PUBLICIDADE

Publicidade

Comunicado do BC deixa em aberto novos cortes. Não tão substanciais

Governo ressalta que diretoria do Banco Central está em ?sintonia? com as ações necessárias para enfrentar a crise

Por Beatriz Abreu
Atualização:

A forte desaceleração da economia no último trimestre do ano passado pesou decisivamente na decisão do Banco Central de cortar a taxa Selic em 1,5 ponto porcentual, mas não deve sustentar apostas de novos cortes dessa magnitude nos próximos meses. O governo definiu a posição da diretoria do Banco Central como uma demonstração de "sintonia" com as ações para enfrentar a crise e o "melhor antídoto" para reverter as expectativas pessimistas alimentadas pela queda de 3,6% da atividade econômica no último trimestre do ano passado. "Quando o Banco Central toma uma atitude como essa mostra um afinamento total com o governo", disse uma fonte do Planalto. A sintonia parece tão ajustada que até mesmo a interpretação do comunicado do Copom ganha coerência quando o assunto é a forma de posicionamento da diretoria do BC. "Foi uma medida forte, sem dúvida. E o comunicado permite a leitura de que o Meirelles (Henrique Meirelles, presidente do Banco Central) está dizendo que não se sente obrigado a fazer cortes de 1,5 ponto porcentual mais uma vez", comentou essa fonte. No comunicado, o Banco Central reafirma que o foco da ação da política monetária é o controle da inflação. E deixou claro que o Copom vai acompanhar a evolução dos preços e os impactos dos cortes já realizados para avaliar o comportamento da meta de inflação, fixada em 4,5% para este ano. "A leitura não pode ser outra", disse ainda o assessor ao se referir ao trecho do comunicado em que o BC afirma que "acompanhará a evolução da trajetória prospectiva para a inflação até a sua próxima reunião, levando em conta a magnitude e a rapidez do ajuste da taxa básica de juros já implementado e seus efeitos cumulativos, para então definir os próximos passos na sua estratégia de política monetária". O corte, que colocou a Selic em 11,25% ao ano, não chegou a surpreender o Palácio do Planalto. Os dados sobre o Produto Interno Bruto (PIB), divulgados na terça-feira pelo IBGE, vieram muito piores do que se esperava, e todos aguardavam a posição do BC. Ninguém desconhecia que a tendência da diretoria do Banco Central era manter o ritmo de queda da taxa Selic em 1 ponto porcentual, o mesmo adotado na última reunião de janeiro deste ano. AUTONOMIA DO BC Não se trata, segundo um interlocutor de Lula, de uma interferência direta na autonomia do Banco Central. Mas é fato, também, que a conversa de Lula com o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, anteontem à noite no Palácio do Planalto, deu o tom do grau da preocupação de Lula com as medidas para retirar o país da rota de uma recessão. Lula chamou Mantega e Meirelles ao Planalto para pedir explicações sobre o resultado do PIB e conversar sobre a conjuntura econômica, inclusive o cenário no qual a diretoria do BC discutiria o novo nível da taxa de juros. Ninguém revela o conteúdo da conversa, embora também não se negue que Lula sempre deixa passar nessas conversas "o clima e a sua percepção" sobre o que está acontecendo, bem como sobre o que poderia ser feito. Entre as fontes ouvidas, prevalece uma explicação simples: "Se o presidente Lula mandar o Meirelles baixar os juros e ele, Meirelles, não atender só resta ao presidente demiti-lo. Por isso, tudo é feito com sutileza."

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.