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Conselheiro de Bolsonaro compara Acordo de Paris a papel higiênico

Nabhan Garcia, líder ruralista e aliado do candidato do PSL, subiu o tom de suas críticas à limitação do desmatamento na Amazônia e ao acordo internacional para redução de emissões

Foto do author André Borges
Por e André Borges
Atualização:

BRASÍLIA - O líder ruralista Luiz Antonio Nabhan Garcia, aliado e conselheiro do candidato a presidente Jair Bolsonaro (PSL), subiu o tom de suas críticas à limitação do desmatamento na Amazônia e ao Acordo de Paris, que trata de compromissos para redução de emissões. Cobrado por representantes do setor sobre declarações dadas à imprensa sobre os temas, Nabhan Garcia voltou a defender o desmatamento na Amazônia e afirmou que o Acordo de Paris, “se fosse papel higiênico, serviria apenas para limpar a bunda”.

Em áudios obtidos pelo Estadão/Broadcast, gravações que chegaram a alguns representantes do setor produtivo, Nabhan Garcia, presidente da União Democrática Ruralista (UDR), afirma que se trata de uma resposta a um questionamento feito por Frederico Stecca, pecuarista de Goiás.

O presidente da União Democrática Ruralista (UDR), Luiz Antônio Nabhan Garcia Foto: FABIO MOTTA/ESTADÃO

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Na mensagem enviada ao pecuarista, Nabhan Garcia diz que nunca andou “às escondidas” e que sempre defendeu a ideia da fusão do Ministério da Agricultura com o do Meio Ambiente. O conselheiro de Bolsonaro afirma ainda que “o mundo quer tomar a Amazônia do Brasil”.

“Portanto, vamos deixar de hipocrisia, Frederico. Ora, que conversa é essa? Não é hora? É hora sim. É hora, sim, de dizer: a Amazônia é nossa, nós temos lei, nós temos um Código Florestal que, aliás, é nocivo à nossa classe porque, quem tem uma propriedade, comprou uma propriedade na Amazônia, e não pode abrir, porque 80% é reserva... Isso praticamente já é um desmatamento zero”, afirma. “Se eu tenho uma área de floresta na Amazônia, eu só posso abrir 20%. Agora, nós vamos ficar com essa hipocrisia desse Acordo de Paris, que não beneficia ninguém? O que que o Acordo de Paris traz de benefícios para nós, brasileiros, para o Brasil e para nós proprietários brasileiros? Nada!”

Mais adiante, Nabham diz que, como líder e representante da classe produtora, tem que expressar sua opinião. “Não vou ficar aí escondendo nada debaixo do tapete, simplesmente porque nós vamos ter eleição daqui a uma semana. Não! Essa é a posição dos proprietários rurais.”

Cotado para assumir como ministro em uma vitória de Bolsonaro na campanha eleitoral, o ruralista menciona ainda que não pretende ser ministro da Agriculta. “Eu não estou dizendo que vou ser ministro da Agricultura, nunca disse isso para ninguém. Se o Bolsonaro ventilou, chegou a cogitar isso aí algum dia, isso aí é uma questão que foi dele, uma iniciativa dele, eu não estou afim, não quero, não estou preocupado com cargo de ministro da Agricultura. Estou preocupado com o meu País, estou preocupado com a nossa Amazônia, estou preocupado com a nossa soberania, não estou preocupado com isso.”

Nabhan afirma que acredita que Bolsonaro fará mudanças efetivas no setor e que, por isso, tem de dizer quais são suas prioridades. “Se realmente vamos ter a mudança, e eu acredito que nós vamos ter a mudança com o Bolsonaro presidente, tem que mostrar, sim, quais as bandeiras que nós defendemos. Não tem que ficar quieto, igual fez a vida inteira o PSDB, igual fizeram a vida inteira muitos que ficaram aí debaixo do tapete, depois mostraram a grande decepção que nós tivemos nestes últimos 30 anos de Nova República.”

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O ruralista diz que o governo Bolsonaro terá de “mostrar claramente que a Amazônia é nossa” e que deverá seguir o caminho do presidente americano Donald Trump. “Está na hora de ser igual ao governo Trump... (Ele) pôs os Estados Unidos na linha, trouxe o progresso e o desenvolvimento de novo para os Estados Unidos e está cagando e andando para o Acordo de Paris”, afirmou.

O Acordo de Paris é um esforço internacional assinado por 195 países em 2015, para conter o aquecimento do planeta. Em junho do ano passado, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, exclui o País do acordo.

No fim de sua declaração, Nabhan diz que acordo tem o objetivo de atender apenas a interesses dos europeus. “Eles não fizeram a reserva legal... Vamos lá na Europa, vamos lá ver se tem as APPs (Área de Preservação Permanente) nas beiras de rio, ver se tem florestas nativas, vamos ver qual é o percentual que eles têm lá de florestas... Então, esse Acordo de Paris, para mim, se fosse papel higiênico, serviria apenas para limpar a bunda”, conclui.

Outro lado

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Questionado sobre as declarações dadas ao pecuarista de Goiás, Frederico Stecca, o presidente da União Democrática Ruralista (UDR), Garcia disse que não comentaria o que falou em grupo, mas que reiterava o que pensa sobre o Acordo de Paris.

“Eu não comento o que se fala em grupo. Eu não sei do que você está falando. O que é falado em grupo é em grupo fechado. Se eu estou comentando sobre o Acordo de Paris em grupo, o comentário que eu fiz em grupo é para o grupo, não é público. Mas eu reitero o que eu penso sobre o Acordo de Paris, se é isso que você quer ouvir”, declarou. “Esse Acordo de Paris não serve para o Brasil, não serve para o produtor rural.”

Nabhan repetiu que os países europeus não sabem, segundo ele, o que é reserva legal e que não possuem área de proteção permanente, como no Brasil. “Agora, eu vou entrar nessa demagogia de Acordo de Paris? Esse é um pensamento meu, presidente da União Democrática Ruralista, cidadão brasileiro. Pago meus impostos, estou falando em meu nome.”

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Sobre a declaração de que, se o Acordo de Paris ”fosse papel higiênico, serviria apenas para limpar a bunda”, Nabhan afirmou que a declaração é “uma coisa de grupo, uma coisa privada”. “O que eu falo em coisa privada, eu não tenho nada a comentar sobre isso aí. O linguajar que eu uso com amigo é um, o linguajar que eu uso com a imprensa é outro. Você quer fazer sensacionalismo?”, declarou.

“O que eu falei em grupo é problema meu e das pessoas que fazem parte do grupo”, disse. “Agora, papel, pra mim, serve para tudo, até para ser papel higiênico. Agora, o Acordo de Paris, pra mim, não passa de papel.”

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