O presidente da Azul, John Rodgerson, afirmou ao Estadão/Broadcast que uma consolidação no mercado de aviação brasileiro pode ser saudável e uma eventual aquisição de concorrente não enfrentaria resistência no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
"Não temos uma sobreposição tão grande de operações com a Gol ou a Latam e por isso avaliamos que o Cade poderia aprovar uma eventual fusão. Nossa posição estratégica no mercado é chave para isso acontecer", disse o executivo.
A Latam anunciou na noite de segunda-feira, 24, o fim do acordo de compartilhamento de voos (codeshare) com a Azul, que vigorava desde meados de agosto. Conforme apurou o Estadão/Broadcast, a Azul vinha tentando fazer uma oferta pela operação brasileira da concorrente. No entanto, o presidente da Latam Brasil, Jerome Cadier, negou as tratativas.
Rodgerson limitou-se a afirmar que a Azul está procurando oportunidades. "Acreditamos que o mercado de aviação poderia passar de três para dois players (concorrentes) e isso seria saudável." Ainda na segunda-feira, a Azul informou ao mercado que contratou consultores e está estudando ativamente as oportunidades de consolidação do setor.
Sobre fôlego financeiro para executar uma transação dessa magnitude, Rodgerson disse que o fato de as ações da Azul terem subido nesta terça-feira é uma demonstração de que os investidores continuam acreditando na empresa. "O que não falta no mercado é capital para financiar boas histórias e potenciais sinergias", disse.
Em nota, a Latam afirmou que o grupo "pretende competir agressivamente no Brasil e em outros mercados e não tem intenção de vender ou desmembrar" a operação local. Segundo o comunicado, o grupo "não recebeu qualquer proposta referente à aquisição" e que "o fim do codeshare não está relacionado com qualquer tratativa de compra da Latam Brasil."
Segundo apurou o Estadão/Broadcast, a Azul demonstrou interesse em comprar parte da Latam, mas não chegou a enviar uma proposta de aquisição formal. No entanto, a aérea brasileira estaria aguardando para fazer uma oferta pela concorrente, o que só deve acontecer após a apresentação do plano de Chapter 11 (equivalente à recuperação judicial do Brasil) aos credores nos Estados Unidos, prevista para ocorrer até julho.
Disputa acirrada
De acordo com uma fonte do setor aéreo, no curto e médio prazo existe pouco espaço para três empresas do porte da Azul, Gol e Latam atuarem ao mesmo tempo. "Os próximos dois anos serão difíceis para a Latam, que tem muitos voos internacionais. Espaço há para as três atuarem juntas nesse período, mas não é a melhor saída para rentabilidade e qualidade dos serviços."
Na visão do sócio responsável pela área de direito aeronáutico do ASBZ Advogados, Guilherme Amaral, o movimento de consolidação costuma ser "doloroso" para as aéreas. "Há muita competição no setor", diz. "A Azul é uma boa jogadora, se posicionou bem na pandemia e pode acabar se tornando a maior do País."
Segundo um analista que acompanha o setor em um grande banco, que prefere não ser identificado, os riscos para a operação brasileira da Latam "são grandes" e a empresa deve continuar queimando caixa de forma significativa nos próximos trimestres. "Se a Azul quiser comprar a Latam Brasil ou uma parte dela, há investidores dispostos a entrar nesse jogo", disse.
A fonte diz, entretanto, que a Azul tem vencimentos de dívidas mais curtos do que a Gol, por exemplo, o que pode obrigar a empresa a ir a mercado captar recursos para um eventual lance pela Latam Brasil. "Hoje, não vejo espaço para uma fusão no setor, tem sobra de capacidade no mercado", diz ele.