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Comunidade internacional espera ações rápidas do novo presidente

Por Agencia Estado
Atualização:

A sorte da economia brasileira está nas mãos do cenário econômico global e das medidas imediatas que serão anunciadas pelo próximo presidente, antes mesmo de tomar posse - especialmente se ele for o atual favorito, Luiz Inácio Lula da Silva. Esta parece ser a visão predominante na comunidade financeira internacional, que se reuniu em Washington na semana passada para a reunião anual conjunta do Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Mundial. Depois de vários dias de um intenso exercício de convencimento de investidores e analistas de Wall Street de que o Brasil não está caminhando para um défault da dívida pública - interna ou externa, dependendo dos temores específicos de cada um -, tudo o que o ministro da Fazenda, Pedro Malan, e o presidente do Banco Central (BC), Armínio Fraga, conseguiram ganhar em Washington foi o benefício da dúvida. O mercado internacional está em compasso de espera, e aguarda com grande ansiedade que o futuro presidente do Brasil anuncie como pretende enfrentar a grave crise financeira que atinge o País. "Há uma percepção muito negativa em relação ao Brasil por parte dos investidores, causada pelo fato de que muitos brasileiros parecem estar apostando contra o País, mandando dinheiro para fora, o que pressiona o câmbio; e também porque o Lula sempre foi percebido como contrário ao mercado, e só recentemente foi mudando; eles (os investidores) querem ver para crer", disse o analista político Murillo de Aragão, que fez diversas apresentações para bancos de investimento e outras organizações em Washington. Tulio Vera, diretor de pesquisa de renda fixa para mercados emergentes, em Nova York, observou que a evolução do cenário externo também é fundamental. "É importante saber como o mundo estará em 28 de outubro ou 1º de novembro", disse o analista, durante uma conferência promovida pela Merrill em Washington, no domingo. O cenário principal da Merrill ainda prevê um segundo turno, com provável vitória de Lula. Vera disse que, caso os mercados acionários continuem em queda livre, ou se inicie uma guerra contra o Iraque, "Lula (caso seja eleito) terá muitas dificuldades nos primeiros meses". Em um cenário mundial mais benigno, pelo contrário, o início do novo mandato será mais fácil. O economista também acha decisivo que Lula, se for eleito, nomeie rapidamente uma equipe favorável ao mercado e anuncie medidas que agradem os investidores, como a retomada da reforma da Previdência ou a reforma tributária. Fraga, que fez uma palestra em um seminário promovido pela Federação Brasileira das Associações de Bancos (Febraban) em Washington, no domingo, sinalizou para a platéia que o novo presidente - Lula ou José Serra - deverá começar a agir assim que for eleito, e antes mesmo de tomar posse. Ele disse ter recebido informações dos dois candidatos de que porão mãos à obra, para combater a crise, o mais rápido possível. Um fator positivo, segundo Aragão, é que o Brasil surpreenderá o mundo com uma das transições políticas mais civilizadas realizadas em países latino-americanos (onde é comum que o chefe de governo que entra e o que sai sejam ou se tornem inimigos mortais). Segundo o cientista político, Fernando Henrique Cardoso está mais preocupado com o seu papel de estadista do que com a sorte do PSDB, e está inteiramente dedicado a facilitar o trabalho do próximo presidente. Esta foi uma questão levantada por investidores nas apresentações de Fraga e Malan. O presidente do BC disse que o plano de transição de Fernando Henrique "será algo novo e muito especial", incluindo a aborção de quadros do novo governo no atual e um detalhamento para a próxima administração de todos os processos e projetos em andamento. A atitude do mercado internacional em relação ao Brasil, e especialmente em relação à questão da dívida, porém, continua a ser de extrema desconfiança. Vera, por exemplo, acha improvável um calote da dívida interna mas considera a questão externa "mais complicada". Ele acha que, em um cenário externo muito desfavorável, e um início de um eventual governo Lula que assuste o mercado, o Brasil pode ter dificuldades de financiar mesmo um déficit em conta corrente de 3% do PIB em 2003. Para ele, no caso da disparada do câmbio nominal e da inflação, haveria um risco de solvência na dívida externa pública, por causa da perda do valor do real em relação ao serviço da dívida em dólares. O raciocínio parece estranho, porque as receitas públicas sempre tenderam a crescer, em termos nominais, no mesmo ritmo da inflação, em um País com a tradição e a tecnologia de indexação do Brasil. Não é só a equipe econômica brasileira que tende a achar estas teses sobre risco de défault absurdas e fruto de falta de informação. Economistas brasileiros de prestígio, de fora do governo, como Edmar Bacha, do BBA, e Sérgio Werlang, do Banco Itaú, concordam (é verdade que ambos têm ligações profissionais e de amizade com a atual equipe econômica). "É muito difícil explicar aos gringos que um país subdesenvolvido como o Brasil tem um mercado de capitais interno para a sua própria dívida (pública) tão grande como o nosso; até a gente explicar isto o cara já dormiu, e por isto é mais fácil acreditar em alguém que diz que a gente vai quebrar", ironizou Bacha. Segundo o economista, "o que o governo deve de dívida externa este ano e ano que vem dá para pagar com o dinheiro que está em caixa. Por causa da dívida externa, o setor público não quebra". Para Bacha, que declarou seu voto em Serra, o Brasil só quebra se o próximo governo "quiser quebrar, o que eu considero uma hipótese absurda".

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