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Conservadores de esquerda

Por celso.ming@grupoestado.com.br
Atualização:

O Movimento dos Sem-Terra (MST), os movimentos sociais que agem em defesa dos negros e o próprio Partido dos Trabalhadores (PT) são forças conservadoras que fazem reivindicações que, em última análise, são conservadoras. São incapazes de transformar a sociedade que pretendem transformar. Esta é a conclusão exposta ontem pelo sociólogo José de Souza Martins, da Universidade de São Paulo, no 4º Fórum de Economia da Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo. O Fórum, que termina hoje, tem por objetivo debater as atuais questões econômicas. Mas ontem a análise mais surpreendente não veio dos economistas. Veio de um sociólogo. Para o professor Martins, o MST é conservador não apenas enquanto originado e ainda visceralmente ligado à Igreja Católica. É conservador em suas principais bandeiras: defesa da família, da terra e do pequeno agricultor. O MST é conservador até mesmo na sua atuação na sociedade, na medida em que consegue êxito em organizar os desempregados das periferias das cidades e conter seu ímpeto, que, em princípio, poderia descambar para a bagunça social e para a violência destruidora (crime, tráfico, contrabando, etc.). De mais a mais, o MST contribui para dar um mínimo de instrução para essas massas, que, abandonadas à sua própria sorte, não chegariam a lugar nenhum. Por outro lado, a incapacidade das elites de entender a natureza do MST leva a reações repressivas que desembocam em becos sem saída. O argumento central da exposição do professor Martins foi o de que nem as elites nem o Estado apresentaram até agora soluções responsáveis para as populações que ficaram à margem da história do País. ''''Foi assim com as populações indígenas e mestiças libertadas do cativeiro em 1755 (...). E foi assim também com a população negra, libertada da escravidão em 1888.'''' Essa gente reivindica agora ''''políticas compensatórias'''' que descambam para ações sociais assistencialistas ''''que desfiguram as orientações sociais baseadas na concorrência e na competição''''. A reivindicação de definição de cotas de vagas para segmentos negros da população, além de esbarrar na falta de clareza sobre o que define, numa sociedade de mestiços, o que de fato seja um indivíduo da raça negra, apela para valores de cunho estamental, que contrariam a modernidade que pede a observância de princípios igualitários. O PT, observa Martins, é farinha do mesmo saco. ''''Sem a Igreja Católica, o PT não existiria.'''' Entende-se como um partido de esquerda e, no entanto, ''''tem uma visão pobre do que seja o Brasil, muito parecida com a dos partidos que condena e aos quais se opõe''''. Por isso, ao contrário do que pensa de si mesmo, o PT no governo se contenta com a adoção de políticas assistencialistas, incapazes de transformar a sociedade. O presidente Lula vai-se isolando do seu partido e não consegue apresentar para a sociedade mais do que a si próprio e seu inegável carisma. Será que eles sabem disso?

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