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Conheça o grupo Soma, ‘novato’ que desbancou a Arezzo na briga pela centenária Hering 

Dono de marcas como Farm e Animale, grupo formado em 2010 concordou em pagar mais de R$ 5 bi pela marca centenária de confecções, tornando-se novo protagonista no movimento de fusões e aquisições no varejo

Por Heloísa Scognamiglio 
Atualização:

O Grupo Soma, em um rápido movimento, fechou negócio para incorporar a catarinense Hering por R$ 5,1 bilhões, batendo a oferta da Arezzo, que ofereceu pouco mais de R$ 3 bilhões. O acordo veio em um momento em que as varejistas brasileiras buscam vias de crescimento em meio à pandemia de covid-19, com aquisições e investimentos em tecnologia. Mas quem, afinal, é o Soma, esse “novato” que agora virou dono de uma marca de 140 anos?

Com origem na fusão da Animale e da Farm, ocorrida em 2010, o Soma já tinha certa musculatura: eram 264 lojas ao fim de 2020 e mais de 5,3 mil funcionários no País. Após realizar sua estreia na Bolsa, em julho do ano passado, em operação que captou R$ 1 bilhão, o Grupo Soma focou em um plano de expansão e digitalização, sempre com foco em marcas premium.

O Grupo Soma fechou negócio para incorporar a catarinense Hering por R$ 5,1 bilhões. Foto: Hering/Divulgação

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Conhecida por suas aquisições, a companhia tem nove marcas: Animale, Farm, Fábula, A. Brand, Foxton, Cris Barros, Off Premium, Maria Filó e ByNV (Nati Vozza) – esta última adquirida após o IPO, por conta de sua forte presença digital. Nada, porém, que se compare ao negócio gigante, fechado em uma negociação de apenas três dias com a família Hering. 

A composição acionária do Soma é pulverizada: o presidente Roberto Jatahy (fundador da Animale) tem 16% e é o maior acionista. Todos os negócios que foram adquiridos ao longo do caminho, porém, ficaram com alguma participação: Cris Barros e Nati Vozza, por exemplo, têm hoje 1,56% e 0,87%, respectivamente. A fatia em negociação no mercado equivale a 37% do negócio. Com o acordo com a Hering, haverá nova diluição entre os acionistas principais. 

Segundo Alberto Serrentino, fundador da consultoria Varese Retail, o Grupo Soma hoje é lucrativo porque a fusão das marcas Farm e Animale foi um processo que soube explorar as sinergias entre os dois negócios e harmonizar as culturas. “A Animale era maior que a Farm, com estrutura e gestão mais robustas. Mas a Farm tinha duas características interessantes: presença internacional, com colaborações com marcas estrangeiras e vendas nos Estados Unidos, e uma operação digital mais forte.”

O consultor afirma que processos de fusões e aquisições não são garantia de sucesso – mas o Soma conseguiu um saldo positivo de suas operações. “O crescimento por aquisição de marcas não é fácil de fazer, mas, no caso do Soma, deu certo porque foi feito de maneira estruturada, com gestão profissionalizada e uma visão estratégica de longo prazo mais consistente. A empresa era muito saudável, tanto é que depois se credenciou para o IPO.” 

A companhia também colhia frutos de uma digitalização avançada ainda antes da pandemia. Parte desses resultados é um sistema chamado “código do vendedor”, em que os funcionários ganham comissão por vendas online. “O Grupo Soma herdou um processo que a Farm fazia muito bem e que depois foi estendido para o grupo como um todo. Mais de 20% da venda total era online e, dessa porcentagem, grande parte era realizada por vendedores das lojas”, diz Serrentino. 

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Ganho de escala com a Hering

Com a aquisição da Hering, o Grupo Soma, que possui apenas marcas do segmento premium, entra em uma área na qual ainda não atuava: o de produtos que também conquistam o consumidor pelo preço. Além disso, o Soma terá de lidar com uma cultura que mistura varejo e indústria, uma vez que a Hering concentrava a maior parte de sua produção dentro de casa. A marca foi criada em 1880 e tem forte tradição fabril. 

A Hering tem potencial de escala muito grande, além de ter presença internacional e um alcance de mercado maior que o Grupo Soma, diz Serrentino. “Tem inclusive base fabril que pode ser usada para os outros negócios do grupo, que faz alguma produção internamente, mas tem muita coisa terceirizada. Então, a aquisição traz vários ativos. E, obviamente, cresce a musculatura do Grupo Soma.”

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O presidente do Grupo Soma, Roberto Jatahy, disse nesta segunda-feira, 26, que o potencial de mercado do conglomerado saltou de R$ 30 bilhões para R$ 110 bilhões, com a compra da Hering. "Isso mostra o novo potencial de crescimento que temos", diz Jatahy. "A Hering traz aumento de mercado potencial e complementaridade de marcas.”

Outro trunfo do Soma na negociação com a Hering foi o reconhecimento do legado da empresa de 140 anos. Jatahy garante que a marca Hering seguirá com independência. "Temos a vantagem de ter um CEO que traz a marca no seu sobrenome. Thiago Hering segue com independência na gestão da marca", afirma. / COLABOROU TALITA NASCIMENTO 

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