. Ao perceber que está incorrendo um desses erros, pare e busque garantir que as emoções não tirem o melhor de você.
*PROFESSOR DE FINANÇAS DA FGV-SP
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