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Conheça a companhia aérea do Grupo Itapemirim, que nasce cercada de polêmicas

Aérea do grupo de transporte rodoviário em recuperação judicial mudou plano de negócios original e faz mistério sobre suposto sócio

Foto do author Luciana Dyniewicz
Foto do author Rayssa Motta
Por Luciana Dyniewicz e Rayssa Motta
Atualização:

Em meio a um processo de recuperação judicial conturbado e à maior crise da história da aviação, o grupo Itapemirim, de transporte rodoviário, iniciou uma série de voos técnicos para poder operar uma companhia aérea. Na semana passada, o primeiro avião da nova empresa do grupo – um Airbus de 15 anos e capacidade para 180 passageiros – realizou 14 voos.

O grupo está na última fase do processo exigido pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) para obter o certificado de operador aeronáutico e já conseguiu slots (horários de pouso e decolagem nos aeroportos) para voar, a partir de junho, entre Ribeirão Preto e Recife, Ribeirão Preto e Guarulhos, Porto Seguro e Guarulhos, Salvador e Guarulhos – considerando apenas os terminais mais disputados do País.

Em 2020, Piva afirmou que aérea seria de baixo custo. Plano já não é mais esse. Foto: Werther Santana/ Estadão

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O nascimento da empresa área, porém, ocorre sob desconfiança do mercado. Além de enfrentar uma recuperação judicial desde 2016 – cuja execução é alvo de questionamentos –, o grupo Itapemirim está no meio de uma disputa entre seu atual dono e o proprietário anterior. O plano de negócios da companhia também já mudou completamente em pouco mais de um ano.

Por meio de sua assessoria de imprensa, o grupo afirmou que, para contornar a crise do setor, seu projeto prevê um “serviço diferenciado aos seus passageiros”. “Em resumo, é a pessoa, o olho no olho, que vamos priorizar entre todos os colaboradores e os passageiros”, afirmou, em nota. Disse ainda apostar no avanço da vacinação.

Por e-mail, afirmou ainda que o foco será ligar capitais brasileiras e oferecer preços competitivos. “Não acreditamos em guerras tarifárias.” Em fevereiro do ano passado, no entanto, o presidente do grupo, Sidnei Piva, afirmou ao Estadão que se trataria de uma empresa de baixo custo e que faria voos regionais. O modelo foi, então, questionado por especialistas, dado que as companhias de baixo custo precisam voar rotas de alta densidade, como Rio–São Paulo, para se pagarem.

Também em fevereiro de 2020, Piva informou que o investimento – de US$ 500 milhões – seria feito pelo fundo privado da família Al Maktoum, de xeques dos Emirados Árabes Unidos. A divulgação ocorreu após uma missão empresarial a Dubai liderada pelo governador de São Paulo, João Doria, e da qual Piva participou.

Não houve, porém, confirmação da injeção de capital na companhia. Questionada sobre o assunto, a Itapemirim afirmou que todos os contratos são confidenciais, o que a impossibilita de divulgar se há outros investidores no projeto.

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Até janeiro, o grupo gastou R$ 15,3 milhões na nova companhia. Desses, R$ 4,4 milhões foram para o aluguel de aeronaves. A administradora judicial da Itapemirim, a EXM Partnes, afirmou, em relatório publicado em março, que insistiu para que o grupo fornecesse detalhes sobre investimentos, contratos e gastos que o projeto tem demandado. Mas a empresa se recusou a dar informações alegando sigilo de mercado.

O promotor Nilton Belli Filho, da 5.ª Promotoria de Falências do Ministério Público de São Paulo, monitora o novo negócio. Desde meados de 2020, também vem pedindo informações sobre as operações da Itapemirim para levantar a aérea e chegou a dizer, nos autos, que o anúncio “não se coaduna” com o plano de recuperação aprovado pelos credores.

Apesar dos questionamentos, o grupo avança no projeto. Segundo a assessoria de imprensa, contratou 400 funcionários. A empresa, porém, ainda não tem data para começar a voar comercialmente e aguarda o processo de certificação com a Anac. A companhia também encomendou outros nove aviões A320-200. A idade média da frota é de 15 anos – a mais antiga do mercado doméstico. 

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