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Congresso promulga emenda à Constituição que cria 'orçamento de guerra' durante a pandemia

Assim que for publicado no "Diário Oficial da União", o texto entrará em vigor e fará parte da Constituição brasileira

Por Camila Turtelli
Atualização:

BRASÍLIA - O Congresso Nacional promulgou nesta quinta-feira, 7, a proposta de emenda à Constituição (PEC) que cria o chamado "orçamento de guerra", destinado exclusivamente a ações de combate à pandemia de coronavírus.

Vista da bandeira Nacional com Congresso Nacional e o Palácio do Planalto, na Praca dos Três Poderes Foto: Dida Sampaio/Estadão

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A votação da PEC foi concluída na quarta, 6, pela Câmara dos Deputados. Emendas à Constituição não são enviadas para sanção do presidente da República, e sim, promulgadas pela mesa diretora do Congresso em sessão conjunta.

Assim que for publicado no "Diário Oficial da União", o texto entrará em vigor e fará parte da Constituição brasileira. A PEC será automaticamente revogada – ou seja, perderá validade – em 31 de dezembro, quando acaba o estado de calamidade pública declarado em razão da pandemia.

O objetivo da PEC é separar do Orçamento-Geral da União os gastos emergenciais para conter os danos causados pela Covid-19 no Brasil. Na prática, o objetivo é não gerar impacto fiscal em um momento de desaceleração da economia.

Desta forma, o orçamento de guerra não precisa respeitar as exigências aplicadas ao orçamento regular, como a "regra de ouro", que impede o governo de contrair dívidas para pagar despesas correntes, como salários.

A proposta também estabelece que o orçamento paralelo não precisará cumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF).

A sessão contou com a presença dos presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e do líder do governo no Congresso, senador Eduardo Gomes (MDB-TO) – todos de máscara. A grande maioria dos parlamentares participou por videoconferência.

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"O dia de hoje é um dia importante nesse momento tão difícil. E com certeza será mais fácil, ou menos difícil, sairmos desse momento se nós tivermos unidos. Essa promulgação mostra que Câmara e Senado estão unidos e permanecerão unidos pelo nosso país", disse Maia.

Regras específicas

De acordo com a proposta, o governo poderá adotar "processos simplificados de contratação" de pessoal, obras, serviços e produtos e "quando for possível" garantir a competição entre os concorrentes.

Nesse trecho, a emenda esclarece que, para despesa com servidores (incluídas as novas contratações), não será necessário ter uma dotação orçamentária suficiente nem autorização prévia detalhada na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO).

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O texto prevê que, na distribuição e equipamentos e insumos de saúde "imprescindíveis ao enfrentamento da calamidade", a União terá de adotar "critérios objetivos, devidamente publicados" para a destinação de medicamentos, por exemplo, para estados e municípios.

Os gastos do orçamento de guerra serão avaliados separadamente. Dessa forma, o presidente da República terá de enviar, 30 dias após o encerramento de cada bimestre, a prestação de contas específica das ações de enfrentamento da pandemia.

Este prazo já existe na execução orçamentária convencional. O texto fixa ainda que o Poder Executivo terá de publicar, em até 15 dias após a PEC entrar em vigor, as regras para o relatório bimestral.

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Bazuca do Banco Central

A proposta autoriza o Banco Central (BC), durante o estado de calamidade pública, a comprar e a vender títulos públicos nos mercados secundários local e internacional, e ações privadas de empresas no mercado local.

O presidente do BC, Roberto Campos Neto, estimou que a instituição poderá comprar até R$ 972 bilhões em papeis de empresas privadas. Pela proposta, as ações de micro, pequenas e médias empresas terão prioridade na compra pelo órgão. 

A possibilidade criada pela PEC permitirá, segundo o BC, a injeção de recursos em empresas que enfrentam dificuldades financeiras durante a crise do coronavírus. O Banco Central poderá comprar títulos das empresas e emprestar esses ativos a elas sem precisar passar pelo sistema bancário. 

No mercado secundário, investidores negociam as ações entre si, sem a participação da empresa emissora dos ativos. Uma empresa pode abrir seu capital e vender ações no mercado primário. A Bolsa de Valores é um tipo de mercado primário. Nela, a própria empresa negocia as ações que emitiu com possíveis investidores.

Se um investidor compra esse ativo da empresa, ele poderá revendê-lo, posteriormente, para outros investidores, no mercado secundário. Então, o BC atuará neste meio, como um investidor que negocia com outro títulos privados, sem a participação, na transação, da empresa que emitiu as ações.

Os senadores haviam restringido os tipos de ações privadas que poderiam ser negociadas. Os deputados retiraram essas especificações, mas mantiveram algumas ressalvas. Pela PEC aprovada, o BC comprará ações privadas desde que: sejam classificadas como "BB- ou superior" no mercado local; os ativos tenham comprovação de qualidade de crédito dada por pelo menos uma das três maiores agências internacionais de classificação de risco; o preço de referência tenha sido publicado por entidade do mercado financeiro acreditada pelo Banco Central.

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Os deputados também excluíram da PEC um outro artigo aprovado pelos senadores, que estabelecia que as empresas só poderiam se beneficiar de créditos financeiros ou tributários se houvesse o compromisso de manter empregos.

O Banco Central precisará publicar diariamente as informações das operações realizadas. As condições da negociação, como, por exemplo, comprador e taxas, deverão ser divulgados publicamente dentro de 24 horas. A cada 30 dias, o presidente do BC terá de prestar contas das operações ao Congresso.

As instituições financeiras ficam proibidas de, com esses recursos, aumentarem remuneração de diretores e administradores, mesmo que por meio de bônus e não poderão pagar juros sobre o capital próprio e dividendos acima do mínimo obrigatório estabelecido em lei ou no estatuto social vigente na data em que a proposta entrar em vigor.

Poderá haver venda de ações, pelo Banco Central, após a vigência do estado de calamidade, se isso for vantajoso "sob o ponto de vista do interesse público".

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