A confiança do consumidor em agosto atingiu patamar recorde, segundo a coordenadora técnica da Sondagem das Expectativas do Consumidor Viviane Seda Bittencourt. De acordo com a economista, o patamar de 120,8 pontos alcançado pelo Índice de Confiança do Consumidor (ICC) em agosto foi o maior da série do indicador, iniciada em setembro de 2005. O desempenho deste mês bateu o recorde anterior, referente a março de 2008 (120,1 pontos). O índice é calculado com base em respostas apuradas pela sondagem do consumidor, usadas para elaborar uma pontuação, que pode atingir até 200 pontos. "A confiança do consumidor em agosto está forte, e em um patamar equivalente ao que se mostrava no cenário pré-crise", afirmou ela.
A economista explicou que o aumento de 0,7% no ICC em agosto ante julho foi menos intenso do que o apurado pelo indicador no mês passado (quando avançou 1,1%) porque o ICC já estava em um patamar muito elevado em julho. Na prática, segundo a especialista, o que houve em agosto foi uma permanência das condições positivas apuradas no mês anterior.
Entre os quesitos que influenciaram o bom resultado de agosto está a avaliação positiva das famílias de suas finanças pessoais, que também foi a melhor da série este mês. "Isso está sendo muito influenciado pela boa situação econômica nos últimos meses", disse Viviane. A técnica lembrou que o mercado de trabalho continua com sinais positivos, o que eleva o potencial de renda do trabalhador e, por consequência, seu interesse por comprar mais. "As expectativas para as finanças familiares para o futuro parecem estáveis em agosto", disse.
Isso também ajudou a aumentar a intenção de compras de bens duráveis nos próximos meses, outro quesito que impulsionou o avanço do ICC no mês. "Tivemos, em agosto, as melhores respostas para intenção futura de compra de bens duráveis desde maio de 2008", afirmou Viviane. "Parece que o consumidor está saindo de uma zona de endividamento de renda e pensando em comprar mais no futuro, aproveitando o acesso ao crédito favorável", resumiu.
A técnica, no entanto, fez uma ressalva. Em agosto, o consumidor elevou sua projeção de inflação para os próximos 12 meses, para 6,2%, ante 6,1% em julho. "Mas o consumidor não espera uma explosão de alta de preços, apenas um leve aumento. O fato de a projeção de inflação não ter se elevado muito também ajudou a manter em alta as intenções de compras, visto que o consumidor não espera uma alta desenfreada de preços", afirmou.
Entre as faixas de renda pesquisadas, o consumidor de baixa renda foi o único a apresentar queda no ICC, de agosto contra julho, com taxa negativa de 0,2% nas famílias com renda até R$ 2.100. "Parece que este tipo de consumidor se comprometeu muito com compras de pagamento de longo prazo, na época de reduções do Imposto sobre Produtos Industrializados - IPI (que puxou para baixo os preços de móveis e de geladeiras). Eles estão mais cautelosos do que os consumidores com poder aquisitivo maior", disse. "Mas este ciclo de endividamento das famílias de baixa renda está em vias de acabar, e ele sente que pode recomeçar a comprar em breve", disse ela, acrescentando que o ímpeto de compras futuras de bens duráveis está forte em todas as faixas de renda.
Entre as sete capitais pesquisadas, o consumidor paulistano está menos otimista, no entanto. Somente na capital paulista, o ICC caiu 1,9% em agosto ante julho. Isso porque o desempenho de produção industrial mostrou, no final do segundo trimestre, sinais de acomodação. "São Paulo é o maior parque industrial do País, e os resultados da indústria mais fracos acabaram por derrubar o humor do consumidor", explicou.