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Construção dá primeiros sinais de reação

Mercado imobiliário espera que os lançamentos em SP cresçam 10% neste ano, mas incorporadoras veem ‘recuperação’ com cautela

Por Douglas Gravas
Atualização:
Depois de ficar dois anos sem carteira assinada, o pintor Lucimauro conseguiu emprego em um residencial Foto: Nilton Fukuda/Estadão

O setor imobiliário começa a dar os primeiros sinais de reação. Mas, escaldadas, as incorporadores tentam achar o ponto de equilíbrio entre não ficar para trás, no momento em que a economia parece dar os primeiros sinais de recuperação, e nem repetir a euforia do excesso de lançamentos pré-crise. Desemprego, devoluções de imóveis e endividamento das famílias ainda preocupam, e as entidades da construção não esperam uma retomada sólida antes do ano que vem. 

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Para Flavio Amary, presidente do Secovi-SP, a crise levou as empresas do setor a reavaliar estratégias, mas a demanda por imóveis segue firme. “Como o ano passado foi muito ruim, a expectativa é que os lançamentos em São Paulo aumentem 10% neste ano.” A maior parte desses residenciais concentrada em padrão baixo ou médio.

O primeiro semestre foi de aumento nas vendas de imóveis, segundo a Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc). As vendas líquidas somaram 32.465 unidades, alta de 17,8%, e os distratos, 17.785 unidades, queda de 20%, ante igual período de 2016.

O representante comercial e sócio de uma cervejaria Caio Ranzatti, de 30 anos, e a designer de joias Bruna Fujino, de 28, estão entre os que compraram um imóvel. Eles planejavam alugar um apartamento ao se casarem, daqui a dois anos. “Vimos que a prestação não ficaria distante do custo da locação. A crise preocupa, mas não dá para viver em função dela.”

Na planta. A realidade do setor imobiliário, porém, é de um otimismo cauteloso: mesmo que os lançamentos superem os do ano passado, não há perspectiva de corrida aos estandes. 

Na MBigucci, os últimos dois anos serviram para comprar terrenos. “Boas oportunidades surgiram, para quando o País reaquecer”, diz Milton Bigucci, presidente da empresa, que deve ter dois novos empreendimentos neste ano. A construtora do ABC espera a recuperação progressiva das montadoras para lançar mais. Como um residencial leva de dois a três anos para sair do papel, as empresas olham horizontes de médio e longo prazos. “Vai ser preciso uma sequência mais longa de indicadores positivos. O setor não aguentaria um voo de galinha da economia”, diz o copresidente da Even, João Azevedo. A empresa, que tem R$ 5,3 bilhões em terrenos, planeja lançar só os projetos com mais potencial de venda. 

“Há muita demanda reprimida, que se resolverá com o tempo. A cautela é natural”, avalia João da Rocha Lima, do Núcleo de Real Estate da Poli/USP. O mercado, diz, ainda precisa queimar seus estoques – os imóveis lançados e não vendidos. 

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Alicerce. No mês passado, a construção civil registrou o primeiro saldo positivo de vagas em 33 meses, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), com 724 pessoas a mais empregadas, tanto em infraestrutura quanto no mercado residencial. Uma delas foi o pintor de fachadas Lucimauro de Carvalho, de 34 anos. “Foram dois anos sem carteira assinada. Vivi de bicos.”

“É um indicador importante, mas pontual. Temos uma ‘simbiose’ com o restante da economia: o setor depende do crescimento dos demais segmentos para respirar e o País só vai se reerguer quando a construção crescer”, diz José Carlos Martins, da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic). “Se tudo correr bem, a recuperação chegará à construção civil no ano que vem.”

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