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Consignado escapa da freada do crédito

Em fevereiro, aposentados e pensionistas tomaram R$ 4,2 bi em novos empréstimos

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Por Márcia De Chiara
Atualização:

Só os aposentados e pensionistas da Previdência escaparam da freada do crédito. Em fevereiro, a única linha de financiamento que registrou aumento no ritmo de concessões foi a do crédito consignado dos beneficiários do INSS. Nessa modalidade de financiamento, onde o desconto da prestação do empréstimo é feito antes de o benefício chegar ao bolso do aposentado ou pensionista, houve acréscimo de 1,6% nos financiamentos aprovados. Segundo o Relatório de Crédito do Banco Central, em fevereiro os aposentados e pensionistas tomaram R$ 4,213 bilhões em novos empréstimos.

Enquanto houve um avanço, ainda que pequeno, no crédito para aposentados e beneficiários da Previdência, nas demais linhas de financiamentos voltadas a pessoas físicas as concessões deram marcha à ré, com recuos expressivos até mesmo nos empréstimos consignados para os trabalhadores do setor privado (-12,8%) e do serviço público (-4,5%).

“A demanda de crédito hoje é por dinheiro e não para consumo”, afirma o economista-chefe da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), Nicola Tingas. Foto: Divulgação

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De janeiro para fevereiro, a retração nos novos empréstimos atingiu também o crédito tapa-buraco, ou seja, aquele financiamento mais caro usado em situações de emergência. Nesse rol estão o cheque especial, que teve queda de 3% nas concessões, o crédito pessoal não consignado (-9,8%) e o cartão de crédito (-8,5%), com retração em todas as modalidades – à vista, rotativo e parcelado.

O tombo na tomada de novos financiamentos foi ainda maior nas linhas atreladas à compra de um bem. Em veículos, por exemplo, os novos empréstimos caíram 23,5%. Em outros bens, a retração foi de 17% em fevereiro ante janeiro.

“A demanda de crédito hoje é por dinheiro e não para consumo”, afirma o economista-chefe da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), Nicola Tingas. Segundo ele, o aumento da inflação, da taxa de juros e o desaquecimento do mercado de trabalho afetaram a capacidade das famílias de fechar as contas no final do mês. 

O Bradesco, por exemplo, onde os financiamentos destinados a aposentados e pensionistas do INSS respondem por 52% da carteira de crédito consignado, sentiu a maior procura dessa modalidade de financiamento por aposentados e pensionistas da Previdência. Hoje, cerca de 8,5 milhões de brasileiros recebem aposentadorias ou benefícios por meio do banco.

Segundo o diretor de Empréstimos e Financiamentos do Bradesco, João Carlos Gomes da Silva, dentre os três segmentos de crédito consignado – setor privado, público e aposentados – o que tem ampliado mais o volume de concessões é o consignado para aposentados e pensionistas do INSS. 

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Silva aponta dois fatores para essa maior procura, além da conjuntura mais apertada. O primeiro é o reajuste do benefício de 6,5% que houve em janeiro por causa do aumento do salário mínimo. O segundo é o alongamento do prazo do consignado dos aposentados de cinco anos para seis anos no fim de 2014. “Isso abriu margem de consignação.”

Ele conta que o crédito consignado cresceu 14% no ano passado e tem potencial muito grande de avançar este ano. “Nosso foco do crédito este ano está na pessoa física como um todo, mas teremos um trabalho forte no consignado”, diz Silva. A expectativa do banco é que o crédito destinado a pessoas físicas avance entre 8% e 12% em 2015 e o consignado supere essas marcas.

Além dos prazos mais dilatados e da correção no valor das aposentadorias – o que amplia a possibilidade de endividamento –, a maior procura pelo crédito consignado de aposentados e pensionistas é justificada pela taxa de juros menor comparada a de outras linhas. No Bradesco, por exemplo, os juros do consignado variam de 0,99% a 2,14% ao mês, teto estipulado pelo INSS.

No momento em que a economia entra em recessão, o crédito consignado é uma garantia para os bancos de baixo índice de calote nos financiamentos. É que, em caso de demissão, 30% das verbas rescisórias do empregado são reservadas para quitar o financiamento consignado. No caso dos aposentados e pensionistas, a inadimplência é praticamente nula e ocorre só no caso de morte do beneficiário.

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Garantia. A maior procura das famílias por crédito mais barato e em espécie aparece também no aumento da demanda por linhas de financiamentos onde um bem é dado em garantia para reduzir o juro. Na Omni Financeira, por exemplo, a linha de crédito que registrou maior avanço nas concessões entre janeiro e março foi o crédito pessoal com garantia de veículos, diz o vice-presidente da financeira, José Tadeu da Silva.

“O crescimento da linha de crédito pessoal com garantia de veículo foi de 10%, enquanto no CDC de móveis e eletrodomésticos houve um avanço de 8% entre janeiro e março e os financiamentos para veículos usados e cartão de crédito ficaram praticamente estagnados no período”, diz Silva, da Omni.

Em entrevistas feitas pela financeira com clientes, Silva diz que detectou que as pessoas que buscam essa linha de crédito, com juros menores, na faixa de 2,5% ao mês e prazo de quatro anos, geralmente estão interessadas em trocar uma dívida mais cara contraída no momento de aperto, no cartão de crédito ou no cheque especial, por outra mais barata. “Essa é a linha de crédito que mais cresceu até agora e deve registrar maior expansão até o fim do ano.”

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